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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Room Service!

Hugo Gomes, 09.06.20

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Chambre 212 (Christophe Honoré, 2019)

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Anomalisa (Duke Johnson & Charles Kaufman, 2015)

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The Best Exotic Marigold Hotel (John Madden, 2011)

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Don't Bother to Knock ( Roy Ward Baker, 1952)

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Four Rooms (Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez & Quentin Tarantino, 1995)

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The Grand Budapest Hotel (Wes Anderson, 2014)

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Home Alone 2: Lost in New York (Chris Columbus, 1992)

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1408 (Mikael Håfström, 2007)

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2046 (Wong Kar-Wai, 2004)

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The Shining (Stanley Kubrick, 1980)

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Some Like It Hot! (Billy Wilder, 1959)

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Room 304 (Birgitte Stærmose, 2011)

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The Bellboy (Jerry Lewis, 1960)

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The Million Dollar Hotel (Wim Wenders, 2000)

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Chelsea on the Rocks (Abel Ferrara, 2008)

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Hotel (Jessica Hausner, 2004)

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Love Steaks (Jakob Lass, 2013)

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Mekong Hotel (Apichatpong Weerasethakul, 2011)

Chop suey ...

Hugo Gomes, 15.02.14

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“Tales from the Dark”, baseado em pequenas histórias escritas pela popular escritora Lilian Lee, é o conjunto de três perspectivas de três realizadores em relação a uma sociedade com clara intimidade com o mundo sobrenatural e espiritual.

Nesta viagem, coordenada por Simon Yam, Chi-Ngai Lee e Fruit Chan, o espectador é convidado a integrar uma visão oriental do fantasma e do purgatório que os envolve. Mesmo sendo uma proposta no fundo interessante, sabendo que o género terror / thriller atrai os diferentes aficionados, “Tales from the Dark” é um puro desequilíbrio. Não somente porque os três atos da antologia diferem de qualidade e ritmo, mas como todas estas partes apresentam um certo amadorismo de produção, realçado pelas intenções que segundo o velho ditado: “o inferno já se encontra cheio”.

E assim começamos com “Stolen Goods”, o primeiro trabalho de realização do ator Simon Yam. O início deste segmento é um impacto quase térmico para o espectador ocidental, onde este é confrontado com uma visão folclórica e por vezes surreal dos ditos fantasmas no quotidiano. Depois desta introdução a um mundo paranormal completamente à parte da fórmula hollywoodesca, “Stolen Goods” explora a história de um “velho louco”, desempregado que aspira dinheiro e que para isso decide usufruir literalmente dos mortos, assaltando cemitérios e “sequestrando” urnas para eventuais chantagens aos familiares e entes queridos. Simon Yam tenta incutir uma atmosfera sinistra, o que para além de não conseguir ainda o leva a perder-se por opções diretivas que anulam qualquer efeito das suas sequências. Depois é uma narrativa que se perde nas suas linhas cronológicas, por outras palavras, nos flashbacks, e na composição dos seus personagens e nos diálogos pobres e por vezes sem sentido. Em termos de argumento e de concepção este é o mais fraco dos três capítulos, e sendo o início da antologia não favorece todo o comité de boas-vindas.

A segunda curta é apelidada de “A Word in the Palm" e dirigida por Chi-Ngai Lee. Neste ato somos remetidos a um ambiente de esoterismo e médiums, e uma equipa especializada em tentar lidar com um curioso caso de vingança e assombração. Composto de forma descontraída e aspirando ao “buddy movie”, “A World in the Palm” consegue incutir interesse derivado ao humor que contém e da química e carisma dos atores Tony Leung Ka Fai e Helly Chen. Infelizmente, esta história tende a soar a amadorismo visual e na concepção, demonstrando a realização de Chi-Ngai Lee algum cansaço durante a narrativa e acima de tudo um certo desleixo.

A terceira e talvez a mais eficaz das três partes é o ato realizado pelo aclamado Fruit Chan, que apresenta um ritmo e firmeza na narrativa. Para além disso, este foi dos três realizadores o mais sortudo, ficando com o mais criativo e místico capítulo da antologia. “Jing Zhe” (título da curta) leva-nos a uma tradição antiga e respeitada na China, o “Vencer o Vilão”, algo equivalente a “pragar”. Este processo que tem como intuito o de amaldiçoar quem se deseja em nome da vingança é a união entre o passado e o presente, os mortos e os vivos. No centro deste ritual sombrio mas popular surge a vingança mais improvável, a de quem supostamente não possui essa oportunidade. Jing Zhe é descrito pelo suspense que prolonga e pelo bom uso de câmara de Chan, todavia, sendo uma curta tende em “movimentar-se” entre “colagens forçadas” e um desfecho apressado e forçado.

Com isto, e mesmo sendo o mais capaz de todos os atos da antologia, não é suficiente para conseguir resgatar “Tales from the Dark" da mediocridade, nem sequer conseguido equiparar-se ao terror dos anos 80 de Hong Kong que era o visado. “Tales from the Dark” foi selecionado como o filme de abertura da edição de 2013 de New York Asian Film Festival e apresentou no mesmo ano uma sequela onde são os realizadores Lawrence Ah Mon, Gordon Chan, Kelvin Kwan e Teddy Robin Kwan os “guias” nesta entrada ao sobrenatural.

O mestre dos mestres

Hugo Gomes, 05.01.14

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Segundo Wong-Kar Wai, “The Grandmaster” foi até à data o seu projecto mais ambicioso e árduo, tendo levado cerca de 10 anos a ser concretizado. É também nas suas palavras que entendemos o quão pessoal é este filme, ainda que afirme que mesmo não sabendo nada de artes marciais, cresceu num quotidiano rodeado por essas escolas, chegando a ter contacto com o próprio Ip Man, a figura a qual presta aqui tributo.

Célebre mundialmente por ter tido como discípulo o ícone Bruce Lee, o mestre Ip Man tem-se afirmado últimos anos como uma lenda contemporânea, uma ligação entre uma China secreta e mística e uma China exposta, na qual as artes marciais proliferam, nomeadamente o kung fu, na sociedade moderna. E talvez seja nessa ligação que Wong-Kar Wai se baseia para a concepção deste filme semi-biográfico.

“The Grandmaster” concentra-se num retrato algo “artesanal” de uma transição de épocas, onde visualizamos tempos negros e clandestinos onde o kung fu era a arma predilecta das tríades e a herança das mais poderosas famílias da China, tudo isto dando lugar à decadência do misticismo e tradicionalismo em prol da modernidade (ou em todos os casos a globalização como inimigo comum de um estilo de vida). Toda esta abordagem social prevalece à própria biografia, afastando-se assim do mais comercial e bem sucedido “Ip Man” de Wilson Ip, onde o ator Donnie Yen reavivava esta personalidade para o cinema. O grande Ip Man foi obviamente uma figura que perdurou e se readaptou a essa tal transformação social, uma atmosfera de mudança onde Wong-Kar Wai consegue envergar a sua matriz narrativa, infelizmente enfraquecida pelo estilo quase esgotante que o autor incursa em todo o seu esplendor.

Tal como havia sucedido com o seu muito amado “In the Mood for Love” (2000), Wong-Kar Wai demonstra ser um poeta visual da Sétima Arte, por vezes sacrificando a dimensão narrativa pela própria beleza (ou seja, o conteúdo pela forma), pelos planos faustosos e frágeis (sem falar da magnificências das sequências de ação trazidas pelo coreógrafo Yuen Woo-Ping) e pela perseverança do estilo incutido. O que estou a tentar salientar é que "The Grandmaster" não é nenhuma obra brejeira, concebida sem paixão nem amor. Pelo contrário, é uma poesia visualmente deslumbrante e simbólica para a filmografia do autor. Porém, em prol do perfeccionismo, Wong-Kar Wai abandona uma linha narrativa direta, condensando e esquematizando a história em si.

Contando com as presenças de atores habituais na filmografia do realizador, como é o caso de Tony Leung (na pele do enigmático e trágico Ip Man ) e Chen Chang, “The Grandmaster” é um belo e energético filme de artes marciais e até bem mais pessoal do que isso, o regresso do subgénero aos territórios artísticos. Todavia, a Wong Kar-Wai falta-lhe sobretudo a noção de como contar uma história sem que com isso prejudique a aura, ou vice-versa.

Bonito, mas …