Balbúrdia no Oeste? Queriam!
"People die at the fair."
Vamos lá colocar o ponto nos "is", A Million Ways to Die in the West não é nenhum Blazing Saddles, nem Seth MacFarlane um Mel Brooks. Primeiro de tudo, um destes é mais politicamente incorrecto que o outro, e aviso desde já que não é MacFarlane.
O criador das irreverentes animações de Family Guy e American Dad parece ter ganho o gosto pelas longas metragens, descartando agora os ursos de peluches festeiros e brejeiros de Ted, segue-se para a fronteira da América sulista de 1882, onde vemos Albert Stark (o próprio Seth MacFarlane), um pastor de ovelhas que é descrito como um homem fora do seu tempo, sendo demasiado mole e cobarde para um território tão selvagem que é o seu. Após ter acobardado num duelo e ter sido deixado pela sua namorada, Albert tenta encontrar um sentido para a sua vida, contudo o suicídio é a única coisa que lhe ocorre. Mas tudo está prestes a mudar com a chegada da misteriosa Anna (Charlize Theron) à sua cidade.
São imensas as referências cinematográficas e culturais incutidas por MacFarlane, umas eficazes outras nem por isso, disparadas à velocidade de uma "metralhadora" e sem o timing necessário para se fazer respirar entre a audiência. A verdade é que A Million Ways to Die in the West é qualquer coisa como uma tentativa desesperada em atingir o seu pico cómico, porém sem nunca conseguir verdadeiramente e mais, evidenciando a irreverência de MacFarlane como um puro marketing, mais do que um estilo, e é nesse aspecto que Mel Brooks (apesar de serem de tempos diferentes) leva a melhor. Todo o elemento satírico que o filme tece freneticamente, rapidamente seca dando lugar a um moralismo recorrente que se arrasta até conjugar um final preguiçoso. No seu corpo narrativo e na sátira exposta, o realizador dispara contra tudo e todos, mas sem nenhum objectivo traçado, confundindo tal termo com gags de origem escatológica ou de humor duvidoso. Ou seja, A Million Ways to Die in the West prometeu ser uma comédia ácida, sem pudor nem vergonha, e pior, dotado de alguma inteligência, mas resume-se a um desequilíbrio sem igual, narcisista e de longa duração (demasiado para uma comédia deste género).
Variado entre o mau gosto (gags escusados com excrementos de cavalo e órgãos genitais de ovinos) e o génio ocasionalmente emanado (referências cinematográficas e criticas sociais e religiosas), este novo filme de MacFarlane torna-se num registo esforçado mas "despedaçado" pela ausência dos valores politicamente incorrectos. Sim, esses mesmos! Confunde tais elementos com meros palavrões ou piadas grosseiras, perdendo todo um prisma de critica aguçada e sem receios de chocar tudo e todos. Nesse aspecto, Blazing Saddles consegue ser mais actual e ousado. Vale pelos seus escassos momentos e por Charlize Theron, a estrela subestimada que parece condenada, nos dias de hoje, a salvar todo os filmes que entra. Uma desilusão!