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Let Them All Talk (Steven Soderbergh, 2019)
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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
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A pandemia espetáculo à moda dos anos 90! Livremente inspirado na Ébola, um vírus mortal de proporções genocidas chega aos EUA hospedado num macaco, resultando numa iminente catástrofe.
Em dias de contingências e quarentenas, o medo foi encontrado sob a forma do retrato de Steven Soderbergh - Contágio (Contagion, 2011) – uma evocação ficcional do H1N1 (Gripe A) que contraiu contornos assustadoramente realistas, sendo o antídoto Outbreak: Fora de Controlo (Wolfgang Peterson, 1995), uma fantasia de heróis da pátria com perseguições e bombardeios à mistura para “embelezar” a contenção da epidemia-vilã. Há que ser otimista e acreditar que por vezes é nas fórmulas patriotas de Hollywood que deparamos com essas forças de vontade.
Prevenção acima de tudo. Tomem cuidado e aproveitem a “quarentena” para verem bons filme.
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Na Netflix, nem tudo é originalidade e primor! Numa só semana contamos com o lançamento de dois graus de “obras falhadas”, de um lado Wounds, da suposta revelação Babak Anvari, terror sob contornos lovecraftianos que produz um clima de mistério para depois lançar-se “às urtigas” e com ele levando Armie Hammer e Dakota Johnson (possivelmente das piores atrizes da atualidade) ao abismo. Do outro canto, possivelmente a mais alarmante, The Laundromat, o prolifero Steven Soderbergh na denúncia dos Panamá Papers, num objeto sabichão ou diria antes “chico-esperto”, a replicar as tendências da economia para totós de Adam McKay e apresentar a pior das Meryl Streeps. Armado em Robin dos Bosques versão caviar.
Que venham mas é esse Marriage Story e o tão badalado The Irishman, do “verdadeiro” Scorsese, porque a Netflix precisa urgentemente de Cinema nos seus cantos próprios.
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Podem existir movimentos realistas, sensoriais e outros cujas temáticas apegam cada vez mais o espectador, porém o cinema é, afinal de contas, a prolongação de uma mentira. Quer a mentira projetada no grande ecrã que nos faz acreditar nessa “verdade fabricada”, quer a mentira do meta-cinema, dos atores ao realizadores, e nesse último ponto, a reforma antecipada que poucos cumprem. Steven Soderbergh é um desses mentirosos compulsivos.
Quantas vezes deparamo-nos com as suas promessas de afastamento da sétima arte, e quantas vezes o vemos a desistir desse próprio refúgio – se não for claro, o cinema como refúgio afetivo de muitos. Pois bem, o “sobredotado” do cinema regressa e, desta feita, com uma pequena piscadela à sua carreira diversificada, onde o autoral encontra-se na sua anonimidade. É tarefa árdua reconhecer e identificar um filme de Soderbergh, o “salta-pocinhas” de géneros e estilos que avança agora num “mundo” tão bem à sua medida, aquela faceta que parece ter perdido na exploração do star system na sua trilogia Ocean’s. Aliás “Logan Lucky” é um anti-Ocean’s, o oposto do brilho de estúdio dos referidos e a sua camuflagem em doses cuidadas num cinema americanamente proletário.
Sem querer entrar em discussões clichés, quanto aos seguidores trumpistas, a sua natureza e as implicações no Estado atual da União, Soderbergh conserva o filme de golpe [heist movie] e as tendências criminalmente românticas de um “Out of Sigh” (“Romance Perigoso”, 1998), para dar-nos a conhecer um conto de misfits (marginais da sociedade). Em tal contexto misfit, assim por dizer, “Logan Lucky” recorre à comédia de costumes, a panóplia de personagens de incapacidade social, uma irmandade criminosa que segue na operação de um roubo, um milionário roubo. Já que falávamos em refúgios, o universo de Soderbergh é o único para Channing Tatum, dando espaço à sua criação, fora dos conceitos de sex symbol que Hollywood tem adotado agressivamente.
Ele é um corpo na defesa e preservação dos valores redneck, a camada conservadora de uma América tolerante, da música country ao gosto pela militarização, dos rodeos até aos regimentos religiosos. E é com Tatum que encontramos a humanidade num cenário que soaria trocista nas mãos de um dos “suspeitos do costume”, e com essa mesma humanização, a simpatia no espectador, deparamos com o outro leque de personagens. Os mártires de inocência longínqua, os ignorantes de plena confiança e os lesados da forte e desequilibrada capitalização (o que leva para além das alterações urbana e quotidianas de algumas áreas, a criação de “cidades fantasmas”, “afogadas” pela escassa empregabilidade, de outras).
Obviamente, este contexto social e geográfico, levemente etnográfico, é condensado pela pretensão de Soderbergh em refletir-se no convencional, ou seja, é um filme de golpe e é nele que se concentram todas as forças. Recorre-se aos tiques deste subgénero, o processo de planeamento como desenvolvimento narrativo e o assalto como o grande clímax, para depois esbarrarmos, previsivelmente, na anatomia deste mesmo golpe, o tremendo plot twist. Tudo em concordância com a moralidade disfarçada de vingança social e das personagens descartáveis, alicerces da própria agenda (o que faz Hilary Swank aqui torna-se no grande mistério).
No final, brinda-se, literalmente e metaforicamente a Soderbergh num mais um regresso ao cinema, porém, um retorno agora aclamado com a maior das normalidades, o falado anonimato que se entende por rotina cinematográfica. Mesmo simpatizarmos com um Daniel Craig a implorar por ovos cozidos, “Lucky Logan” não é de todo um filme sortudo.
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