Depois da 'farra' ...
Faye Dunaway com o seu Óscar de Melhor Atriz por "Network" (Sidney Lumet, 1976)
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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
Faye Dunaway com o seu Óscar de Melhor Atriz por "Network" (Sidney Lumet, 1976)
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Five Easy Pieces (Bob Rafelson, 1970)
Entre “The Graduate” de Mike Nichols e “Bonnie & Clyde” de Arthur Penn declarou-se o fim da Hollywood clássica que tão bem aprendemos a amar, e o epíteto chegou-nos através de um recomeço.
O mundo mudou drasticamente e com isso, a linguagem cinematográfica encontrava-se sensível a movimentos crescentes e a estéticas subvertentes. É o “novo cinema” e com isso, a “bem-vinda” de novos protagonistas, “contaminados" pelas manifestações de vagas, refrescantes e acidamente desconstrutivas, que surgiram por esse mundo fora. Os EUA, que tão tardio acolheu essas mesmas vontades, aprendeu a olhar para si com a desconfiança, a crítica e a motivação em reencontrar a sua própria identidade, essa, renegada e negada vezes sem conta por quem o poder estava instituído. Assim nasceu o que chamamos de Nova Hollywood, ou os “Movie Brats”, ou simplesmente os 70s, a cada vez mais discutida e mais recente idade de ouro do cinema americano.
E é pelos rumos das novas inserções, cinema que nos distancia mais e mais, e que mesmo assim, nem por um minuto, nos deixa impressionar, que o Alvalade Cineclube se lança num muito antecipado ciclo - "América ‘70" - um conjunto de sete obras que resumem a década ainda hoje relembrada como uma das importantes e revigorantes da cinematografia “yankee”.
Arranca no dia 3 de novembro com “Five Easy Pieces” de Bob Rafelson (1970), terminando no dia 15 de dezembro com “Killer of Sheep”, de Charles Burnett (1978). Todas as sessões acontecem à quinta-feira (e com convidados especiais), no Cinema Fernando Lopes [Lisboa]. Em conversa com o Cinematograficamente Falando …, o programador Bruno Castro explica as razões para não ficarmos de fora nesta mostra.
Gostaria de, antes de mais, que me falasse sobre a natureza deste ciclo e a importância dele. É um ciclo sobre Nova Hollywood, o movimento, ou do cinema produzido na América na década de ‘70?
É um ciclo sobre a vida, num ecrã. A década de 70 no cinema americano é o pós-musical e a antecâmara do screen sugar dos 80s, e isso significa que foram 10 anos de muita honestidade, dilemas, indigências, inconformidades, pequenas felicidades seguidas de pequenas infelicidades, tiros falhados que afinal acertam noutro alvo sem comédia. E de repente tudo isto nos parece familiar em 2022, não? Somos uns suckers pelos 70 americanos, foi talvez a década de cinema mais honesta de sempre, e é essa visceralidade que nos interessa. Claro que depois podemos ter um olhar mais cinéfilo hard core e falar da Nova Hollywood e dos realizadores e de como a queda dos estúdios motivou algumas dinâmicas (e isso virá ao de cima nas conversas com os convidados dos ciclos, que são imensos desta vez!), mas o que nos interessa mesmo é a honestidade naquilo tudo. Caramba, o cinema voltou a ser assim?
Na programação podemos encontrar obras incontornáveis do “movimento” como “Taxi Driver” de Scorsese, “Serpico” de Lumet ou “A Woman Under Influence" de Cassavetes, mas é nos detalhes, como se costuma dizer, que somos conquistados. “Car Wash” e “Killer of Sheep”, queria que me falasse na seleção destes filmes. Aliás, como se procedeu à escolha desta programação?
O diabo nos detalhes, é sempre assim. Comecemos pelo mais fácil: era óbvio para a equipa de programação que não podíamos ficar nos grandes filmes, nos que toda a gente conhece. Claro que “Taxi Driver” e “Serpico” fazem sentido (até porque existem diversas gerações que nunca os viram no grande ecrã), mas os 70s foram também o Richard Pryor a chegar de limousine a uma estação de lavagem de carros, e a ser gozado pela fatiota. “Car Wash” é o ponto de fuga deste ciclo. Tem mais funk que o Prince, mais blackness que Sidney Poitier e uma bizarria dançável impossível de ver noutros filmes. Os 70s foram também aquela zona estranha em que dançamos enquanto lavamos carros, personalidades da cultura popular entram e saem de cena. Foi essa a zona de liberdade dos 70s. Se “Serpico” era um homem amargurado pela corrupção numa cidade suja, é verdade que também houve momentos luminosos naquele tempo.
Serpico (Sidney Lumet, 1973)
Já "Killer of Sheep" tinha que ser a forma de terminar um ciclo sobre esta América. É um filme precioso, invulgar, de periferias, com uma visão lindíssima sobre a realidade que não está refém de uma narrativa construída convencionalmente. É mais um exemplo de liberdade formal, e um filme muito incompreendido, pouco visto, que o tempo veio afirmar como um dos grandes. Como cineclube temos a responsabilidade de assumir um trabalho de curadoria real, isto é, de não facilitar e mostrar “apenas” o mais óbvio. Os espectadores confiam no nosso olhar, e na possibilidade de descobrir filmes que não imaginam existir. Temos que estar a esse nível.
Voltando às menções de “Taxi Driver”, é possível contar a história de uma Nova Hollywood sem a solicitação de cânones ou obras charneiras?
Uff.... A ideia de “obra charneira” e de “cânone” vem da crítica, de uma certa intelligentsia de um tempo... Na verdade, não queremos contar a história de um movimento. Nunca nos move a ideia escolástica de “explicar” algo, ou “demonstrar”. Isso seria fechar as leituras dos espectadores, e era um crime lesa cinema. Dito isto, “Taxi Driver” é um enorme filme apesar do cânone. Isto é, não foi essa tentativa de canonização que motivou o seu aparecimento, nem é essa a leitura que queremos fazer do filme dentro do ciclo. A grande questão com os “grandes filmes” é sobre quantas pessoas verdadeiramente os viram no cinema? Que gerações de espectadores atuais nunca viram estes filmes num ecrã e numa sala de cinema? Ou conversaram sobre eles? A experiência de sala está no nosso estômago, e por isso vamos sempre procurar dar oportunidades para que filmes que merecem ser vistos sejam vistos no ecrã que os viu surgir. Conhecemos imensas pessoas que nunca viram “Taxi Driver”. Que uma sala de cinema e um ecrã de cinema sejam o espaço que habitam para essa experiência inacreditável.
Há um sentimento de que hoje muita da Nova Hollywood é rejeitada por não corresponder em parte a vários padrões ou requisitos morais e político-sociais atuais. Falo por exemplo no vigilantismo, tópico diversas vezes requisitado em muitas obras deste período, ou até mesmo à antagonização feminina e de certas minorias, como também orientações sexuais. Isto tudo para lhe questionar se é possível olhar para a Nova Hollywood e a década de 70 com outros olhos, ou devemos instalá-los como algo estagnado, mas de importância histórica?
Ahahaha, que boa pergunta! Dava toda uma outra entrevista.... Ou um Q & A! Temos muito medo do revisionismo, seja ele histórico, político ou outro. Claro que é impossível olhar para trás sem os olhos de hoje, mas deve um filme ficar refém das ideologias que lhe aplicamos hoje? Não há nada de estagnado na América de 70. Aliás, nunca foi tão atual! Quantas das disfunções de 70s vemos hoje? Quantos dos dilemas? Aliás, se calhar mais hoje do que em 2000, por exemplo. Ter um posicionamento ideológico ativo hoje sobre filmes de 70s é, para nós, estranho.
Uma coisa é compreender que muito do cinema (como de todas as manifestações culturais) é filho do seu tempo e como tal incorpora abordagens que hoje podem ser vistas como datadas. Outra coisa é passar a barreira e apontar os dedos. Se alguns destes filmes promoviam práticas que hoje sabemos não fazerem inteiro sentido? Claro. Se nos cabe a nós um posicionamento revisionista, para apontar o dedo ou mesmo fazer censura ao programar? Completamente não. Cabe-nos sim mostrar e discutir. Um cineclube é um espaço de descoberta e discussão aberta. Sempre.
Em relação ao Alvalade Cineclube, a Nova Hollywood será um ciclo fechado, ou existe possibilidade de expandir em tidas “sequelas”?
É uma questão que nós temos colocado a nós mesmos, e nem devíamos fazê-lo porque o programa ainda nem arrancou. No final faremos um balanço, como sempre, e depois vamos pensar na vida. Vontade de voltar onde somos felizes há sempre, mas ao mesmo tempo não acreditamos na “festivalização” da cultura, e promover edições de determinados programas pode cair aí. E há muitas questões legais envolvidas, de direitos de exibição, cópias, que dificultam muito estas iniciativas. Este é o programa mais difícil, nesse ponto de vista, do cineclube desde que existe. É uma oportunidade incrível! Temos que ponderar todas as questões e perceber se faz sentido. É muito cedo ainda para pensar nisso. Queremos viver os 70s agora. Queremos que os vivam connosco.
Car Wash (Michael Schultz, 1976)
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The Imaginarium of Doctor Parnassus (Terry Gilliam, 2009)
Wind Across the Everglades (Nicholas Ray, 1958)
The Girl with the Dragon Tattoo (David Fincher, 2011)
The Insider (Michael Mann, 1999)
Eyewitness (Peter Yates, 1981)
The Sound of Music (Robert Wise, 1965)
Beginners (Mike Mills, 2010)
Stage Struck (Sidney Lumet, 1958)
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John Le Carré (1931 - 2020)
O célebre escritor, possivelmente o grande responsável pela redefinição do policial do século XX, encontrou no cinema, não a sua derradeira imortalização, mas um cúmplice para os seus "crimes". A imaginação de Carré aliou-se às imagens e nesse bando geraram filmes ... e muitos deles, que filmes! O autor deixou-nos ... maldito 2020 que não termina de jeito nenhum ... mas as suas histórias, essas, persistem nos diferentes formatos.
The Tailor of Panama (John Boorman, 2001)
Tinker Tailor Soldier Spy (Tomas Alfredson, 2011)
The Spy Who Came in From the Cold (Martin Ritt, 1965)
The Constant Gardener (Fernando Meirelles, 2005)
The Deadly Affair (Sidney Lumet, 1967)
A Most Wanted Man (Anton Corbijn, 2014)
The Russian House (Fred Schepisi, 1990)
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Hoje morreu um dos meus heróis de ação, uma das grandes estrelas de cinema da minha contemporaneidade. Tinha 90 anos, eu sei, idade o qual já se perdoa a morte, mas não deixa ser uma perda das minhas, mais que percurso cinéfilo, memórias de infância. Sean Connery era uma lenda viva, um sinal de persistência no seu modo de interpretação, recusando alterar o seu sotaque escocês ferrenho e fugindo da indústria dececionado com o rumo desta. Grato pela tua existência, Sir.
Apesar do fato ridículo, Zardoz (John Boorman, 1974) tornou-se um delicioso filme de culto
O fracasso de The League of Extraordinary Gentlemen (Stephen Norrington, 2003) foi a gota de água que motivou o seu "divórcio" para com a indústria
The Untouchables (Brian De Palma, 1987) o levou ao seu primeiro e único Óscar.
O bélico The Hill (1965), foi uma das suas colaborações com o cineasta Sidney Lumet.
Uma pausa durante as filmagens de Highlander (Russell Mulcahy, 1986).
Um dos seus filmes mais populares nos anos 90, The Hunt for Red October (John McTiernan, 1990)
Ao lado de Michael Caine na adaptação de Rudyard Kipling, The Man Who Would be King (John Huston, 1975)
Durante as rodagens de Marnie (Alfred Hitchcock, 1964)
Foi o primeiro 007 no cinema! Interpretou James Bond em 6 filmes e um tributo intitulado de Never Say Never Again (Irvin Kershner, 1983)
A outra colaboração com o cineasta Sidney Lumet - The Offence (1973)
Em Finding Forrester (Gus Van Sant, 2000) conseguiu uma das suas interpretações mais elogiadas
Ao lado de um jovem Christian Slater no The Name of the Rose (Jean-Jacques Annaud, 1986), uma adaptação (ou será mais interpretação) do livro de Umberto Eco
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Sidney Lumet dando instruções a Philip Seymour Hoffman (1967 - 2014) durante a rodagem de “Before the Devil Knows You're Dead” / “Antes que o Diabo Saiba que Morreste” (2007)
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