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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Uma "correcta", mas saborosa iguaria!

Hugo Gomes, 14.06.14

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"Por vezes o comboio errado leva-nos à estação certa", diz uma personagem a certa altura do filme. Sendo verdade que esta frase sobre acidentes e as suas consequências felizes apelam à essência exposta deste “The Lunchbox” de Ritesh Batra, aquele que é para muitos o melhor que veio da Índia em termos cinematográficos nos últimos anos. Ou estaremos nós - ocidentais escravos da importação - a exagerar?

Um pequeno hype apoderou-se desta nova produção da terra do caril, um delicado e terno romance que se forma através de acasos, neste aspecto numa troca acidental de "marmitas", despertando na antissocial personagem de Irrfan Khan (“Life of Pi”) o afecto quase proustiano. Depois deste fruto do acaso, segue-se uma espécie de amor por correspondência e aí o espectador é motivado a integrar nas ênfases dramáticas de ambos os lados, duas "margens" onde a morte soa como similaridades mas é na esperança no amor que verdadeiramente os une.

Temperado com um toque agridoce, “The Lunchbox” afasta-se claramente dos lugares charneiros de Bollywood (deve-se salientar a sua influência exterior como co-produção, com envolvimentos da França, Alemanha e EUA) e se lança em outro território conhecido ao grande público, o do mainstream globalizado (culturalmente focado, mas identitariamente diluído na universalidade). Todavia, é verdade que o revisitar pelo romance cinematográfico se faz da maneira mais deliciosa que o pressuposto e a crescente exploração de ambas personagens principais a descola dessas banalidades.

Sim, há que confessar que “The Lunchbox” é "bonito" de se ver e especial de se sentir, o compromisso da fábula romântica em constante vénia ao quotidiano da cidade de Mumbai, sem com isso resumir-se a um dito filme de "costumes". Mas nem tudo são "rosas", apesar da temática do filme ter como apoio os contornos "afrodisíacos" da gastronomia indiana, nunca a explora como devido e a banda sonora tende em ser repetitiva e de persuasiva acentuação na emoção dramática.

Enfim, passando à frente, temos aqui interpretações de alto calibre (destaque principal de Nimrat Kaur), personagens para se amar (a inteligente opção de colocar uma personagem "invisível" mas igualmente presente), uma fotografia plena e uma história que se auto-esculpe como um "conto de fadas". “The Lunchbox” tem estofo para ser o melhor filme "correcto" do ano, a aquisição do classicismo (sem com isso, contentar-se com o formatado) que a Índia merecia mas que raramente procura.