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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Falando com Sandra Faleiro: "Inspiro-me em muita coisa, tudo à minha volta me inspira"

Hugo Gomes, 07.11.24

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Estamos no Ar, primeira incursão de Diogo Costa Amarante (finalmente!) ao formato de longa-metragem, é uma comédia sobre solidões e aparentes soluções a esse mal comum numa reunião de três personagens, de diferentes gerações, mas pertencentes à mesma família. No seio familiar, dito desta maneira, encontramos Fátima, mulher frustrada com o seu isolamento corporal e sexual, atormentada pelo rato que se pavoneia pela casa em todas noites, e delirada pelas fantasias sexuais que o vizinho transmite. Personagem, essa, encorporada pela Sandra Faleiro, de carreira extensa no palco, ora reconhecida por várias gerações em seriados televisivos, mas que tem pouco a pouco conquistado lugar no cinema português. Após “A Herdade, “Estamos no Ar” é o novo desafio para brilhar na grande tela. 

O Cinematograficamente Falando … conversou com a atriz sobre esta experiência, sobre a sua Fátima e essas tais dores.

Começo pela questão da génese deste projeto, aliás de como chegou a “Estamos no Ar”?

Um convite do Diogo [Costa Amarante]. Imediatamente disse que sim após ler o argumento.

Recordo uma entrevista no qual refere que o grande impulso para entrar neste filme, não foi a personagem em si, mas da “poética de Costa Amarante”.

Sim, quer dizer, a personagem é maravilhosa, mas foi mesmo o guião que me conquistou. Aquelas três personagens que se conectam com outras, que, por sua vez, estão unidas pela solidão. Há uma melancolia que atravessa o filme e, ao mesmo tempo, uma ternura inerente, tudo isso embrulhado num certo sentido de humor.

Ainda bem que mencionou a solidão porque estamos perante um filme sobre solidão e as suas diferentes nuances, cada uma destas personagens sente-se só e procura “curar-se” de alguma forma. Curiosamente o “Estamos no Ar” decorre numa cidade, um poço multi-populacional e atulhado de gente, que entra em contradição com o senso de “estar só”. Podemos dizer que o ser humano é um ser naturalmente só?

Sim, pode acontecer em qualquer lado. Este filme tem essa concepção da cidade – quando ele filma os prédios em volta da piscina, cria uma espécie de muralha de asfalto que isola aquele local, ou até mesmo os figurantes, tão automatizados, tão alheios. E o filme passa-se, em grande parte, durante a noite, com essa pulsação própria, e mesmo entre encontros e desencontros, aborda a nossa natureza humana, o facto de sermos todos seres solitários, quer seja na cidade, quer seja em qualquer outro lugar. “Estamos no Ar” transmite essa solidão de uma forma muito bonita.

Há um elemento muito entranhado na nossa sociedade, que é a farda, que Diogo Costa Amarante parece reparar e há sua maneira desconstruir. Há toda uma pulsão sexualizada nesse elemento, e isso tem influência na sua personagem.

Neste caso, o da minha personagem, Fátima, a farda representa uma certa segurança, como porto de abrigo, uma proteção. No caso do Carloto [Cotta], é mais kinky [risos], uma fantasia. 

E depois temos o rato, um animal de contornos metafóricos.

O rato apela a esse lado mais obscuro, a uma sexualidade escondida. Acho que, neste caso, ela é uma mulher um pouco tolhida — não diria reprimida, porque considero essa palavra um pouco forte — mas, de facto, tolhida pela vida. Está numa fase de procura por si própria e, ao mesmo tempo, sente esses impulsos sexuais, dos quais também recua. O rato representa precisamente essa sexualidade e essa repressão que ela tem e que não chega a desenvolver.

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Durante “A Herdade” de Tiago Guedes, abordou Catherine DeNeuve como inspiração para a sua personagem …

Sim, como figura ...

Em “Estamos no Ar” inspirou-se em alguma outra figura? 

É uma miscelânea, digamos. Ao longo de várias fases da vida, vamos juntando pedaços das nossas histórias, dos amigos, de mim própria, de outros atores e até de pinturas. Inspiro-me em muita coisa, tudo à minha volta me inspira.

Ou seja, habitualmente traz algo de seu às suas personagens …

Sou sempre eu [risos], não há grande volta a dar. É o meu corpo, a minha voz, é como filtro, encaixo e interpreto as personagens. Em cada uma delas, estou sempre eu [risos].

Com “A Herdade” entrou em pleno no cinema português e agora com “Estamos no Ar” adquire o protagonismo que o filme seja de três narrativas entrelaçadas, mas mesmo é a sua história o centro e o nó das de Carloto Cotta e Valerie Braddell. Gostaria que me falasse deste percurso no cinema português.

Não me considero uma atriz de cinema português [risos]. Até porque faço pouco; como há pouco cinema, acabo por fazer pouco. Se houvesse mais, possivelmente faria mais cinema.

Mas tem o desejar de fazer mais?

Claro, ainda este ano trabalhei com Paolo Marinou-Blanco em "Sonhar com Leões", e com o Simão Cayatte [“A Queda”], mas foram pequenas participações, o que me fascina mesmo são estes mergulhos profundos que o cinema tem. Possuem uma linguagem completamente diferente do teatro e da televisão, exige outro registo de trabalho, o que agrada imenso porque tem outro filigrana, é como se tivéssemos uma lupa sobre nós. É outra linguagem ... é claro que gostava de fazer mais, mas não tenho grandes ilusões ou ambições nesse sentido. Vou deixando fluir, acontecer, não ficar ansiosa se não fizer. 

Tenho ouvido aqui e ali, detalhes e notas sobre “Sonhar com Leões”, inclusive uma colega sua [Joana Ribeiro] falou-me um pouco desse filme.

É uma comédia negra, cómico-trágica sobre a eutanásia, sobre o desespero que é o das pessoas estarem em sofrimento e levanta estas questões pertinentes, como também aborda os oportunistas, e mais uma vez, é sobre a solidão.

“Sonhar com Leões”, assim como “Estamos no Ar”, são ambas comédias. Gostaria que me falasse sobre a sua relação com o género, ou tom digamos, e as suas dificuldades. 

Adoro fazer comédia, agora, as dificuldades de o fazer, julgo que me comédia devemos sempre procurar uma verdade, se não fica desinteressante. O importante da comédia é a capacidade de rirmos de nós próprios. Quando é só "bonecos", é treta ...

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Pegando na questão da comédia, lembro que vi uma peça em que era a protagonista - “O Livro de Pantagruel” - uma encenação de Ricardo Neves-Neves, em que o humor, negro e sarcástico, e igualmente politizado estava presente. Esta volta para referir aquele que é o seu habitat natural, o teatro. E até porque recentemente contracenou com António Mortágua numa adaptação do “Um Eléctrico Chamado Desejo” de Tennessee Williams.

Sim, foi encenado pelo Bruno Bravo. O teatro será sempre a minha casa; foi onde comecei, e sinto sempre a falta de o fazer. É um lugar de procura, de autodescoberta, e, enquanto continuar a ser assim, fico satisfeita. Mas, na realidade, também preciso de outras 'coisas', de outras realidades.

… e daí, o Cinema estar na equação?

Sinceramente, não tenho a possibilidade de escolher e controlar a minha carreira. Vou apenas “andando" e tento aproveitar o que vai surgindo. Tenho tido sorte, porque têm aparecido projetos distintos e variados, mas, na verdade, não tenho como dizer que sim ou que não ou escolher meticulosamente o que vou fazer — em Portugal isso é praticamente impossível. A maior liberdade de escolha que tenho é quando enceno, nas peças que decido montar e assim por diante, porque, como atriz, o que acontece é o que vai sendo sugerido.

Julgo que foi em entrevista para o Teatro São Luiz que a Sandra Faleiro falou da sua insegurança e como ela funciona como seu mote para avançar e abraçar os desafios.

Tem a ver com um lado obstinado, de me desafiar e de tentar ultrapassar obstáculos — mas acho que, de uma forma ou de outra, todos nós fazemos isso. O trabalho de ator exige muito e requer uma grande disponibilidade; é desgastante e, ao mesmo tempo, maravilhoso. Também traz à superfície todos aqueles fantasmas que temos, as inseguranças, as dúvidas. Todos temos que lidar com isso constantemente.

Só para terminar, gostava que falasse sobre os seus novos projetos, seja em que plataforma for.

Vou entrar numa nova peça com o Ricardo Neves-Neves, que estará no Teatro Trindade em dezembro, e também vou voltar a trabalhar com a Cristina Carvalhal. E pronto... este ano continua assim, mais um ano muito teatral.

Atores? Sempre a mesma coisa!

Hugo Gomes, 19.06.24

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Luís Miguel Cintra em "Ilusão" (Sofia Marques, 2014)

Fico horrorizado quando vejo que há escolas para ser ator de cinema porque acho que ser ator de cinema, ser ator de teatro, ser ator de televisão é, basicamente, sempre a mesma coisa. É a construção de gestos, de frases, de atitudes, de situações, etc., pela imaginação do ator. Como é que essa imaginação depois se comporta, que ordens dá ao corpo e à voz …? Depende da inteligência, da sensibilidade, da imaginação de cada um.

Luís Miguel Cintra, entrevistado por José Manuel Costa para o livro “Luís Miguel Cintra: O Cinema” das Edições da Cinemateca

"A Minha Casinha": as quatros estações em Baião numa conversa com António Sequeira e Beatriz Frazão

Hugo Gomes, 19.12.23

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A Minha Casinha (2023)

"Que saudades que já tinha da minha alegre casinha, tão modesta quanto eu", nenhum português fica indiferente a estas palavras. O clássico cantado e interpretado pela banda Xutos & Pontapés (antes saído dos lábios de Milu no filme “A Costa do Castelo”) converteu-se num hino popular à distância infligida pela migração, seja de que natureza for. No caso do filme que adota um título aproximado do single, "A Minha Casinha", a primeira longa-metragem de António Sequeira, os Xutos não nem vê-los (ou será melhor dizer, nem ouvi-los), mas o espírito desse pregado sentimento de saudade, desse gradual desapego afetivo dos nossos "ninhos" em prol de uma libertação, de uma mudança, é sentido, aliás, vivido na primeira pessoa.

Sequeira, como tantos outros, tentou a sua sorte, fez-se à estrada e chegou a Londres para estudar Cinema. Ao regressar ao país que o viu nascer, trouxe consigo a ambição de realizar um filme, um ato glorioso mas hercúleo para quem deseja começar nestas andanças sem os devidos apoios ou incentivos. No entanto, isso não o desanimou, o jovem realizador, que entrou como pôde, conseguiu convencer um quarteto de atores (Salvador Gil, Beatriz Frazão, Miguel Frazão e Elsa Valentim), dirigiu-se para Baião e filmou durante um ano, representando as quatro estações na vida desta família que lida com a "síndrome do ninho vazio".

Em entrevista com o Cinematograficamente Falando..., o realizador revelou as suas projecções, o que pretende alcançar com o seu cinema e os muitos passos ainda por dar, ao seu lado, a atriz Beatriz Frazão junta-se à conversa.   

Dou o “pontapé de partida” com o “de onde e como surgiu a ideia para este filme”?

António Sequeira: A ideia de "A Minha Casinha" surgiu através de um processo demorado. Saí de Portugal aos 18 anos e fui para o estrangeiro. Lá fora, comecei a perceber que, embora as coisas fossem espetaculares, havia um sofrimento relacionado com o distanciamento para com a família, e sempre havia contato, esse sentimento era uma verdade escondida dela. Com o tempo, comecei a perceber que isso talvez não fosse algo que apenas me afetasse; também afetava outras pessoas. Quase todos os meus amigos estavam a passar pela mesma situação, sendo substituídos por animais de estimação, por exemplo, então, achei que havia potencial nisso, uma temática universal para ser discutida e abordada. Fui à procura de filmes que explorassem o tema e quase não encontrei nenhum que o desenvolvesse realmente. Eram sempre focados sob a perspetiva dos filhos que partiam, e nunca na perspetiva daqueles que ficavam.

Recordo-me de uma cena no final do filme do [Richard] Linklater  -"Boyhood" - em que a mãe (Patricia Arquette) fala sobre esse sentimento de vazio e o rapaz vai-se apercebendo das mudanças na casa. Acho que isso ficou-me na cabeça, incentivando-me a explorar mais a fundo essa temática e criar quase uma sequela espiritual de "Boyhood", desta vez acompanhando o filho à universidade e explorando as várias formas como ele volta para casa. Isso também inspirou um pouco o processo de filmagem, assim como foi feito no filme do Linklater que foi filmado ao longo de vários anos, 12 aliás, aqui, também queríamos capturar a ideia de crescimento verídico nos atores, em uma escala mais pequena, ou seja filmamos durante um ano nas estações. Portanto, foi um pouco essa a ideia por trás do projeto.

É sabido que este filme não contou com financiamento do ICA, praticamente o António entrou “porta adentro” e disse “tenho aqui um filme”.

AS: Basicamente. Há, obviamente, mais oportunidades lá fora para conseguir trabalhar na indústria. Um dos grandes problemas em Portugal, na minha opinião, é que a indústria é muito fechada, e entrar nela é bastante difícil. Parece que está guardada num castelo, e que para lá chegar é uma tarefa árdua, e sabia que a única maneira de entrar nesse "castelo", como muitos jovens realizadores lidam, seria passar anos a tentar obter financiamento e esperar pelo momento certo, muitas vezes acabando por desistir após anos de esforço em vão, devido à dificuldade de entrada e ao processo moroso. Pode acontecer, mas é muito demorado. Decidi, então, tomar as rédeas da situação e criar o meu próprio caminho. Optei por construir o meu próprio "castelo" e produzir o meu próprio filme. Vamos ver como corre.

Inicialmente, não tínhamos nenhum financiamento, mas eventualmente conseguimos o apoio do município de Baião. Apesar das limitações logísticas e do apoio dos atores, que concordaram em trabalhar por preços bastante baixos porque acreditavam no guião e também na equipa técnica, e viam potencial no projeto, foi a generosidade das pessoas envolvidas que tornou este filme possível.

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Beatriz Frazão em "A Minha Casinha" (2023)

Isso era algo que também pretendia perguntar, como conseguiu “convencer” um quarteto de atores a alinhar com a sua visão?

AS: Os períodos de filmagem foram comprimidos num curto espaço de tempo, e os atores tiveram que ajustar suas agendas para participar, desbloqueando outros compromissos para se dedicarem a este projeto. Aqui, tivemos que encontrar a liberdade de ocasionalmente dedicar uma semana inteira, auxiliando todos a deslocarem-se até Baião para filmar. Não foi uma tarefa fácil, mas esse foi o processo para encontrar os atores.

O desafio mais significativo foi identificar atores que fossem tão loucos como eu [risos], que estivessem dispostos a embarcar nesta jornada independentemente das dificuldades. Vale a pena mencionar o caso dela [dirigindo-se à Beatriz], que estava envolvida em outras produções enquanto filmava. Ela estava a participar numa peça de teatro em Lisboa ao mesmo tempo que estávamos a filmar em Baião, uma distância de 4 horas entre os dois locais. Foi graças a essa dedicação e entrega deles que conseguimos levar este projeto adiante.

Beatriz Frazão: Para mim não fazia qualquer sentido não fazer este filme. Já havia trabalhado com o António [“My Mum 's Letters”, 2020] e tinha mais vontade ainda de continuar a trabalhar com ele. Quando li o guião fiquei tão emocionante e empenhada em ajudá-lo a levar este filme à concretização. Portanto, o dinheiro não me preocupou muito, porque sabia que me ia divertir e que faço isto por paixão. 

Porém, o mais complicado foi o de termos que filmar ao longo do ano, pois tínhamos que estar disponíveis durante todas as estações, reservando uma semana a cada três meses. Além disso, houve um momento em que eu estava envolvida numa peça ao mesmo tempo e recordo do António entrar em pânico: "Ai meu Deus, ela agora não vai conseguir terminar o filme!", e nessa altura tinha o cabelo todo preto, mas conseguimos dar volta a isso, integrar essa mudança na personagem, como se ela também tivesse mudado o cabelo. Arranjei um motorista que me levava todos os dias de Baião até Lisboa para o espetáculo, e depois, à meia-noite, voltava para Baião para filmar. Tinha que filmar às oito da manhã no dia seguinte. Foi uma verdadeira loucura, foi incrível e valeu a pena. Esta é uma das razões pelas quais as pessoas realmente precisam de ver este filme.

Quase uma colónia de férias …

AS: Exacto, era uma colónia de férias. Só que férias … a trabalhar. [risos]

BF: Era, literalmente, porque estávamos a viver todos na mesma casa. Era uma colónia interessante. [risos]

AS: Queríamos também criar um ambiente baseado na direção de atores de filmes que recordo ter apreciado, por exemplo, "Blue Valentine", em que Ryan Gosling e Michelle Williams viveram juntos durante algum tempo, e essa abordagem contribuiu para construir relações mais autênticas nas filmagens. Da mesma forma, procurámos que os nossos atores, durante as filmagens, partilhassem momentos juntos e vivessem como uma espécie de família, fazendo pequenos-almoços e assim por diante. Foi uma forma de os fazer ficar mais à vontade uns com os outros e “parecerem” mais família no filme.

Julgo que para a Beatriz, esse processo de criar relações familiares com os demais atores, já se encontrava uma parte previamente concebida, visto que contracena com o seu pai [Miguel Frazão].

BF: Essa parte já estava feita. [risos] Mas a relação que temos é muito diferente do que a que está no filme.

Tentaram trazer alguma ‘coisa’ dessa vossa relação para com a relação no filme? 

BF: Acho que a nossa química é muito forte. Tentámos incorporar algo vosso na personagem, claro. Mas é curioso, porque ele é o meu pai, está sempre comigo, sempre me acompanhou, mas nunca tinha contracenado com ele. Sou super envergonhada, não consigo fazer nada à frente da minha família. [risos] No entanto, neste filme, o António “obrigou-nos” a contracenar. Mas foi uma experiência no mínimo engraçada, eu o via a representar e ele a mim. Por isso …

AS: Tenho uma curiosidade [volta-se para a Beatriz]. Alguma vez deste alguma dica ou sugestão ao teu pai, ou vice-versa?

BF: Claro que sim. [risos] Ela dava dicas a mim, eu a ele. Por vezes perguntava como deveria ser naquela cena - “Oh pai, tu sabes melhor que eu, tu és pai. Eu nunca passei pela tua situação” [risos] - ou como se tinha comportado, e eu também fazia o mesmo. 

Com o António a ter uma genuína relação de pai e filha, e considerando que as rodagens do filme ocorreram uma semana em cada estação do ano, isso proporcionou espaço para ajustar a trajetória do guião. Em outras palavras, a ótica do conflito familiar começou a inclinar-se para a relação específica entre a Beatriz e o Miguel?

AS: No nosso caso, seguimos bastante o guião, e uma das coisas importantes era manter uma certa flexibilidade, como a Beatriz acabou de mencionar sobre o cabelo, por exemplo, podendo trocar e adaptar conforme necessário. Era essencial ter essa flexibilidade, por isso mesmo era crucial filmar as cenas cronologicamente. Para quê? Para nós, filmarmos de acordo com as estações do ano, era importante compreender a história e os pontos a desenvolver, indicando as dinâmicas que se encaixavam melhor. A rodagem foi um processo de adaptação, mesmo com as performances dos atores, que conforme envolviam mais com o projeto, mais evoluíam. Conseguia-se quase perceber o ano a passar através dos detalhes, tanto na forma como mudavam a representação quanto na construção gradual da história ao longo desta.

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António Sequeira na antestreia portuguesa do filme

No documentário sobre a produção do filme ["Uma Casinha em Baião"], dirigido por Rui Pedro Tendinha, recordo do António ter afirmado que o seu cinema não tem bases no cinema português. Gostaria de saber qual é a sua relação com o cinema português e, já agora, que influências ou inspirações leva consigo enquanto realizador?

AS: Quando disse isso ao Tendinha, não foi totalmente verdadeiro, porque obviamente tenho algumas bases no cinema português, embora não tanto quanto muitos estudantes de cinema em Portugal. Como estudei no "estrangeiro", fomos expostos a outras influências, no meu caso, por ter estudado no Reino Unido, tive mais contato com cineastas como Ken Loach, Mike Leigh, entre outros, que me influenciaram, cada um deles, de maneiras diversas. Um dos cineastas que serve de inspiração, como já mencionei, é Linklater, cuja maneira de escrever e desenvolver diálogos e personagens de forma naturalista eu admiro, queria levar esse estilo na minha carreira - é curioso que Linklater tenha filmado grande parte de sua obra em Austin, Texas, e quando visitei a cidade, percebi que estava cheia de referências aos seus diálogos. Outro cineasta importante para mim é Noah Baumbach, conhecido por filmes como "Marriage Story" ou "The Meyerowitz Stories", que também cria personagens realistas no seu meio.

A minha família é toda da área da Saúde, eu fui o único estranho que segui Cinema. [risos] Diferentemente da maioria dos realizadores que crescem com "Citizen Kane" e os grandes da indústria, eu, por não vir tradicionalmente desse meio, tinha a tarefa de escolher filmes que pudessem entreter artisticamente a mim e, ao mesmo tempo, entreter o resto da família. Pensei recentemente sobre isto e percebi que esses episódios foram verdadeiramente influentes. Compreendi que é esse tipo de cinema que pretendo fazer: filmes que tenham um lado artístico e, ao mesmo tempo, entretenham aqueles que não estão necessariamente ligados ao mundo do cinema. Os meus pais, sem o saberem, influenciaram-me dessa forma. [risos]

Que realizador deseja ser no futuro?

AS: Sinto que em Portugal existe muito desprezo pela audiência, e acredito que deveria haver uma maior diversidade na produção cinematográfica. O que pretendo fazer no futuro, incluindo com este filme, é não subestimar o público, nem assumir que eles apenas desejam "comédias básicas" – isso também é uma forma de desprezo. Por outro lado, também não adoto a mentalidade de "a audiência não vai entender isso, então nem vou me esforçar". Quero fazer um filme que eu gostaria de ver, mas ao mesmo tempo, tenho em mente o que as outras pessoas gostariam de assistir.

Lembro-me de algo que me foi dito na escola de cinema: enquanto escreves, mantém alguém da audiência, uma perspetiva externa, não para te influenciar, é claro, mas para lembrar para quem realmente estás a escrever um filme. "A Minha Casinha" é uma obra desse género, em que o público pode relacionar-se, e não um filme que olhe de cima para baixo, assumindo que eles só gostam de "coisas" simples. As pessoas também procuram complexidades, que as façam pensar, mas hoje em dia, quando ligamos as notícias, sentimos vontade de espairecer, de compaixão e de esperança. É esse tipo de cinema que desejo fazer, um cinema que traga um pouco de luz ao mundo.

Soa um pouco patético, mas é verdade. [risos]

A Beatriz encontra-se presente nas três plataformas diferentes - Cinema, Teatro e Televisão. Gostaria de saber, tanto numa perspetiva de mercado quanto artística, como se vê enquanto atriz e que objetivos pretende atingir?

BF: Considero-me sortuda desde o ínicio, fiz de "Anne Frank" na peça, que é uma figura histórica muito importante, como também a mensagem que transmite. Este filme também alinha-se a uma mensagem que toca o coração das pessoas. No entanto, muitas vezes no mercado português, sinto que as produções são feitas somente para obter audiência, e frequentemente o produto parece um pouco superficial, com uma abordagem infantil. Isso ocorre muitas vezes com as personagens de novelas.

Gostaria de criar personagens que não se enquadrem nessa abordagem superficial, que não sejam apenas orientadas para o entretenimento fácil. Quero seguir um caminho mais artístico, focando-me em transmitir uma mensagem significativa, tocar as pessoas e ser uma luz na vida delas, um pouco como o António estava a dizer. Quero trazer essa luz para os projetos em que me envolvo, em vez de criar algo apenas para atrair audiência.

Pelo que sei, a peça “O Diário de Anne Frank” manteve-se em cartaz durante meses.

BF: Sim, tivemos quatro meses no [teatro] Trindade e depois fomos para o ‘Maria Matos. Foram 135 espetáculos no total. 

No teatro, onde a repetição da performance é uma das essências, e que pessoalmente me fascina, questiono como lidou com isso na sua experiência teatral. Como conseguiu aprimorar o seu desempenho ao longo das sessões? Ou, por outro lado, essa repetição tornou-se um desafio performativo?

BF: Isso é fascinante, eu também adoro, mas isso também tem um lado bom e um lado mau. Como disse fizemos 135 espectáculos, corríamos o riscos de ficarem cada vez melhores, visto que iamos aperfeiçoando por sessão, como também poderia acontecer o oposto, porque quando fazemos a mesma ‘coisa’ durante 135 vezes podemos tornar-nos mecanizados. Por isso mesmo, tínhamos que relembrar em todos os espectáculos que haveria sempre alguém que estava a ver a peça pela primeira vez, portanto, teríamos que viver aquilo todos os dias como fosse a primeira vez. Mas o que adoro no teatro é que a peça é sempre igual todas as noites, mas todas as noites são completamente diferentes. 

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Beatriz Frazão na peça de "O Diário de Anne Frank", no Teatro Trindade

Eu sei que é um bocadinho cedo para falar nisso, visto que o António está a aproveitar este momento com a primeira longa-metragem, mas há novos projetos à vista?

AS: De momento, quero ver como o público reage ao meu trabalho, isso irá determinar como irei fazer o próximo ou acabarei na rua. [risos] Agora a sério, é muito importante ter em conta em relação, porque gostaria muito de ter mais projetos em Portugal e para isso é importante se é possível ter este tipo de filmes aqui, se não tentarei avançar em projetos mais internacionais, em Londres especificamente. Outra alternativa seriam as co-produções, que seria uma solução interessante. 

BF: A esta altura estou praticamente de férias [risos], é o Natal. Para o ano terei alguns projetos, mas ainda é cedo para falar deles.

As estações não temem o Ceifeiro

Hugo Gomes, 31.10.23

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Peter Lorre, Vincent Price, Boris Karloff e Basil Rathbone em imagem promocional de "The Comedy of Terrors" (Jacques Tourneur, 1963)

Começo por situar-me numa peça recente - “02:22: Uma História de Fantasmas”, encenado por Michel Simeão e com texto de Danny Robins, no Teatro Villaret - o encontro entre dois casais de amigos que perante um estranho fenómeno sobrenatural relatado na casa que serve de cenário, pontualmente presente na hora indicada no título, debatem sobre a veracidade dos fantasmas, espíritos, ou lá o que fossem. Nesse quarteto encontramos um céptico, um homem de ciência e de lógica que ministra uma improvisada masterclass sobre a origem das assombrações, focando na questão do medo e a sua grande importância humana. Segundo ele, o Homem era composto por três tipos de “cérebro”, o “cérebro-macaco” [razão], o “cérebro-cão” [emoção] e o por fim, o “cérebro-lagarto” [instinto], e neste último integrava o sintoma do medo, porque é na base dele que é possível sobreviver aos perigos iminentes e, segundo a peça, até o facto de “cagarmos de medo” não é mais que um ato primitivo para nos tornar numa refeição nada apelativa a eventuais predadores. 

Portanto, o medo não é uma cobardia ditada pela sociedade que deseja agrupar humanos pela sua dominância social, pelo contrário, uma ligação espectral com o nosso “eu” selvagem, o “homem das cavernas” que optou por refugiar-se nas grutas como abrigo a desconhecidos fenómenos naturais (as tempestades, por exemplo), ou a manutenção do fogo, não como uma somente forma exequível de se aquecerem, como também de afugentar as imensas ameaças noturnas. Por outro lado, não há que negar que o medo e todo o seu “sistema orbital” é deveras apelativo, ou até sensual na maneira como somos magnetizados pelas suas “ramificações”. Desde a génese do Homem dito moderno que o medo fascina; criamos ficções e fabulações à volta dele, e procuramos morais a sua base, escrevemos livros sobre ele e mais que tudo, o vendemos, seja nos jornais ou outros medias enquanto sustento financeiro. E o Cinema é cúmplice dessa “prostitução” em relação ao medo, e que melhor género para falar dele do que o terror? Todo este sujeito a um único propósito, fazer do medo a sua causa, o seu entretém e a sua arte. 

O terror brotou em mim desde os meus “verdes anos”. Recordo dos tv spots de “The Exorcist” ou “Child’s Play” o qual me amedrontavam e igualmente alimentavam a minha curiosidade, arquitetando a partir daí planos para escapar da imperativa “hora de dormir” e espreitar tais obras na televisão genérica. Ou do poster de Freddy Krueger colado numa das paredes do quarto de uma prima minha, cujo seu vislumbre trazia-me pesadelos na minha tenra idade ou, e de forma tão marcante, “Shining” de Kubrick, na coleção de VHS(s) que o meu pai ostentava nas sua estante. Foi o intitulado “meu primeiro filme de terror”, e os traumas ainda hoje instalados (o quarto 237 continua a provocar palpitações). Apesar de hoje em dia encontrar no cinema de terror o seu quê de “relaxante”, possivelmente como um escape do verdadeiro terror que é os nossos dias, foi por outros géneros, emoções ou formatos que procurei o tão esquecido medo, e tendo por vezes resultados triunfais. 

Quanto mais velas de aniversário sopro, mais amedrontado fico perante a ideia de envelhecimento, da decadência que o meu corpo e mente poderão revelar ou até na solidão consolada ao testemunhar as repentinas despedidas de todos em meu redor, esse medo, o encontro num outro tipo de cinema; num “Amour” de Haneke (ver o nosso(a) companheiro(a) de uma vida a desaparecer gradualmente aos nossos olhos), num “The Father” de Florian Zeller (Anthony Hopkins sentindo abandonado e chorando pela sua mãe) ou até mesmo num “Venus” de Roger Michell (Peter O’Toole impontente em defender a sua honra, mazelas temporais no seu corpo é óbvio). É o “Forever Young” dos Alphaville tocado numa triste e inconclusiva melodia, o tempo não volta atrás e por mais “lagartos” que sejamos, não conseguimos sobreviver a esse derradeiro medo, o medo de morrer, mas antes, a sua descida infernal.

Falando com Tomás Alves, de Salgueiro a Expatriado em "Pátria"

Hugo Gomes, 20.10.23

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Pátria (Bruno Gascon, 2023)

Vimo-lo pela primeira vez na grande tela, na releitura moderna do clássico literário de Camilo Castelo Branco - "Um Amor de Perdição" - hoje, ele pode ser considerado um protagonista em ascensão no cinema português, mas não foi há muito tempo que vestiu a farda e seguiu em direção à Liberdade ("25 de Abril Sempre!"), encarnando Salgueiro Maia em "O Implicado", um dos rostos da Revolução dos Cravos. Agora, como mártir revolucionário de uma distopia ditatorial nesta terceira longa-metragem de Bruno Gascon - "Pátria" - questionamo-nos se estamos perante um símbolo da rebelião.

Falamos de Tomás Alves, o ator que não se considera um agente político, mas que eventualmente tem dedicado esforços no seu percurso para tal. Conversamos sobre o seu novo projeto, aquele que, perante a ira contra uma milícia ao serviço do regime, assume-se como guerrilheiro de uma guerra de causas dignas, mas de vitórias lentas, e sobre a chegada de um eventual cinema que reage à espuma dos dias.

Com Salgueiro Maia ainda "fresco" na nossa mente, agora com "Pátria" em que se revolta contra uma distopia ditatorial, podemos dizer que Tomás Alves é um ator para revoluções e revoluções?

Podemos dizer que sim. O que poderá ter a ver com o facto de, na minha personalidade, não haver propriamente características de um revolucionário. Desde cedo ouvi dizer que o mais difícil é fazermos de nós próprios. Considero-me alguém muito pacífico e pouco dado a confrontos. Evito o conflito, sendo-me mais natural à procura do que leva às injustiças para as amenizar… embora sinta que algo, ultimamente, está a mudar um pouco. Influenciado pelas personagens ou simplesmente pelo meu crescimento pessoal, talvez esteja a sentir a necessidade de me envolver, talvez por estar mais atento, inquieto e sensível à injustiça.

Voltando a "O Implicado", em termos performativos, como foi o salto do filme de Sérgio Graciano para o de Bruno Gascon? Trouxe algo de Salgueiro Maia para esta sua nova personagem?

São personagens bastante diferentes, apesar de terem como denominador comum um grande sentido de justiça e a luta pelos direitos humanos. O Salgueiro’ foi sustentado pelas fontes históricas de onde bebi muita informação, que me guiaram e delinearam as linhas do meu trabalho. Algo mais minucioso e de construção. O Rocky foi mais baseado na imaginação, intuição e das referências, ainda que não o tenhamos vivido, que todos acabamos por ter, do que seria esta realidade distópica, tendo, por isso, mais liberdade para o construir. 

Devido a esta experiência, considera-se um ator político? Na sua opinião, o que faz um filme ser político? 

Não me considero nada uma pessoa atenta ou interventiva na política, no que se refere à forma como os partidos se movimentam, mas se considerarmos a política como o exercício de pensar e viver em sociedade, acredito que sou alguém sensível ao que se passa ao meu redor. E por isso acho que qualquer filme que nos ponha a pensar em direitos humanos, na forma como vivemos em comunidade e o espaço que nele ocupamos, pode ser encarado como um filme político. 

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Pátria (Bruno Gascon, 2023)

"Pátria" leva-nos de volta a um tipo de cinema que surgiu no pós-25 de Abril, um cinema militante e ativista da década de 70 (de repente, lembro-me de "Confederação" de Galvão-Teles ou "Os Demónios de Alcácer Quibir" de Fonseca e Costa). O facto de Gascon trazer até nós este cinema com um discurso e estética mais politizados é também um sinal de que estamos precisando dele (novamente)? Ou, de forma mais concisa e abrangente, "a História tende a repetir-se"?

Infelizmente a história é cíclica, e temos a tendência para apagar da memória o que já se viveu. Por isto, e estando quase a completar-se os 50 anos da conquista da democracia em Portugal, democracia esta que tem muitos aspectos delicados e que se tem afastado dos ideais originais, nunca é demais falar e refletir sobre o valor da liberdade, os direitos humanos, não só para avivar a memória, como para alertar para o perigo que representa a perda destes valores fundamentais.

Numa entrevista, considerou que a sua transição para o cinema foi determinada em parte pela sorte, visto que um dos seus primeiros papéis (se não o primeiro, se não estou enganado), foi como protagonista na obra de Mário Barroso - "Um Amor de Perdição" (2008). Quinze anos depois, mantém a mesma postura em relação à sua carreira?

Apesar do Simão Botelho ter sido a minha segunda experiência em cinema (a primeira foi o “Do outro lado do mundo”, de Leandro Ferreira, só estreado anos mais tarde) tive alguma sorte, no sentido em que foi por acaso, num encontro social, que soube, pela Catarina Wallenstein, do casting para o Mário Barroso, que já estava numa fase final e praticamente fechado. Essa casualidade, deu-me a oportunidade de ainda fazer o casting e ficar com o papel! Sempre me senti bafejado pela sorte, pela carreira que fui construindo e pelas oportunidades que me têm sido dadas. Mas, obviamente, manter uma carreira não depende só da sorte. Desde a minha primeira experiência em cinema, tendo vindo do teatro, ganhei plena consciência do meu lugar, enquanto pequena peça de uma engrenagem maior: o fazer parte de uma equipa, da máquina de fazer cinema.  Acredito que essa consciência e preocupação têm constituído um fator importante quando me escolhem para trabalhar. 

O que procura nos papéis que seleciona no seu percurso no cinema, o que difere deste universo em relação ao teatro enquanto ator?

Um ator em Portugal nem sempre tem grande espaço para ser muito seletivo na escolha dos papéis. Ou porque não há a quantidade desejável de projetos (o que considero estar a melhorar ultimamente), ou porque os valores do mercado não estão ao nível de outros países e há contas para pagar. Mas tendo em conta este pressuposto, procuro ir variando ao máximo o tipo de papéis, seja no cinema ou no teatro. Gosto muito de ir conhecendo vários universos e de aprender com as personagens. 

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Tomás Alves e Benedita Pereira na peça "Pulmão" de Duncan Macmillan

Quanto a novos projetos?

Estou neste momento a acabar a rodagem de um filme sobre outra personalidade da nossa história. Desta vez, alguém ligado ao futebol, ao jornalismo desportivo, aos correios e à espionagem, durante a segunda guerra mundial. Uma figura muito interessante que me obrigou, entre outras coisas, a engordar 12 quilos. Desafio pouco habitual por cá, devido aos timings das produções portuguesas.

Vou começar o próximo ano com alguns projetos de teatro, de que destaco, a partir de janeiro, a reposição do espectáculo “Pulmão" de Duncan Macmillan, com a Benedita Pereira, encenado pela Ana Nave, no Teatro Maria Matos.