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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Um filme à escala de Ritcher

Hugo Gomes, 10.10.24

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Mais do que um filme de “cinema do meio”, descrito na crítica de cinema legitimada, como algo sem sabor de carne nem de peixe (não é “autoral”, nem “comercial”), é negar as potencialidades do cinema português prestar-se ao debate pós-visionamento. 

O Melhor dos Mundos”, de Rita Nunes, longe de ser o exercício mais cientificamente coerente, é um dos poucos que anseia despoletar um falatório entre os espectadores, enquanto induz uma “memória coletiva”, hoje inserida no ADN histórico-cultural de Lisboa, a do Terremoto de 1755 (Voltaire fez questão de remexer nessas feridas ainda abertas) e a eventualidade de um novo de iguais ou maiores proporções, e o constante medo da incerteza que paira nesta cidade em constante mudança. 

E Nunes não nos mente quanto à intenção, se por um lado no anterior “Linhas Tortas, conduzia por via de um tímido romance a reflexão ao papel das redes sociais na individualidade e identidades (sejam as sociais ou “avatarizadas”), aqui, com feitos de ficção-científica, bem contido de histrionismos é verdade, impõe o seguinte abalo; com sinais de forte possibilidade de um sismo, será ético evacuar uma cidade de milhões, tendo a consoante, e forte, de os cálculos falharem na previsão? É um jogo de consequências, de decisões e de determinações, que partem a meio um gabinete científico a horas envergonhadas da madrugada, entendendo-se como um conflito à la Dr. Strangelove”, só que o amor declarado e disparatado à bomba é substituído pelo desejo de uma nova transformação citadina, a da influência do desastre natural que nos assombra ser o marcador de uma nova era. 

Rita Nunes faz o pretendido sem ambições a mais do que causar impacto num futuro debate, mais do que “filme-catástrofe”, é o “e se fosse consigo” com astúcia, credibilidade discursiva e com um invejável “know how” em dirigir-se às audiência mesmo sob orçamentos limitados. Não o reduziremos a “cinema do meio”, e sim, a alternativa das alarvidades que o dito ‘comercial assumiu como consanguíneo da televisão e do escapismo cerebral.