"Then I'm walking in 'Memphis', was walking with my feet, ten feet off of Beale"
A personalidade pode ser interessante, mas o filme não. Tim Sutton ("Pavilion") transforma o músico e poeta Willis Earl Beal numa variação de Alice, de Lewis Carroll, e a cidade norte-americana, Memphis, no seu "País das Maravilhas", neste homónimo filme que cruza a raiz documental com o gosto da ficção. O referido músico vagueia na dita cidade como peixe na corrente, procurando a sua inspiração perdida, o seu toque divino, deparando-se com um leque de personagens bizarras e características de uma comunidade dependente da crença evangelista. E é apenas isto que "Memphis" tem para oferecer (o filme, porque a cidade é mais diversificada do que aquela que a câmara limitada e intolerante de Sutton demonstra)!
De resto, temos ao nosso dispor de 80 minutos de narrativa retalhada e descoordenada, erguida por planos soltos que auferem realismo e nada mais (parece que as "câmaras hiperativas" já são uma imagem de marca do muito indie que é produzido atualmente). É um retrato arrastado e penoso sem precisão, o qual sente-se mais a presunção artística do protagonista do que simplesmente por parte do realizador. "Memphis" é guiado por um modo operativo básico e infantil - deixar a câmara ligada e filmar tudo o que aparece e mais alguma coisa. O pior é que 80 minutos é, comparativamente com grande parte das obras cinematográficas, uma duração consideravelmente curta, por isso tentem imaginar um filme que 80% daquilo que está exposto é pura palha, irrelevante e até sem qualquer «arte». Mais valia ficar-se pela curta-metragem, porque como longa não há muito a transmitir.
Finalizando, há que dizer que um ou outro plano emana algum impressionismo, mas vamos manter a calma, porque pelo andar da "carruagem" não ficaria surpreendido que tudo passasse de meros acidentes. Não, não existe nada de divino aqui, apenas tédio.