Seguindo messias!
Por cada obra que Paul Thomas Anderson produz, uma nova viagem é feita á chamada “Outra América”, uma América longe dos panfletos político-sociais de “terra oportunidades”. Aqui assistimos um país fragilizado, traumatizado e acorrentado, que tenta liberta-se perante falsas ideologias que contrastam com uma sociedade algo rígida em termos modelares. The Master poderia resumir a um retrato sob “cicatrizes de guerra” mas se desenvolve como a busca do protagonismo ao seu elo perdido através de um culto que se denomina por A Causa. Esta não é a primeira vez que Paul Thomas Anderson aborda a influência e manipulação religiosa nos seus filmes, já havia feito em There Will Be Blood (2007), onde a personagem vencedora ao Óscar de Daniel Day-Lewis encontra num culto de um cidade remota a oportunidade para influenciar os seus habitantes a aprovar a sua crescente exploração de petróleo, mas neste The Master tal abordagem surge em primeiro plano.
O novo filme do realizador do aclamado Magnólia (1999) é uma prova viva de um excelente trabalho de câmara, centragem de planos e de fotografia, Paul Thomas Anderson é deveras perfeccionista a transmitir essas vertentes técnicas, visuais e decorativas, mas acima de tudo é um dos melhores autores de actores de que há memória no cinema norte-americano. Joaquin Phoenix, cuja carreira esteve por um fio devido á sua “brincadeira de mau-gosto” em I’m Still Here de Casey Affleck, um mockumentario (falso-documentário) onde o actor simula um fim do seu trabalho de interpretação, em The Master o seu desempenho é fenomenal, construindo um personagem fascinante e imprevisível aos diversos níveis, ora agressivo onde devia ser sentimental, ora amoroso de forma repentina e instantânea. Phoenix presta alma a um fragilizado e psicologicamente desequilibrado veterano da Marinha, que serviu a sua nação na Segunda Grande Guerra, porém dispensado do serviço militar devido aos seus evidentes problemas. Para além disso, Paul Thomas Anderson reproduz em Joaquin Phoenix, um dos mais fascinantes e violentos retratos da dependência alcoólica.
É o protagonista que serve de fio condutor para que o espectador conheça “A Causa”, o culto representado na fita o qual o realizador afirmou ter baseado na Cientologia. Através de coincidências e situações que roçam a incredibilidade divina, o protagonista tal como o espectador são gradualmente abraçados por esta “seita” religioso-idealista comandada por Lancaster Dodd, um brilhante e altamente carismático Philip Seymour Hoffman. Depois de apresentado o cenário fílmico de The Master, a narrativa se concentrada não nas peregrinações divinas na “A Causa”, mas sim na ajuda desta para com a personagem Joaquin Phoenix, e é a partir daí que começamos a sentir simpatia por este movimento.
Mesmo sob o conceito iludido, Paul Thomas Anderson vai tecendo gradualmente e discretamente uma ácida critica à natureza do culto, mas no fim acaba por sublinhar a sua verdadeira intenção, afirmar os espíritos livres e insubmissíveis como é o caso de Joaquin Phoenix, não só como personagem, sendo que talvez a escolha deste para o papel principal não tenha sido mera coincidência. The Master é um filme altamente divino, a reafirmar um dos maiores autores do cinema norte-americano moderno. Imperdível!
“If you figure a way to live without serving a master, any master, then let the rest of us know, will you? For you'd be the first person in the history of the world.”
Real.: Paul Thomas Anderson / Int.: Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern
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