O pecado mora ao lado ... ou simplesmente, um adeus a Rogério Samora!
Duas silhuetas banhadas pelo lusco-fusco - Rogério Samora e Carla Chambel - nos meandros de um estendido jogo de sedução e um constante “flirt”, interrompem o silêncio com uma questão … ou diríamos melhor, uma adivinha: “Quantos são os pecados mortais?” Rogério Samora responde à sua parceira errante somente com os dedos, fazendo a numeração de sete, e o qual é respondido automaticamente pela questionadora com um mordiscar num desses dedos esticados. Samora, confuso, lança-se noutra e encadeada pergunta: “Quantos são?”. “São 8”, acrescenta Chambel. “Qual é o oitavo?”.
“És tu, a dizer o meu nome”.
Esta particular sequência de “98 Octanas”, uma das muitas colaborações do ator com o realizador Fernando Lopes, tornou-se na imediata imagem surgida na minha mente após a notícia da sua morte. Nela encontro as especialidades pelo que tornaram Samora num dos mais respeitados da sua área, a voz ora sedosa, ora abrutalhada, capaz de ofuscar algazarras e o seu interminável carisma que em conjunto com personagens dúbias e vilipendiadas (talvez um leque predileto na sua carreira) colocavam o espectador em cheque quanto aos seus dotes empáticos. Rogério Samora não foi apenas um ator de televisão nem o vilão Scar do “Rei Leão” na elogiada versão dobrada, foi um personagem completo, sagaz e munido de experiência com alguns dos melhores mestres do cinema português. Mas poderíamos ficar somente com a sua estadia no universo de Lopes, só por aí tínhamos os mais iluminados palcos que alguma vez pisou.
Rogério Samora (1959 - 2021)