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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Calma ... aqui o bem é praticado

Hugo Gomes, 07.02.21

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Da mesma forma que um suposto “maluco” que diz ser “maluco”, verdadeiramente nunca o é, uma “pessoa de bem” que diz ser “de bem” nem próximo está. E quem mais apropriado para nos pregar isso mesmo que “Viridiana” de Luis Buñuel (1961), filme que remexe em territórios profundamente sagrados da Cristandade, o seu Poder entre os desfavorecidos e carenciados que nunca resultam na imunidade moral. Enquanto temos um filme-fenómeno na Netflix - “The White Tiger” (Ramin Bahrani, 2021) - que discursa que para subir nesta vida há que corromper os seus próprios ideais sem qualquer tipo de remorso ou consequências, o clássico aqui exposto nos oferece a possibilidade de olhar para o miserabilismo sem candura alguma. A podridão nasce, cresce e persiste, até mesmo nos seios dos “coitadinhos”. É a raça humana, diriam alguns, sem distinção quanto a classes.

Quem quer ser um “bom” corrupto?

Hugo Gomes, 25.01.21

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Muito se falou deste “The White Tiger” comportar-se como um anti-”Slumdog Billionaire”, seja da apropriação do seu dispositivo narrativo (uma recontagem de uma história de ascensão) e através dele a dissipação do seu lado “naive” (o destino e a crença como pedras pedestais desse sucesso que o cinema crowd pleaser adora pregar). Não com isto afirmar que o filme de Ramin Bahrani (“99 Homes”, a mais recente versão de “Fahrenheit 451”) não tenha a sua dose industrial de ingenuidade, até porque é com base nela que lança a sua moral – a lição encaixada como apêndice na narrativa, acreditando piamente nessa doutrina de “cinzentismos” propagandistas.

Ora bem, esta adaptação do best-seller, promovido pela New York Times, de Aravind Adiga, publicado no “calor” da crise financeira / imobiliária de 2008, é um suposto retrato underdog no sistema de castas indiano. No seu ralé encontramos um jovem promissor, Balram (Adarsh Gourav), o qual lhe é negado esse mesmo “brilhante” futuro, e como consequência se vê determinado a servir. Sim, um mero criado que tudo fará para saciar as vontades e desejos dos seus “mestres”, uma corrente cuja única saída é a própria corrupção dos seus entranhados ideais. Ou seja, segundo este universo, aquilo que separa as classes baixas das altas é a sua disponibilidade para “sujar as mãos”, cometer crimes e sem qualquer arrependimento ou repercussão seguir continuamente pelos seus trilhos de progresso.

The White Tiger” constrói essa predatória fábula negra por vias de um tom messiânico (neste caso o “tigre branco”, o “animal que surge uma vez em cada geração”), confinando o complexo Robin dos Bosques como inibidor das culpas do seu protagonista nas suas duvidosas causas. A questão aqui não é a sua violência (manifestado em diferentes formas, direta ou indiretamente), mas o seu apelo, nunca tecendo pela sua complexidade, ou como em muitos casos fílmicos, pelo seu lado satírico ou alusivo.

Não existe nada de especial neste “tigre branco”, tudo se resume a genética (é albinismo que qualquer outra ‘coisa’) e não benções, o resto é demagogias perversas transvestidas de “filme social para massas”. Um visualmente competente e inequívoco.