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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Hollywood Clássica, oficialmente extinta

Hugo Gomes, 26.07.20

No inicio do mês comemorou os 104 anos … idade invejável não é? O fim chegou! Olivia de Havilland morreu e com ela todo um Cinema, que a partir de hoje declaradamente, extingui. O último rasto … a última lenda viva da Hollywood de ouro.

Olivia de Havilland (1916 - 2020)

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The Heiress (William Wyler, 1949)

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The Private Lives of Elizabeth and Essex (Michael Curtiz, 1939)

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Gone with the Wind (Victor Fleming, 1939)

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Olivia de Havilland e Basil Rathbone nos bastidores de "Robin Hood" (Michael Curtiz & William Keighley, 1938)

Um dia foi "Ben-Hur"

Hugo Gomes, 31.08.16

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Ben-Hur (Timur Bekmambetov, 2016)

Não, de maneira nenhuma precisaríamos de outra versão cinematográfica de "Ben-Hur", a história ficcional cruzada com um dos mais importantes capítulos bíblicos, mas visto que temos que “gramar” com mais um … cá vamos então! Tudo começou com um livro escrito pelo devoto General Lew Wallace que chegou ao grande ecrã, pela primeira vez, em 1925. Durante o espaço (desde a sua criação literária a este “embrião” de épico que assistimos em 2016), surgiu a epopeia de 1959, um colosso filme de William Wyler que revelou-se numa mostra de grandeza de uma Hollywood agregada a majors e produções sem precedentes. 

Protagonizado por Charlton Heston, que viria a tornar-se no galã de épicos de longo fôlego, esse “Ben-Hur” fez História dentro do circuito cinematográfico da altura, arrecadou uns impressionantes 11 Óscares, um feito que seria mais tarde “batido” por James Cameron e o seu trágico naufrágio ao som de Celine Dion. Obviamente que este novo “Ben-Hur” não irá triunfar com a mesma dezena de estatuetas (uma piada fácil que fora optada pela imprensa norte-americana), porém, seria de esperar um outro tipo de tratamento em relação às tão famosas adaptações. 

Sim, heresias à parte, este equívoco de Timur Bekmambetov é o mais tolerável das versões cinematográficas por um simples facto – é em comparação com os outros três o menos evangélico, cristalizado, e o mais ambíguo no que requer ao retrato “demonizado” dos romanos, os perfeitos antagonistas e … pagãos, como é referido no filme de 1925. Claramente, que essa faceta “humanitária” deriva de um século (hoje vivido), em que questionamos e pensamos sobre o fundamento da religião e das ideologias dos de crença oposta. Nesse termo, são pequenas as provocações (tal como sucedera em “Exodus”, de Ridley Scott), mas é evidente que esta tentativa de afastar-se o quanto possível do cristianismo intolerante das obras anteriores é, não um feito, mas um esforço que faz com que “Ben-Hur” seja readaptado às mais diferentes audiências. Aliás, esse vetor de pensamento é evidente no, por fim, vislumbre de Jesus Cristo (aqui interpretado por Rodrigo Santoro), uma figura ocultada pelas produções anteriores porque simplesmente seria blasfémia atribuir uma cara ao Nazareno em uma história ficcional do século passado. 

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Ben-Hur: A Tale of the Christ (Fred Niblo, 1925)

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Ben-Hur (William Wyler, 1959)

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Ben-Hur (Timur Bekmambetov, 2016)

Todavia, vamos ser sinceros, mesmo que fraudulento e movido com a maior das preguiças (a edição é uma lástima), este “Ben-Hur” ganha aos pontos à adorada versão Wyler pela naturalidade (ou pela aproximação) nos desempenhos. Afastando-se do exagero overacting, e do charlatão Charlton Heston. Mas perde, novamente na comparação, no ponto menos improvável – qualidade de produção – “Ben-Hur” de 1959 continua imbatível nesses termos; numa realização orgânica, uma edição monstruosa e quase sem falhas (a corrida continua, depois destes anos todos, no auge da ação cinematográfica) e os cenários construídos que atribuem uma textura impressionável. Agora, com o de 2016, face aos avanços tecnológicos, temos um produto estival, demasiado corriqueiros e igualmente desastrado. Quanto à famosa e mortal corrida no coliseu … nada a fazer … uma sequência “engasgada” onde ninguém parece perceber bem o quê. 

Certamente, não iríamos apostar num “novo clássico”, mas o filme de Timur Bekmambetov não deixa dúvidas – o épico morreu em Hollywood – e ninguém parece importar com qualidade produtivas (atualmente o único a operar efetivamente em grandes produções hollywoodianas é Christopher Nolan, fica a provocação). Uma afronta para atores (Toby Kebbell condenado a outro “flop” de Verão), aos envolvidos (penso que ninguém se orgulhará proclamar que fez parte da produção) e ao público que cresceu a “venerar” a versão de William Wyler e que encontra aqui um tremendo e prolongado videoclipe narrado por Morgan Freeman. Ah! Já me ia esquecendo, quanto à evangelização, este “Ben-Hur” tem outro ponto contra, possui o final mais moralmente “tosco” das mencionadas três versões.