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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Toda a vida tem um preço!

Hugo Gomes, 04.05.14

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Quanto é que valerá uma vida humana para as seguradoras? Um sentimento? Um gesto ou um acto? Talvez apenas meras probabilidades para o cálculo matemático de um "bem maior" - a dita indemnização e o seu preço. E é sobre esse pretexto que surge “Il Capitale Umano”, baseado no homónimo livro de Stephen Amidon e adaptado por um realizador acostumado a comédias populares - Paolo Virzi - uma fita que emaranha o thriller num tom descontraído, porém, ao contrário do seu objectivo de crítico, não é inerte às emoções das suas personagens.

Centremos-nos na história de duas famílias que representam duas classes sociais distintas e interligadas através de um misterioso acidente, o grande atrativo da sua narrativa, exposta como um exercício de género. São três capítulos envolvente a três perspectivas diferentes, sendo que cada uma delas desvenda à sua maneira a intriga "sequestrada" por um "whodunit" premiado. E é sob o olhar dessas cruciais personagens da trama que “Il Capitale Umano” torna-se inerentemente diversificado, tecendo estilos, teores e todo um conjunto de ênfases dramáticas e cómicas equilibradamente conjugadas. Mesmo tendo como principal atração e interesse a maneira como a narrativa é exposta, as interpretações são uma mais valia neste conto de sinistro, gerando personagens complexas que nos fazem amar, odiar e até julgar. Nesse aspecto vale a pena sublinhar os desempenhos de uma frágil Valeria Bruni Tedeschi (“5X2, “Munich”) e de Fabrizio Bentivoglio (“Scialla!”), como o sujeito que queremos a todo o custo evitar.

“Il Capitale Umano” é assim um drama trágico-cómico que nos remete ao “valor da vida humana”, interceptando o oportunismo e salientando de maneira interveniente o processo de cálculo das antagónicas seguradoras. O relatório-simbólico é antes de mais um filme cativante, elaborado e plenamente construído. Vale a pena entrar nas encruzilhadas de “Il Capitale Umano”.