Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Aprendizes à força

Hugo Gomes, 21.05.22

Emotions5.jpeg

A Clockwork Orange (Stanley Kubrick, 1971)
 
"Serge Daney referiu uma vez que, no dia em que tiver de forçar os alunos a verem um filme que lhes é oferecido, o melhor será deixar de ensinar cinema por completo. E acho que tinha razão. Não se pode forçar ninguém o que quer que seja se não existir o desejo de o aprender." Alain Bergala em conversa com Alejandro Bachmann.
 
Citação sobre outra citação que resume e traduz sobre cinema, cinefilia e a ideologia envolta desta que referi no passado mês de março [ler aqui].

Cada um com a sua infância, cada um com o seu Cinema

Hugo Gomes, 01.06.21

347db5366f0570f8a6af70fa393ad83d.jpg

Good Morning (Yasujiro Ozu, 1959)

010427_1280x720_231978_043.jpg

The Childhood of a Leader (Brady Corbet, 2015)

812113-0f616bde8e89409e0773441ee79b22f1-r.jpg

Capernaum (Nadine Labaki, 2018)

4659868_orig.jpg.crdownload

Wadjda (Haifaa Al-Mansour, 2012)

1536076841-home-alone-scream.png

Home Alone (Chris Columbus, 1990)

image-w1280.jpg

The White Ribbon (Michael Haneke, 2009)

let-the-right-one-in1.jpg

Let the Right One in (Thomas Alfredson, 2008)

littlefugitive.jpg

Little Fugitive (Ray Ashley & Morris Engel, 1953)

MV5BNTU0NGMyNTEtOGRmZi00NTcxLTgzMGUtNTEyODkyOGY0Mm

The Florida Project (Sean Baker, 2017)

Sixth-Sense-Cast-Then-Now_PP.jpg

The Sixth Sense (M. Night Shyamalan, 1999)

the400blows1959.324110.jpg

The 400 Blows / Les Quatre Cents Coups (François Truffaut, 1959)

the-kid-hug-kiss-scene-19211.jpg

The Kid (Charlie Chaplin, 1921)

transferir.jpg

The Last Emperor (Bernardo Bertolucci, 1987)

unnamed.jpg

Zero to Conduite / Zéro de conduite: Jeunes diables au collège (Jean Vigo, 1933)

v1.cjs0OTQ5NTtqOzE4ODEwOzEyMDA7MjgzNzsyMDM2

Bicycle Thieves / Ladri di Biciclette (Vittorio di Sica, 1948)

village-cover.jpg

Village of the Damned (John Carpenter, 1995)

x1080.jpg

My Life as a Zucchini / Ma vie de Courgette (Claude Barras, 2016)

Boy-with-Green-Hair.jpg

The Boy with Green Hair (Joseph Losey, 1948)

2060_40639_10210.jpg

Aniki Bóbó (Manoel de Oliveira, 1942)

https___bucketeer-e05bbc84-baa3-437e-9518-adb32be7

The Shining (Stanley Kubrick, 1980)

41-Cinema-Paradiso.jpg

Cinema Paradiso / Nuovo Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore, 1988)

come-and-see-1200-1200-675-675-crop-000000.jpg

Come and See (Elem Klimov, 1985)

0ea45_film1_1_b2ff068c7591a69c.jpg

Pather Panchali (Satyajit Ray, 1955)

ettheextraterrestrial_1982_photo_17-1920x1080.jpg

E.T. the Extra-Terrestrial (Steven Spielberg, 1982)

image-w1280 (1).jpg

André Valente (Catarina Ruivo, 2004)

Ivans-Childhood-2.jpg

Ivan's Childhood (Andrei Tarkovsky, 1962)

nana2011.jpg

Nana (Valérie Massadian, 2011)

1505398229297.jpg

Pixote, a Lei do Mais Fraco (Hector Babenco, 1981)

heather-orourke-001.jpg

Poltergeist (Tobe Hooper, 1982)

63uPeGNzQSKOZchtM98uNukvBFw.jpg

800 Balas (Álex de la Iglésia, 2002)

Room Service!

Hugo Gomes, 09.06.20

07304081-eac9-11e9-8f2e-000c29a578f8.jpg

Chambre 212 (Christophe Honoré, 2019)

anomalisa-michael-quarto-e1453832523960.png

Anomalisa (Duke Johnson & Charles Kaufman, 2015)

bestexoticmarigoldhotel04.jpg

The Best Exotic Marigold Hotel (John Madden, 2011)

Dont-Bother-to-Knock-FM001.png

Don't Bother to Knock ( Roy Ward Baker, 1952)

four-rooms-1.jpg

Four Rooms (Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez & Quentin Tarantino, 1995)

grand-budapest-hotel-ralph-fiennes-tony-revolori.j

The Grand Budapest Hotel (Wes Anderson, 2014)

Home_Alone_2_Trump.jpg

Home Alone 2: Lost in New York (Chris Columbus, 1992)

6ce46d3faaf6e4775cfb1164dce557a4fac46128.jpg

1408 (Mikael Håfström, 2007)

2046_0419.jpg

2046 (Wong Kar-Wai, 2004)

room2373900x506.jpg

The Shining (Stanley Kubrick, 1980)

some-like-it-hot-1959-002-marilyn-monroe-jack-lemm

Some Like It Hot! (Billy Wilder, 1959)

unnamed (1).jpg

Room 304 (Birgitte Stærmose, 2011)

unnamed.jpg

The Bellboy (Jerry Lewis, 1960)

million_600.jpg

The Million Dollar Hotel (Wim Wenders, 2000)

MV5BNmVmMWE5MzAtN2VhYS00ODExLWIwMjgtMDM5OGRlYzA2Mz

Chelsea on the Rocks (Abel Ferrara, 2008)

MV5BM2I3NDRhZmMtYjY0NC00M2Q1LTlmOTMtODk1OTJlNmZmND

Hotel (Jessica Hausner, 2004)

MV5BMTQ3NzQ0NzIxM15BMl5BanBnXkFtZTgwNjMzNjY2OTE@._

Love Steaks (Jakob Lass, 2013)

cena-do-filme-mekong-hotel-de-apichatpong-weeraset

Mekong Hotel (Apichatpong Weerasethakul, 2011)

Contemplando o Espaço Desconhecido

Hugo Gomes, 20.04.20

a12242f0-bf74-41fc-a390-08e1dfc22f1d.jpg

First Man (Damien Chazelle, 2018)

unnamed.jpg

Ad Astra (James Gray, 2019)

19834384_h4mdY.jpeg

Interstellar (Christopher Nolan, 2015)

19834396_vEFf2.jpeg

Gravity (Alfonso Cuarón, 2014)

19834380_QbAbm.jpeg

Solaris (Steven Soderbergh, 2002)

19834377_ZmHdc.jpeg

 Star Trek: The Motion Picture (Robert Wise, 1979)

19834371_buFyi.jpeg

2001: A Space Odyssey (Stanley Kubrick, 1969)

Birra com Kubrick

Hugo Gomes, 01.11.19

eb6f96_b2466df3a51643b3ad18b0144716836f~mv2.jpg

Há mais de 40 anos que Stephen King é um dos escritores contemporâneos da área do fantástico (e não só) mais conceituado e popular. E, naturalmente, um dos mais requisitados pelo cinema e televisão. Esta febre da “galinha dos ovos de ouro” começou em 1976 com a versão de Brian De Palma do seu bestsellerCarrie”. O escritor desprezou automaticamente a adaptação (como faria com outras), opondo-se à crítica entusiástica e ao culto que viria preservar o seu estatuto de obra-prima até aos dias de hoje (mesmo frente a um "remake" produzido em 2013), mas o repúdio não fez parar a ferrovia de conversões, umas atrás das outras, obrigando-o, a cada novo livro, a vender automaticamente os direitos de adaptação.

Foram muitos os que tiveram à mercê do paladar e do repúdio de King e outra adaptação merece aqui especial destaque: "The Shining". Os direitos foram encaminhados para Stanley Kubrick (não fizeram por menos!), que pegou no livro e adaptou-o "à sua maneira" e estética, transformando a visão paranormal e fantasiosa do escritor num estilístico e subtil filme de terror. A história remetia-nos para um escritor, Jack Torrance (Jack Nicholson), que aceitava um trabalho como segurança no histórico, remoto e fechado hotel Overlook, durante o rígido inverno nas Montanhas Rochosas do Colorado. Partindo com a mulher Wendy (Shelley Duvall) e o seu filho com habilidades psíquicas Danny (Danny Lloyd), o esperado e pacífico retiro onde Jack esperava começar a escrever o seu novo romance era, afinal, um depósito de fantasmas e outras entidades sobrenaturais que o levarão à loucura.

Em 1980, as críticas foram variadas e com a ajuda de um irado King por ver o seu material alterado e maleado às aspirações de Kubrick, "The Shining" chegou mesmo às nomeações para os Razzies (o equivalente aos Óscares, mas para os “piores filmes”). Até hoje, o escritor odeia a adaptação, o que o levou a apoiar uma muito criticada minissérie de 1997, mas felizmente o desprezo de outros evoluiu e o trabalho de Kubrick tornou-se e mantém-se como um dos mais influentes no género. Da "birra" de King materializou-se uma sequela literária em 2013: "Doctor Sleep" seguia o percurso de Danny e, como é óbvio, tendo em conta a mais primária lei capitalista, há que render a dita “galinha”. E assim chegamos ao nosso encontro com esta meia sequela, meio "reboot" de “The Shining”, com Ewan McGregor como protagonista (pergunta retórica: porque não recuperar Danny Lloyd?)

MV5BNjQ4MjAyNGYtNmNiMi00YTVlLTkzN2QtMjgyMmE1MzViYm

Para o efeito de transladação, o estúdio convenceu o muito em voga Mike Flannigan (que já se havia aventurado no universo de King com "Gerald 's Game” da Netflix). Digamos que o seu trabalho aqui foi um pouco ingrato – estabelecer uma espécie de utopia entre o livro e o legado cinematográfico da obra de Kubrick. O resultado talvez seja mais inclinado para o primeiro fator, visto que “De Stephen King - Doutor Sono” (é mesmo assim o título em Portugal) preserva o tom rocambolesco de King. Convém frisar que competir com o original é um ato em vão: Kubrick executou um filme disperso, calculado e, na sua essência, misterioso, o que suscitou teorías de todo o género (basta ver o documentário “Room 237”, de Rodney Ascher). Por sua vez, “Doctor Sleep” é uma obra fechada, tecnicamente eficaz mas induzida numa espécie de anonimato quanto ao simbolismo imagético. E depois existe o frenesim tecnológico – o CGI para “branquear” o horror.

Ao contrário de “Terminator: Dark Fate”, do qual partilha a mesma data de estreia, não são os momentos de saudosismo que se revelam mais preciosos: quando “Doctor Sleep” não quer ser “The Shining 2” é que a sua personalidade é desvendada, obviamente tratada com dignidade por uma "vamp" Rebecca Ferguson enquanto vilã de serviço. O que fica é um filme competente mas a precisar de alguma personalidade. Ao realizador faltou a capacidade de se desviar dos eixos estabelecidos por King e, sobretudo, o peso dos que o antecederam. O que nos leva a pensar num filme com certos desvios narrativos que possivelmente funcionariam mais como série "à la Netflix" (e sabemos que Flannigan causou sensação nesse formato com “The Haunting of Hill House”) do que propriamente uma longa-metragem de duração estendida.

Mas… pelo menos não é um “It: Capítulo 2”, outra adaptação de King que andava “às aranhas” com o seu material.

Um coração "Iluminado" ...

Hugo Gomes, 31.10.19

74632395_10215057089037522_4378409418115514368_n.j

Agradeço ao Shining por me ter iniciado no género do terror! Foi o meu primeiro filme desse universo longo e duradouro, tinha 11 anos e o deparei por acaso na televisão. Estava sozinho em casa nesse dia … coisas que não se esquecem (até hoje tenho dificuldades em falar do filme).

Por isso o meu afeto pelo filme é demasiado grande, mas mesmo assim esse amor transpassou da mera recordação. Afirmo de “boca cheia”, e apesar do backlash que Kubrick tem em certos circuitos, é uma obra-prima, possivelmente só igualada com Eyes Wide Shut na carreira kubrickiana.

Longa vida ao Danny e Jack Torrance, ao Redrum, às gémeas, ao quarto 237 e porque não ao “Here’s Johnny!”.