A enésima adaptação da obra literária mundialmente famosa de Charles Dickens, “Great Expectations”, regressa ao grande ecrã pelas mãos de Mike Newell, cuja sua carreira tem ultimamente sido alternada por conversões a livros campeões de vendas (“Love in Times of Cholera”, “Harry Potter and the Goblet of Fire”) ou de videojogos célebres (“Prince of Persia: The Sands of Time”). Retornando ao seu habitat natural, o luxo da produção dignamente BBC, o realizador tem a proeza de converter um clássico da literatura num autêntico bocejo cinematográfico.
Dentro das diversas adaptações, o conto de Charles Dickens, publicado em modo seriado de 1860 a 1861, gerou dois filmes a ter em conta; o elaborado clássico de David Lean (1946) e a visão moderna dada por Alfonso Cuarón em 1998. A versão de Mike Newell é porém a mais reverente e linear das referidas, o que não significa que seja a mais fiel em termos líricos. “Great Expectations” enche-nos de expectativas face a um trabalho cénico luxuoso como também um guarda-roupa e reconstituição de época formidável, mas nada disso compensa face a uma falta de substância evidente. Relações entre personagens são dissipadas (diria-se automáticas), uma intriga anorética e uma densidade inexistente são fragilidades que não merecem desculpa nos tempos sofisticados que se vivem atualmente. Enquanto a obra de David Lean possui menos de dez minutos de duração que a versão de Mike Newell, este novo “Great Expectations” aufere-nos uma sensação de fraca margem de manobra, falta de tempo para o enriquecimento dos seus personagens, um enredo comprimido e uma fidelidade que se reduz ao puro academismo.
Admito que se não fossem os veteranos atores da “velha guarda britânica,” entre os quais Ralph Fiennes, Helena Bonham Carter ou Robbie Coltrane, esta ingrata adaptação da obra de Dickens seria um autêntico desastre partilhado pelo seu igualmente adjetival casal romântico. Fiquemos com David Lean e a sua versão de 1946, por favor!