Hollywood persegue as bem-sucedidas presas como ninguém
Se não fossem os “reshoots” poderíamos contabilizar 30 anos de separação desta nova reencarnação e o filme primordial de John McTiernan. “The Predator” (sim, agora com um “The” como destaque) afasta-se do seu antecessor, não por questões temporais, mas como uma evolução da nossa cultura popular. Para ser mais conciso, neste caso, a diferença instala-se na maneira como vemos realmente o monstro.
Para tal, exemplificando, extraio a provável memorável citação do “jogo gato e rato” entre o alienígena afamado e um Arnold Schwarzenegger em rumo à ribalta – “You’re one… ugly motherfucker!” – que entra em contraste com o primeiro encontro de uma das personagens deste novo filme com a exata criatura – “You’re one … beautiful motherfucker”. O que aconteceu em ’87 é que as personagens estavam definidas para integrar num ensaio de ação sob sangue a rolos e o nosso Predador servia somente como figura antagónica. Assim sendo, tínhamos a tendência de nos preocupar com estes humanos / vítimas porque simplesmente nos identificávamos com os mais pequenos traços das suas respectivas personalidades (mesmo sabendo que grande parte destes não fogem da rebuscada caricatura). Contudo, o foco tinha como centro os “terráqueos” ao invés do monstro. Torcíamos sim pela vitória de Arnie, uma alusão às ilimitações do intelecto humano contra a avançada tecnologia de outros mundos, ou simplesmente o “desenrasque” militarizado.
Chegando a 2018, a criatura tornou-se um símbolo e como tal existe um culto, uma veneração, uma desculpa para continuar a absorver esse simbolismo e capitalizá-lo. O foco vira para o lado oposto … exatamente … para o Predador, o resto vem de acréscimo, inserido como a catapulta para lançar a figura em ação. Como consequência, somos dirigidos a meros bonecos [que nos vendem como personagens humanas] que operam sob as básicas leis do guionismo, os incitadores de emoção (ou não). Todas estas “personagens” têm um propósito, um objetivo imperativo acima de qualquer caracterização, e no seu global, em prol de um enredo secundarizado, algo que os nossos Predadores possam navegar. Ou seja, tudo se resume à lei do mercado acima de qualquer tendência de criatividade, e aí seguimos para outro campo, o do nosso Shane Black.
O realizador, que curiosamente foi um dos atores do filme de ’87, aplica tudo o que sabe para trazer um certo “brilho”, sobretudo um humor de despacho (tão próprio das suas anteriores criações, de “Lethal Weapon” a “Nice Guys”), esforço que se revela em vão pelo terrível timing causado por uma narrativa apressada e sem clareza para construções afetivas. Aliás, todo o filme é endereçado numa edição “lufa-lufa” e puramente acidentalizada, onde os planos tendem a não “respirar” por entre cortes abruptos.
Não existe noção de dramaturgia (caso agravante indiciado na cena de escolha de máscaras por parte do pequeno Jacob Tremblay, momento introspectivo e emotivo da sua personagem, desleixado por uma transição em correria), porém, para tal é respondido com essa assinalação da cultura pop –o objetivo é o de somente reutilizar a imagem do Predador, revendê-la a velhas e novas gerações e, com isso, quem sabe, disputar um novo franchise. Sem mais demoras, há que avançar, por isso que comece a caça … ao box office!