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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

A balada do Homem do Leme neste Circo de Feras

Hugo Gomes, 29.07.20

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Despedimos de José Pedro Amaro dos Santos Reis, mais conhecido entre nós como Zé Pedro, em 2017, a partir daí, para além da saudade deixada em familiares, amores, amigos e fãs, surgiram enésimos e enésimos tributos prestados à sua figura. Para o mais cético, todo este movimento que cultua o guitarrista da banda de sucesso “Xutos e Pontapés” não é mais que um mero exagero de vista para o oportunismo, porém, a persona por detrás dos acordes de “Não Sou Único” e “Circo de Feras” revelou-se ser uma das peças centrais da História do rock português.

No documentário de Diogo Varela Silva (realizador de “Celeste”, sobre a fadista Celeste Rodrigues, e produtor de “O Ornitólogo”, de João Pedro Rodrigues), é possível esclarecer as dúvidas quanto à sua influência. Zé Pedro encarava a vida com uma ambição inabalável, de sorriso exibido e com amor à música para dar e vender. O filme inicia, previsivelmente, na sua infância “salta-pocinhas” devido à carreira militar do pai, com paragens obrigatórias no seu despertar musical (aos 16 anos escrevia críticas a álbuns) e na sua tremenda coleção de bilhetes de concertos e eventos. Pelo meio deparamos com a história a génese da banda que o consagrou, “Xutos & Pontapés” (anteriormente e efemeramente intitulado de “Beijinhos & Parabéns”), do bar que geriu com Alex Cortez (baixista de "Rádio Macau”) – Johnny Guitar – que tornaria num dos principais focos de inspiração musical de Lisboa na década de 90, e ainda as suas aventuras na rádio, uma rúbrica do qual este filme apropria o título.

Está tudo em “Zé Pedro Rock’n’Roll”, das tragédias às memórias, embrulhadas num gesto de carinho e de recordação com base em testemunhos (os "talking heads" tão habituais neste tipo de registo) ou material de arquivo. E com a sua alma e iluminação, as palavras do homenageado, recolhidas em entrevistas, intervenções e até confessionários de palco, preenchem este documento que tão bem alimentará a saudade dos fãs.

Por se tratar de um tributo com carácter amistoso e fúnebre, não deslumbramos uma obra que se sustenta por si própria. Não existe uma intenção de explorar ou ir mais ao fundo nas nas questões que formaram a "persona" de Zé Pedro que é constantemente descrita e citada. É uma esquematização do seu percurso com o auxílio dos amigos cúmplices.

Zé Pedro é claramente o vulto que está a ser comemorado, num filme que não vai mais além disso, e por isso mesmo, conquista à primeira. É humilde, sem pretensões para estetizar ou “sujar as mãos”. Nesses termos funciona como um réquiem alegre e sintetizado com os seus acordes. Ou seja, aqui não se defraudam familiares, amigos, adeptos e curiosos, nem sequer aqueles que anseiam conhecer um pouco mais de quem chegou a ser eleito numa sondagem um dos portugueses mais queridos...