Quem é que acordou Nolan hoje?
Depois de ter captado a atenção com a premonição de radicalização política em “Son of Denmark” (2019), o realizador dinamarquês Ulaa Salim aventura-se na ficção científica com tons introspectivos numa expedição ao interior de uma fissura oceânica, narrativamente dividida em três capítulos / três atos [Eternamente Jovem, o Núcleo, Eterno], tentando estabelecer uma filosofia em camadas, e igualmente piscando o olho às audiências mais generalizadas e às mesmas que confundem o transcendente com a complexidade humana. É uma espécie de “e se”, entre física e exploradores, amantes por um dia e arrependimentos que o encaminharam por cruzadas ao conhecimento e nessa prática ao desconhecido questionam a sua própria existência.
Há algo de romântico na forma como a ficção científica é tratada nos dias de hoje, muito graças aos Nolans’ e aos seus “filhos”, que procuram expulsar o científico da sua esfera tradicional, colocando-o em um contexto permeado por paradoxos espirituais e esotéricos, isso, refletindo um tempo em que a Ciência, propriamente dita, é colocada ao mesmo nível da crença e questionada nesse prisma, ou seja, entendida a um ponto antropocêntrico (neste caso, a alteração climática é descartada a favor de uma relação). “Eternal” (“For evigt”), esse filme que contrai um código universal, é um “blockbuster” em menor escala, respeitando línguas, nacionalidades e a ordem do mundo, relembrando fragrâncias de outros exemplares reconhecíveis do género e da dimensão. Ora, se pequenas “maliquices” pontuam os mesmos “rodriguinhos” - família, amor, legado, possibilidades - ora o contexto Nolan, mais concretamente “Interstellar” e a sua lavagem decifrada quanto à sua inspiração de raíz [“2001: A Space Odyssey”], o conectam a uma espécie de esboço e de interações com paradoxos temporais.
Por outras palavras, Salim está confinado a uma estética e a uma visão que se reduzem a uma espécie de "Nolan temporário", um prato alternativo, ineficaz enquanto objeto científico, e demasiado revisada enquanto ensaio sobre a condição humana.
Roterdão: Big Screen Competition