O seu único crime? Ser mulher! (II)
Petrunya é tudo aquilo que não encontramos, habitualmente, numa heroína cinematográfica, como é dito a certa altura numa fracassada entrevista de emprego no qual subjuga-se: “Tens 32 anos, não tens experiência laboral, és gorda, feia e nem para uma queca serves.” Esta frase destruidora é dirigida a uma mulher sem nenhuma ambição de futuro, a quem apenas é permitido coexistir num mundo dominado por homens. E é o rastilho para cometer uma provocação espontânea.
Petrunya (interpretada por Zorica Nusheva) infiltra-se numa tradição religiosa, unicamente participada por homens, de tentar apanhar uma cruz de madeira atirada ao rio por um padre, sem valor mas simbólica para aquela comunidade. Ela é a primeira a consegui-lo e o caso torna-se mediático pelo país, graças à determinação de uma repórter, que encontra a caricatura de um estado intrinsecamente patriarcal neste convertido "caso de polícia".
"God Exists, Her Name Is Petrunya" é exatamente aquilo em que a intriga se transforma: uma sátira paradoxal e de tons absurdistas de uma sociedade centrada no sexo masculino e cuja lei é absorvida pelos poderes religiosos e clericais. Com diálogos certeiros e de fácil compreensão, a crítica exposta é percetível e talvez por isso, concisa na sua simplicidade. A realizadora macedónia Teona Strugar Mitevska consegue desbravar uma “anedota” de fins catastrofistas, submetendo os diferentes poderes da sociedade à sua ridícula forma perante esta "heroína" Petrunya e o seu ativismo instintivo.
Apesar disso, esta "bolha" prestes a implodir é traída pela sua própria ambição e grandiloquência, conformando-se com um terceiro ato apressado que tenta desesperadamente dar um final digno a Petrunya, sem noção das suas consequências. E com isto, o filme, que nunca esconde a compaixão que sente por ela, perde o tom provocatório.
Também existem momentos de subtileza estética de “God Exists, Her Name Is Petrunya", em oposição aos planos desfigurados da nossa menosprezada “deusa” nos seus momentos de fraqueza. É a prova da força gradualmente crescente do novo cinema dos Balcãs e a sua emancipação de passos curtos. Para quem não conhece, vale a pena começar por aqui para descobri-lo.