Chop suey ...
“Tales from the Dark”, baseado em pequenas histórias escritas pela popular escritora Lilian Lee, é o conjunto de três perspectivas de três realizadores em relação a uma sociedade com clara intimidade com o mundo sobrenatural e espiritual.
Nesta viagem, coordenada por Simon Yam, Chi-Ngai Lee e Fruit Chan, o espectador é convidado a integrar uma visão oriental do fantasma e do purgatório que os envolve. Mesmo sendo uma proposta no fundo interessante, sabendo que o género terror / thriller atrai os diferentes aficionados, “Tales from the Dark” é um puro desequilíbrio. Não somente porque os três atos da antologia diferem de qualidade e ritmo, mas como todas estas partes apresentam um certo amadorismo de produção, realçado pelas intenções que segundo o velho ditado: “o inferno já se encontra cheio”.
E assim começamos com “Stolen Goods”, o primeiro trabalho de realização do ator Simon Yam. O início deste segmento é um impacto quase térmico para o espectador ocidental, onde este é confrontado com uma visão folclórica e por vezes surreal dos ditos fantasmas no quotidiano. Depois desta introdução a um mundo paranormal completamente à parte da fórmula hollywoodesca, “Stolen Goods” explora a história de um “velho louco”, desempregado que aspira dinheiro e que para isso decide usufruir literalmente dos mortos, assaltando cemitérios e “sequestrando” urnas para eventuais chantagens aos familiares e entes queridos. Simon Yam tenta incutir uma atmosfera sinistra, o que para além de não conseguir ainda o leva a perder-se por opções diretivas que anulam qualquer efeito das suas sequências. Depois é uma narrativa que se perde nas suas linhas cronológicas, por outras palavras, nos flashbacks, e na composição dos seus personagens e nos diálogos pobres e por vezes sem sentido. Em termos de argumento e de concepção este é o mais fraco dos três capítulos, e sendo o início da antologia não favorece todo o comité de boas-vindas.
A segunda curta é apelidada de “A Word in the Palm" e dirigida por Chi-Ngai Lee. Neste ato somos remetidos a um ambiente de esoterismo e médiums, e uma equipa especializada em tentar lidar com um curioso caso de vingança e assombração. Composto de forma descontraída e aspirando ao “buddy movie”, “A World in the Palm” consegue incutir interesse derivado ao humor que contém e da química e carisma dos atores Tony Leung Ka Fai e Helly Chen. Infelizmente, esta história tende a soar a amadorismo visual e na concepção, demonstrando a realização de Chi-Ngai Lee algum cansaço durante a narrativa e acima de tudo um certo desleixo.
A terceira e talvez a mais eficaz das três partes é o ato realizado pelo aclamado Fruit Chan, que apresenta um ritmo e firmeza na narrativa. Para além disso, este foi dos três realizadores o mais sortudo, ficando com o mais criativo e místico capítulo da antologia. “Jing Zhe” (título da curta) leva-nos a uma tradição antiga e respeitada na China, o “Vencer o Vilão”, algo equivalente a “pragar”. Este processo que tem como intuito o de amaldiçoar quem se deseja em nome da vingança é a união entre o passado e o presente, os mortos e os vivos. No centro deste ritual sombrio mas popular surge a vingança mais improvável, a de quem supostamente não possui essa oportunidade. Jing Zhe é descrito pelo suspense que prolonga e pelo bom uso de câmara de Chan, todavia, sendo uma curta tende em “movimentar-se” entre “colagens forçadas” e um desfecho apressado e forçado.
Com isto, e mesmo sendo o mais capaz de todos os atos da antologia, não é suficiente para conseguir resgatar “Tales from the Dark" da mediocridade, nem sequer conseguido equiparar-se ao terror dos anos 80 de Hong Kong que era o visado. “Tales from the Dark” foi selecionado como o filme de abertura da edição de 2013 de New York Asian Film Festival e apresentou no mesmo ano uma sequela onde são os realizadores Lawrence Ah Mon, Gordon Chan, Kelvin Kwan e Teddy Robin Kwan os “guias” nesta entrada ao sobrenatural.