Será que há limites para o embaraço do “cinema português comercial”?
Poderíamos entrar aqui em mais umas quantas lengalengas sobre a rivalidade entre o cinema comercial nacional e o dito autoral … poderíamos, mas a esta altura do campeonato, até nós sentimos cansados de o invocar, muito mais em encontrar uma “ponta onde se pegue” num projeto como este “Tiro e Queda”. Aliás, o título condiz na perfeição para com a natureza deste … embrião a filme, um verdadeiro headshot à paciência do cinéfilo e um atentado ao gosto, pelo que se traduz segundo os cabecilhas desta tramoia, num consenso para o grande público.
Com produção de Leonel Vieira, que nos últimos anos abandonou as faíscas que o poderiam guiar por caminhos mais dignos, hoje (levado da breca), cedido ao inóspito destas anormalidades, confia em Ramón De Los Santos (na sua primeira longa-metragem) para conduzir a dupla humorística de sucesso (Eduardo Madeira e Manuel Marques) num prolongado anúncio publicitário a uma companhia de seguros.
Por entre o descarado “product placement”, “Tiro e Queda” é a prova de fogo para qualquer espectador, desde a sua transladação da linguagem puramente televisiva (e mesmo dentro dessa linguagem existem “dialetos” mais corajosos), até ao stand-up comedy falhado cujo humor (fácil, demasiado fácil) – possivelmente direcionado à caricatura – apenas ridiculariza o bom senso de quem acredita em milagres vindo destes ventos. Não se trata de ser enfadonho, nem é isso que está em causa na crítica de cinema, nem sequer neste filme. O problema é a sua inaptidão para a indústria portuguesa, sabendo que ela não existe. Porém, com “coisas” como esta, dificilmente existirão razões para a sua existência.
No final, ficamos solidários com a “personagem” de Óscar Branco: “afinal, somos uns cabeçudos aqui”. Haja paciência …