Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

["luz" (luce) e "fazer" (fece)]

Hugo Gomes, 09.07.25

lucefece-6.jpg

Com “Lucefece: Where There Is No Vision, The People Will Perish” ficamos por aqui: um autor a posicionar-se no mundo, no seu e no dos outros, da infância às memórias, do passado colonial do pai à Troika e à consciência ideológica, pelo meio, Yuri Gagarin e a sua trajetória solitária num espaço aberto como representação de jornada ao inexplorável.

Ricardo Leite não esconde a autobiografia, não camufla o evidente umbigo, o filme é dele: a sua visão e a sua relação com esta existência contemporânea. Talvez um filme-testamento precoce, um ensaio que persiste à luz da vivência. O cinema tem disso, por vezes, a história do “eu” montada e selecionada como pretexto para a experimentação e ficamos nessa pegada, aquela que James Joyce, com a pena atarefada em “Ulisses”, identificava com um certo reparo: a época das descobertas, do desconhecido que o mundo ainda nos reservava; os avanços, os mistérios partilhados em volta da fogueira, em comunhão ou como consolo na escuridão, essa mesma que, como o breu, esconde o que ainda havia por esconder, esses mesmos tempos passaram, desvaneceram, tal como as grandes epopeias: Fernão Mendes Pinto ou a Rota da Seda, o avistamento da criatura de Loch Ness ou a Antártida. O escritor fez do “eu” o novo épico: a viagem aos confins do interior. Ricardo Leite apenas aprendeu com a herança que carrega nos ombros: essa postura, esse movimento ou conformação aos limites do nosso redor. Sem mística, somos apenas nós e a exploração verniana dessa intimidade.

Como Yuri Gagarin, o homem, o primeiro, diga-se de passagem, a trespassar a fronteira... o limite, o que falta ainda explorar, evidenciar e vivenciar. “Lucefece exercita essa primeira pessoa do singular.

Agora, se irá transformar o cinema, e o português em particular, duvidamos muito … não será tão especial assim.

Curtas, curtinhas, a origem: 1ª edição dos Prémios Curtas

Hugo Gomes, 13.03.23

DSC00827.jpg

Os premiados e os jurados / Fotografia.: Ricardo Fangueiro

Foi através de uma curta que Portugal desbravou caminho em direção à Kodak Theater, a nomeação à tão cobiçada estatueta norte-americana automaticamente entrou para a História audiovisual do nosso país, e então porquê de estarmos constantemente a reduzi-los a "protótipos" de futuras longas-metragens?

André Marques teve um sonho, criar uma cerimónia de festividades, premiações e de comunhão a esse universo bem português, a resistência do Cinema na sua mais natural essência, a simples e de rápida dicção, a curta. Para isso juntou oito magníficos* e fundou um júri, aliciou e arrecadou apoios, e “convidou” a todos os participantes a inscrever o seu trabalho. A sua vontade fez com que o seu desejo se materializasse. No passado dia 10 de março, sexta-feira nervosa devido à nomeação de “Ice Merchants”, cujos Óscares seriam revelados no domingo seguinte (“será desta?” pensavam todos os que presentes), o Auditório Fernando Pessa em Lisboa encheu-se (deve-se sublinhar), para receber a primeira edição, modesta, ainda com o seu quê de improviso, muitas vezes ocultado graças ao malabarismo e carisma de Rui Alves de Sousa, radialista da Antena 1, que assumia o papel de anfitrião. Intercalado pela dita premiação e pela projeção de três curtas referentes aos três géneros-base (ficção, documentário e animação), a cerimónia ficou marcada pelas promessas do seu fundador, ambicionando seguintes edições em maior escala e a ambição de um “microfestival” em celebração daquilo que a curta-metragem tão bem representa - o Cinema, aqui e agora.   

Quanto à premiação, a noite consagrou “Azul” de Ágata de Pinho com cinco prémios, no qual incluem as categorias de Curta de Ficção, Realização, Argumento, Atriz (também Pinho) e Fotografia (assinado por Leonor Teles). “O Homem do Lixo” de Laura Gonçalves arrecada três distinções (Curta de Animação, Curta Documental, Banda-Sonora), igualando com “Punkada” de Gonçalo Barata Ferreira (Montagem, Caracterização, Guarda-Roupa). Os outros prémios; Vítor Norte recebe o de Melhor Ator (“O Caso Coutinho” de Luís Alves), Nuno Nolasco como Ator Secundário (“Tornar-se um Homem na Idade Média” de Pedro Neves Marques), Rita Tristão na categoria de Atriz Secundária (“As Feras” de Paulo André Ferreira), Rodrigo Manaia em Interpretação Infantil (“By Flavio” de Pedro Cabeleira), e ainda a animação “Garrano” de David Doutel e Vasco Sá no campo dos Som / Efeitos Sonoros juntamente com a ‘dobradinha’ de “2020: Odisseia no 3.º Esquerdo” de Ricardo Leite (Direção Artística, Efeitos Visuais).

DSC00340.jpg

Rui Alves Sousa e eu / Foto.: Ricardo Fangueiro

DSC00752.jpg

Vítor Norte brama ao Cinema após vencer o Prémio de Ator / Foto.: Ricardo Fangueiro

DSC00693.jpg

André Marques, fundador do evento, discursa / Foto.: Ricardo Fangueiro

*Bruno Gascon (realizador de “Carga” e “Sombra”), Mia Tomé (atriz e radialista), Edgar Morais (ator), Inês Moreira Santos (crítica e blogger do Hoje Vi(Vi) um Filme), Teresa Vieira (curadora, crítica e radialista da Antena 3), Rafael Félix (crítico e fundador do Fio Condutor) e André Pereira (videografo e editor de vídeo da Renascença).