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Três pontos de alma em Indiana Jones

Hugo Gomes, 28.06.23

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De fedora e chicote em punho, acompanhado pelo célebre tralálá sonoro, o single de muitas infâncias e aventuras imaginárias, Harrison Ford assumidamente envelhecido leva-nos ao choque das nossas memórias, é nostalgia em bruto que reina aqui. Bom pacote para as audiências, e igualmente uma incerteza do que poderemos esperar das nossas recentes produções … 

Com “Dial of Destiny”, o quinto feito do popularizado arqueólogo / mercenário (há tanta veia nele), três questões me perseguiram ao longo das duas horas e meia de jornadas pelo “macguffin da semana”. A primeira, como havia beliscado, é esta lógica de nostalgia mercantil (um sintoma da escassa criatividade in local). Ora, revisitar passados não é um ato altamente condenável e, como aconteceu em alguns casos, poderia servir como atualização ou upgrade desse mesmo legado. Trago à memória “Top Gun: Maverick”, que para além da sua gulosice saudosista é uma aprimorado técnico, altamente físico do episódio pop de 1986. No caso de “Indiana Jones”, a sua persistência leva-nos defronte a uma construída fórmula, consciente ou acidentada (tal propósito entra na moral do seu realizador). 

Segundo ponto, é a deserdação do material. A Lucasfilm parece ter vendido a alma ao Diabo (neste caso Disney, sem sentido pejorativo, somente figurado), depois de “Star Wars”, o mais importante franchise da produtora, ter sido arrancado das unhas de George Lucas e transformado num universo (ainda mais) expansivo, emancipado do seu próprio criador, e aí sim, deparamos com uma formalização do formato (no caso interestelar, um formato sobretudo anónimo). Já “Indiana Jones”, agora órfão de Spielberg, que depois do amontoar de críticas ao quarto e infame filme (subvalorizado nesse registo de entertainment), segue para a batuta do muito competente James Mangold (nisso não há que negar ). O resultado é uma espécie de copycat às façanhas spielbergianas das aventuras anteriores, sem com isto criar algo personalizado ou distinguível dos restantes (aliás, a mando dos responsáveis da 'herança', não sairemos dos trilhos familiares). Realização competente para efeitos de “blockbuster”, coloquemos a ‘coisa’ neste prisma, porém, a competência por competência resultará num prolongado vazio (mas o que se há de fazer?). 

Terceiro ponto, talvez o mais pertinente, é o esmiuçar na tendência secular de Hollywood em não perdoar o envelhecimento, ou como neste caso ostentando jigajogas para retardar essa mesma inevitabilidade, seja por vias do facilitismo do CGI sob o código de-aging (medonho e artificial Harrison Ford rejuvenescido naquele prólogo), ou na reforma cada vez mais interdita, como esperado, o filme acena a futuras continuações (aquele plano final, o melhor de toda a obra salienta-se), e como temos visto no primeiro ponto, com ou sem Ford a “vaca voltará a ser ordenhada”. Em Hollywood não há exclusividades, tudo e todos tem um preço!

Mas a questão de interesse ao leitor é se vale ou não a pena ver o “novo” Indy, como se a resposta desta parte condicionasse a ida a um cinema ou contrariasse os milhões de marketing investido até então. “Indiana Jones and the Dial of Destiny” é um modelo arqueológico de aventura cinematográfica, fascinado pelo exotismo à lá americana, restaurada e remodelada à vontade destes novos tempos. Temos Harrison Ford, temos Mads Mikkelsen e temos a Phoebe Waller-Bridge, sem dúvida alguma não sairemos defraudados nesse aspecto. Agora, esperar pela evolução do espectáculo, isso sim, é outra conversa …

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