Bruxedos, bruxarias e Anne Hathaway
O livro infanto-juvenil de Roald Dahl [publicado em 1983] sobre uma convenção de bruxas que dá para o torto obteve uma “célebre” adaptação em 1990 pelas mãos de Nicolas Roeg (“The Witches”), que, habituado a um peculiar cinema de género, foi responsável por traumatizar uma geração de crianças eludidas.
Passados 20 anos, e tendo em conta a seca de ideias em Hollywood, a história é refeita para o grande ecrã sob o pretexto de aprimoramentos tecnológicos. Não é por menos que a batuta se encontra nas mãos de Robert Zemeckis, realizador que nos últimos tempos (mesmo com um travão suscitado por um tremendo fiasco como foi "Welcome to Marwen", com Steve Carell) tem apostado numa relação orgânica entre os efeitos especiais com a narrativa ("Back to the Future", "Who Framed Roger Rabbit?", "Forrest Gump", "Polar Express", etc.). Previsivelmente, “Roald Dahl’s The Witches” é tudo aquilo que esperávamos numa revisão contemporânea, um festim de CGI mal emaranhado, uma agreste redução no tom negro da anterior versão e uma tentativa (algo questionável aqui devido à sua leveza) de tecer um contexto social.
Os ingredientes não resultam em nenhum elixir de juventude e a fermentação converte tudo numa poção requentada, monstruosamente despida de personalidade, mesmo que possamos assumir que o início é esteticamente prometedor (com uma narração própria de Chris Rock, a fazer recordar a sua bem-sucedida série “Everybody Hates Chris”). Aqui, onde nem um gato escapa ao domínio das imagens computorizadas (dificilmente os seus visuais sobreviverão num espaço curto de tempo), é Anne Hathaway que vemos como o núcleo esforçado, numa correspondência artificial ao legado deixado por Anjelica Huston, que com "The Witches" se tornou na infame bruxa-mãe de ínfimos pesadelos infanto-juvenis.