Muito se falou deste “The White Tiger” comportar-se como um anti-”Slumdog Billionaire”, seja da apropriação do seu dispositivo narrativo (uma recontagem de uma história de ascensão) e através dele a dissipação do seu lado “naive” (o destino e a crença como pedras pedestais desse sucesso que o cinema crowd pleaser adora pregar). Não com isto afirmar que o filme de Ramin Bahrani (“99 Homes”, a mais recente versão de “Fahrenheit 451”) não tenha a sua dose industrial de ingenuidade, até porque é com base nela que lança a sua moral – a lição encaixada como apêndice na narrativa, acreditando piamente nessa doutrina de “cinzentismos” propagandistas.
Ora bem, esta adaptação do best-seller, promovido pela New York Times, de Aravind Adiga, publicado no “calor” da crise financeira / imobiliária de 2008, é um suposto retrato underdog no sistema de castas indiano. No seu ralé encontramos um jovem promissor, Balram (Adarsh Gourav), o qual lhe é negado esse mesmo “brilhante” futuro, e como consequência se vê determinado a servir. Sim, um mero criado que tudo fará para saciar as vontades e desejos dos seus “mestres”, uma corrente cuja única saída é a própria corrupção dos seus entranhados ideais. Ou seja, segundo este universo, aquilo que separa as classes baixas das altas é a sua disponibilidade para “sujar as mãos”, cometer crimes e sem qualquer arrependimento ou repercussão seguir continuamente pelos seus trilhos de progresso.
“The White Tiger” constrói essa predatória fábula negra por vias de um tom messiânico (neste caso o “tigre branco”, o “animal que surge uma vez em cada geração”), confinando o complexo Robin dos Bosques como inibidor das culpas do seu protagonista nas suas duvidosas causas. A questão aqui não é a sua violência (manifestado em diferentes formas, direta ou indiretamente), mas o seu apelo, nunca tecendo pela sua complexidade, ou como em muitos casos fílmicos, pelo seu lado satírico ou alusivo.
Não existe nada de especial neste “tigre branco”, tudo se resume a genética (é albinismo que qualquer outra ‘coisa’) e não benções, o resto é demagogias perversas transvestidas de “filme social para massas”. Um visualmente competente e inequívoco.