Uma comédia "à francesa" com hora marcada
Some of the best writing in New York won't be found in books, or movies, or plays, but on the benches of Central Park. Read the benches and you understand”
Uma comédia romântica nova-iorquina que se poderia figurar nos velhos costumes desse estilo tipicamente norte-americano, se não fosse o facto de este tentar, a todo o custo, não pertencer ao exacto leque. Não com isto, maioritariamente, insinuar que “5 to 7” é o novo "grito" do romance cómico, nem a redescoberta dos EUA aos códigos-referenciais da Nouvelle Vague do outro lado do Oceano, como o protagonista parece depositar como prova do seu estado de espírito. Não, trata-se de todos os casos de um, mas um exemplar remendado por diferentes tonalidades que nos fazem inspirar, cativar e até mesmo apaixonar pelo platónico dos amores.
Conduzido por uma simplicidade vestida de seda, fina e reluzente, o novo trabalho de Victor Levin leva-nos ao encontro, literalmente dito, de um jovem novelista e de uma requintada mulher francesa, casada e progenitora de dois "rebentos". Um adultério descrito sob uma isenção de pecado, aliás, esta relação é ritualizada como uma espécie de aventura swing, comprometida e regida sob um número de regras, entre elas a duração destes encontros amorosos, tal como o título sugere (e “apropriado” da tão famosa obra de Agnès Varda), perduram das 5 às 7 da tarde. O jovem e sempre talentoso Anton Yelchin preenche esse tratado ao lado da expressiva Bérénice Marlohe (que fora vista como uma das bond girls de “Skyfall”), e os dois completam-se numa ternura que parece evocar delicadeza para fora do ecrã.
A verdade é que Victor Levin soube criar uma química gestual no par, os seus rituais transcrevem como aspirações a alguns momentos dignos da vaga cinematográfica francesa e de alguns maneirismos destes adaptadas ao modelo quase citado por um Woody Allen. Poderia se afirmar que estamos perante no melhor de dois mundos, mas “Das 5 às 7” é demasiado modesto para isso, uma modéstia de certa forma exemplar comparativamente com os seus congéneres produtivos. Simpático e cinematograficamente romântico, a fita de Victor Levin só possui um problema que o condena desde o seu início, a vontade de seguir por uma análise à natureza das relações e constituir a analogia destas para com a sociedade ocidental, juras incumpridas que nos levam a um burlado choque cultural (onde os franceses são excessivamente vistos como espíritos livres e libertinos) e as cedências para a sua veia mais quixotesca, no teor romântico da palavra … é claro!