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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Vísceras de anjos ... em directo!

Hugo Gomes, 04.04.25

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"Evil Dead Trap"... pelo título internacional sente-se um claro um aproveitamento da saga de Sam Raimi — e não só —, mas por via dessa memória donde se emborca este culto de Toshiharu Ikeda, realizador oscilante como o vento, entre o roman porno ("Angel Guts: Red Porno", 1981) e um cinema ainda mais adulto, e que nesta sua transição para o terror faz-se acompanhar por Hitomi Kobayashi, aqui em modo secundário, atriz oriunda desse cantinho de carnalidade e prazer materializado em tela efêmera.

Mas voltando ao filme, que em português adquire o curioso título de "Tóquio Snuff", tudo arranca num reflexo constante sobre o poder do vídeo e do caseiro — torturas e filmes snuffs encarados como macguffins, evidências irrefutáveis da existência de um serial killer faminto por mediatismo. É uma equipa televisiva que parte para o seu suposto abrigo, um canto remoto e abandonado daqueles que ao terror é o cenário mais convicto, onde esta entidade envolvida num constante “whodunnit” encapuzado, improvisa o estúdio como atelier para os seus ensaios filmicos de tortura.

Sente-se uma invocação extraviada ao fenómeno "Guinea Pig: The Devil Experiment" (o original de 1985 - até 1988 já existiam 6 sequelas e um especial making-of) e ao fascínio aí escarnecido, encarada como um passo à frente, um "terror moderno", condizente com o vocabulário do imediatismo e da manufacturação do vídeo enquanto produto partilhável e de fabricação própria (as barreiras transpostas nessa individualização do conteúdo). Mas "Evil Dead Trap" não faz dessas tripas o seu coração — promove-se como um jogo clássico de gato e rato(s), polvilhando o terreno do slasher e do giallo, cruzando subgéneros e conduzindo-se pela incoerência voluntária do argumento, este, mesmo com os devidos plot twists são meros peões sacrificáveis à estética, à atmosfera e ao carrossel de tendências e estilos.

Não importa ter coerência. O que importa é ser bruto, responder ao suposto "subgénero moderno do snuff exploitation" com mil e uma outras formas de exploração do terror, consolidando um pesadelo febril, violento, com grafismo e atração de circo — ou de televisivo … faz-se a escolha cuidadosa de palavras. Ikeda convoca a armadilha como crítica ao poder dessa “caixinha doméstica”, essa que, cada vez mais, gravita numa sobre-importância na vida do espectador — agora órfão do terror enquanto sala de espectáculo (convertido em telespectador). Afinal, o terror está acessível com um simples gesto: controlo remoto ou a configuração de um VCR. Portanto, o que adianta?

Escrito por Takashi Ishii — um dos cabecilhas da série violento-erótica a roçar a pornografia fetichista "Angel Guts" — e protagonizado por Miyuki Ono (mais tarde repescada para ilustrar o Japão de Ridley Scott em "Black Rain"), "Evil Dead Trap" regressa em tomo 2 e 3 (este último novamente com direção de Ikeda), como fruto do sucesso inicial.