“Dazed and Confused”, que por cá obteve o título de “Juventude Inconsciente”, reivindicou um efeito proustiano nos espectadores de 1993, ano em que a obra estreou nos cinemas. É que este espontâneo filme do “hiperativo” Richard Linklater trouxe-nos à memória, algo mais que um retorno à década de 70 com todos os seus “adornos” e marcos, mas sim a juventude de cada um. Sem ser específico nesta detenção de recordações, “Juventude Inconsciente” teve como enredo um grupo de jovens a viverem o seu último dia de aulas de liceu, depois disto só mesmo a Universidade, o destino que muitos destes partilham num dia pleno de “liberdade“. Disposto por uma rebeldia única, cujas intrigas encontram-se endereçadas nas espontaneidades destas personagens “abertas” e “intermitentes” (o espectador apenas sabe tão pouco de cada uma delas, e o que conhece é somente aquilo que as personagens estão dispostas a distribuir).
São 24 horas descritas de pura imersão neste mundo inconsequente, onde a folia é a palavra de ordem e o futuro, algo não desejado e ainda disforme. Mas passados 23 anos, surge uma sequela que só vem a confirmar o quanto Linklater não gosta de estar parado. Contudo, este “Todos Querem o Mesmo” (tendo como título original “Everybody Wants Some!!”, como tributo à homónima música de Van Halen) está mais próximo do anterior “Boyhood” do que propriamente da referida prequela. Até porque a edição neste capítulo tem uma presença mais prejudicial no próprio decorrer temporal na narrativa.
Enquanto que em “Juventude Inconsciente”, a “intriga” foi nos entregue como um cartão de visita para um dia na vida destas personagens, em “Todos Querem o Mesmo”, a proposta torna-se mais ambiciosa e simultaneamente mais simples de transcrever para o grande ecrã: o último fim-de-semana de férias de um caloiro universitário, que porventura foi uma das personagens destaque do filme de 1993. Esse, e mais uma personagem repetente que surge lá pelo meio, são as únicas ligações “vivas” com a anterior de Linklater.
Neste fim de semana que antecede a mais um ciclo de rotinas, “liberdade” é vendida, como é de esperar, ao redor de três elementos – álcool, droga e sexo. Porém, ao contrário do que esses trindade de fatores poderia culminar, provavelmente uma qualquer “canção” de rockstar, a verdade em que em Todos Querem o Mesmo, o teor é ingénuo, apenas descontraído e isento de qualquer julgamento vindo para lá do politicamente correto ou da propaganda de mocidade. A sensação é simples, é como se as personagens e o próprio espectador experienciasse pela primeira vez essas ditas experiências ao som de uma coletânea musical dos anos 80.
Mas voltando ao tema da edição: devido à narrativa centrada em três dias, onde vemos jovens a serem inconsequentemente jovens, o filme possui uma maior manipulação quanto à edição e a respectiva influência no tempo decorrido. Entre outras, a edição torna-se mais omnipresente, visto que chega a funcionar em prol das emoções das personagens, como por exemplo, o slow motion e cabelos “ao vento” tão digno das enésimas comédias adolescentes. Chegamos até a sentir saudades da entrega ao natural de Juventude Inconsciente, provavelmente uma das propostas mais bem-vindas do cinema pseudo-neorealista dos anos 90.
Mas existe todo aquele senso nostálgico digno de Richard Linklater, um homem que tão bem filma atos de camaradagem como de puro hedonismo juvenil. Talvez a culpa desta “inferioridade” nesta revisão, não seja do realizador, da reciclagem das histórias, da sua esperada edição, da falta de naturalismo apresentado, mas sim dos anos. Como sabem são os 80 e não os libertadores e rebeldes 70, como se costuma dizer. Não sei se tal terá alguma influência, mas é certo que a surpresa dissipou, o que vemos é uma aventura que se gostaria de recordar, infelizmente sem esses referidos momentos “proustianos“.