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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

"Só uma nota" sobre a crítica ...

Hugo Gomes, 30.07.24

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Ratatouille (Brad Bird & Jan Pinkava, 2007)

Deixo-vos um pequeno aperitivo que tem um pouco da minha demanda das demandas, a crítica de cinema: da sua natureza, às relações, funcionalidades como as suas diferentes plataformas. Para que serve a crítica? Para quem serve a crítica? E para quando precisamos da crítica?

Um episódio de "Só uma Nota" , podcast de José Paiva, com os oradores Susana Bessa (obrigado pela menção ❤) e Rui Alves de Sousa.

Fica a sugestão ... ouvir aqui

Ansiedade toma o controlo da Pixar

Hugo Gomes, 11.07.24

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Alerta Puberdade!

A sirene ecoa em aviso vermelho, e as emoções, perplexas com o que está a acontecer, fazem de tudo para “despachar” o botão que misteriosamente surgiu no painel de controlo (ou sensorial) com as gordas palavras “Puberdade” assinaladas. Tal não evitou que uma equipa de demolição remodelasse o espaço que as audiências de 2015 conheceram com fulgor e emoção. Isto foi seguido pela chegada de novas emoções, um novo quarteto liderado pela laranjinha Ansiedade.

Em 2024, Riley, a personagem humana que servia de carapaça para as intrigas entre emoções — aqui personalidades comicamente abstratas — cresceu, e, pelos vistos, continua a crescer à medida que falamos. A adolescência está ao virar da esquina, um território amplo e fértil para novos tratados nesta simplificação do funcionamento humano, com a Saúde Mental na berma da sua contemporaneidade. Mesmo com isso em jogo, é impossível não encontrar em “Inside Out 2” (dirigido por um quase “desconhecido” Kelsey Mann) a fórmula vencedora, confessamos, um pouco cansada dos últimos ensaios, mas aqui centrada nessa pedagogia em forma de historieta. 

Enquanto em 2015, o filme assinado por Peter Docter (que também esteve por detrás de “Up” e “Soul") explicitava o papel da tristeza no crescimento das nossas personalidades, aqui a complexidade da identidade é a mais-valia da sua moral. Não somos perfeitos, e os maniqueísmos que interiormente assumimos como verdades não correspondem à nossa essência. Talvez seja por isso que, mais uma vez, Alegria (com voz de Amy Poehler) seja uma discutida “vilã” neste díptico, sendo ela o factor, o direto e indireto, dos conflitos internos de Riley, tratando de atos movidos pelas melhores das intenções (ou cegueira emocional talvez). Mesmo assim, em outra lição estudada pela psicologia simples de “Inside Out”, precisamos dela, sabendo que, segundo ela própria - “Maybe this is what happens when you grow up. You feel less joy” (“Talvez seja isto que acontece quando cresces. Sentes menos alegria.”). Quanto mais voltas na Terra temos mais apercebemos deste facto.

Vejamos, não estamos aqui perante um grande filme da Pixar, receio que esse grau o perdemos há algum tempo (traço uma linha no muito subestimado “Soul”, produção chicoteada pelo medo da COVID e do streaming que transforma o cinema em algo caseiro). Contudo, opera nesse espírito de encontrar uma razão na sua ‘sequelite’, com um humor mais apegado à trama e um universo expandido. Tem o seu momento “pixaresco”, lágrima ao canto do olho pela identificação comum que os temas trazidos ressoam nos espectadores, personagens devidamente carismáticas (o impagável sotaque de Adèle Exarchopoulos enquanto ‘Ennui’, ou Aborrecimento) e o coração requentado. Mas … e o mas está sempre presente por estes lados … já não vimos isto? Quer dizer, a Pixar já não se tornou nela própria numa fórmula previsivelmente identificável? Talvez sim …

Alerta Sequela!! Por este andar, teremos mais divagações na mente.

We are suppressed emotions!

Pixar em queda? Elementar, meu caro ...

Hugo Gomes, 13.07.23

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Mais um tubo de ensaio distópico (desejosos em ser utópicas) resultando numa nova longa-metragem da Pixar, e novamente demonstrando o seu habitual e irrepreensível rigor visual, só que desta vez, contamos com um engajado aviso à comunidade - o estúdio está a enfrentar uma crise identitária que condiz com a sua escassez criativa. Está lá, etiquetado para “todos verem”. 

Basta ler em entrelinhas, e entender o nervosismo habitado neste “Elemental” (de Peter Sohn, assinante de um dos contos subvalorizados da produtora, “The Good Dinosaur”), história de ancestralidades e inclusão num fantasioso mundo onde os seus habitantes são, nada mais, nada menos, que seres elementares (e antropomórficos, é claro!); Água, Ar, Terra e os indesejados Fogo, oriundos do remoto e do exótico. E é numa metrópole que todos esses elementos se coexistem, mas não se misturam, remetendo os infames Fogo para guetos fora do centro da cidade. Quem conhece a realidade suburbana e as políticas de gentrificação hipocritamente disfarçadas de cosmopoliticidade irá reconhecer o flagelo que estes seres luminosos e ardentes são reduzidos, isto em contraste com os privilegiados Água ou os nobres e aristocratas Ar. Isto, dando uma ideia de classe social com uma condição de migrante enguiçado nas “ventas”, só que a temática (apesar das queixas de muitos colegas que “jogam à direita” e mais além) não seja o principal fio condutor de “Elemental”, antes disso o escape para romances shakespearianos e a pitada de conexões familiares do costume. 

Depois de lido a advertência, ou será melhor, pedido de socorro, concluímos o óbvio, a Pixar precisa urgentemente de inovar a sua “arquitetura”, ou começar a debater outras estâncias para além das vencidas e comumente formuladas no mercado disnesco. Está lá tudo em termos gráficos, só que lhe falta a chama no restante!

Bora lá e tudo a magia levou

Hugo Gomes, 04.03.20

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Primeiro de tudo, é um filme da Pixar“. É desta forma que começa a Julia Louis-Dreyfus, numa flash-interview, por apresentar a sua personagem e o filme “Onward: Bora Lá” à imprensa. A atriz, que se celebrizou na série “Seinfeld”, encarna a progenitora da dupla protagonista desta nova animação de um dos preciosos sectores da Disney enquanto império do audiovisual, a Pixar, que verdade seja dita, tem caminhado numa peregrinação própria nesta indústria.

O legado é hoje encantadoramente sólido, histórias maduras sem nunca direcionar o leme para fora do imaginário infanto-juvenil, e com um cuidado especial na textura emocional das suas personagens e dos respectivos conflitos. Mas após anos e anos de batalhas interiores para concretizar o apetite de originalidade e delicadeza, parece que é desta que a Pixar deixa a nu os seus truques vencidos e vencedores. Em “Onward”, num mundo fantástico alternativo e pós-moderno (um pouco na sombra de “Bright”, aquele policial de Los Angeles com Will Smith e orcs à mistura), somos conduzidos a dois irmãos elfos que embarcam numa jornada para voltar a ver o seu falecido pai. Ou seja, voltamos à velha história dos parentes ausentes, das emoções contidas, do simbolismo sentimental e, por fim, aquelas epifanias lacrimantes. Tudo cuidadoso, armadilhado e … kaboom … conseguido na sua essência de bomba calórica de comoções fartas- E é nesse aspeto de missão cumprida que duvidamos da sua genuinidade, assim como da criatividade desses enfeites e artifícios.

Obviamente, que para muitos essa “manipulação” é uma experiência intrinsecamente sensorial que anseiam (re)viver, porém, fora o digno twist e as chamadas de atenção à nossa sensibilidade, “Onward” perde-se numa aventura rotineira, pouco imaginativa, apenas vingada com um humor astuto e, como parece ser lema na “fábrica” Pixar, minuciosamente calculado.

Talvez seja esta a prova, mesmo face às faíscas que surgiram nos seus últimos anos de produção (da importância da melancolia no crescimento pessoal em “Inside Out: Divertidamente” ou a memória sentimental que requisita o mito de Fedro em “Coco”), de que o estúdio está a deixar-se levar pelo automatismo.

Super-heróis (socialmente) desesperados

Hugo Gomes, 28.06.18

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Tudo começou em 2004. A Pixar vivia os melhores momentos da sua jornada pela indústria da animação graças ao sucesso atingido por “Finding Nemo" (aliás o maior êxito do estúdio na altura), mas o objetivo não era seguir os conselhos táticos de “equipa que vence não mexe”. O que fazer depois desse coming-of-age submarino? A resposta foi encontrada por Brad Bird que visualiza o crescente cinema de super-heróis que estaria a dar os seus importantes passos de rejuvenescimento e encontra nele um foco quotidiano e subversivamente sociológico: e se os super-humanos vivessem entre nós, e que fossem condenados às meras vidas humanas, escondendo as suas verdadeiras identidades em prol do mundano?

Obviamente que a questão não era de todo original, a aura destes heróis de collants deriva sobretudo da dicotomia identitária, o disfarce que cada vez mais se confundia com o seu próprio “eu”. “The Incredibles” surgiria, coincidentemente, no mesmo ano em que David Carradine discursa a natureza ocultada do super-herói nos momentos finais de “Kill Bill”, exemplificando um curioso caso, o do Super-Homem. Esta criação da DC, possivelmente a mais célebre do arquétipo heroico, é um ser poderoso cujo disfarce não é nada mais, nada menos que o mero mundano. Segundo o “malévolo” Bill Carradine: “Superman was born Superman. When Superman wakes up in the morning, he’s Superman. His alter ego is Clark Kent. His outfit with the big red “S”, that’s the blanket he was wrapped in as a baby when the Kents found him. Those are his clothes. What Kent wears – the glasses, the business suit – that’s the costume. That’s the costume Superman wears to blend in with us. Clark Kent is how Superman views us. And what are the characteristics of Clark Kent. He’s weak… he’s unsure of himself… he’s a coward. Clark Kent is Superman’s critique on the whole human race.

“The Incredibles” funcionou como um gracioso sucesso de crítica e público, contornando as preocupações iniciais de um filme que parecia confundir-se com as grelhas televisivas dirigidas ao público-alvo. Era mais que cinema de super-heróis, aliás os super-humanos eram só pretexto para uma pertinente crónica sobre a mortalidade e os valores afetivos. Os fãs, então gerados, solicitavam constantemente uma sequela, uma resposta ao jubilante cliffhanger, mas tais desejos foram recusados, por outras palavras, adiados e adiados até contabilizarmos 14 anos ( uma espera que fecundou continuações desnecessárias desde Carros a Dorys, com a exceção de um excecional “Toy Story”, mas isso são outros contos).

Este “Incredibles 2”, agora sem o “The” (mas novamente com Brad Bird), é uma animação sob um batido signo de família e união, porém, esses “trapos” são costurados com peças modernas que dialogam com os novos tempos. Há um lado de emancipação feminina visada pela inversão dos papéis de género. Ele torna-se “dono de casa desesperado”, ela vai de viagem de negócios. Essa troca de identidades sociais é revisada como o pólo criativo desta jornada Pixar, calculado com humor astuto e do coração bem disnesco que se reconhece a léguas.

Contudo, a viagem, por mais agradável que seja, um revisitar a estes heróis calorosos, é ditada por um triste sabor de revisão, de beco sem saída na originalidade hoje tida como raridade. Fala-se por meio de fantasmas da NSA, coloca-se a questão queixada por Alan Moore e a sua obra-prima “Watchmen”, porém, esses ingredientes servem como faíscas de ação e reação num produto que se constrói em terreno seguro.

Quando chegamos a um ponto em que, visualmente, a animação já não parece surpreender, deve-se tocar o botão de emergência da Pixar, há que procurar além da história, novas formas de contá-la.

Pixar de volta à pista

Hugo Gomes, 20.07.17

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Ka-chow! A toda a velocidade chegamos à segunda sequela de “Cars”, aquele que é considerado o lado mais mercantil da Pixar, tentando regressar à estrada após ter sofrido um “pequeno” acidente pelo caminho. Enquanto o estúdio tenta corrigir-se dos erros tomados no anterior, a megalomania e o espaço de antena exagerado para um dos secundários (quando não percebem que com pequena doses tudo torna-se mais que saudável), este terceiro filme sobre carros falantes aposta na veia emocional que todas as animações parecem ter contraído até então.

Por isso, colocando tudo em “pratos-limpo”, este “Cars 3” nada diferencia das enésimas produções hoje lançadas, qualquer que seja o estúdio por detrás, é o amontoado de clichés e lugares-comuns requeridos num enredo de previsibilidade. Porém, como se trata de uma resolução, um efeito de compensação e ao mesmo tempo uma afirmação do poder económico da Pixar (é preciso vender merchandising), digamos que este algoritmo 3 é um bon voyage das memórias motivadoras alicerçadas a um Rocky e suas sequelas. Depois da história do “retorno triunfal aos ringues”, neste caso “pista”, somos presenteados com o “legado”. Restringindo ao vocabulário da saga pugilista de Stallone, deparamos com uma espécie de “Creed”, a passagem do testemunho, a herança a servir de fim a um ciclo.

Nesse sentido, é assim fortalecido o lado fabulista da animação, as cadências emocionais que, em tempos, poderiam ser bem sucedidas e sacrifica-se o humor corriqueiro anexado a comic reliefs de qualquer espécie (damos graças por isso). O que torna este “Cars 3” numa curiosidade cinéfila é a pequena homenagem a um dos actores que tanto nos deixa saudades e cujo início, o filme de 2006, convertia-se na última vez em que a sua voz cansada, e de certa forma sábia, foi ouvida. Sim, refiro-me a Paul Newman, aqui replicado para seguir como uma meta-ênfase dramática, a sua encarnação digital no enredo do filme, e o timbre vocal que invoca as recordações, o legado deixado e imortalizado no espetador-cinéfilo. Só é pena que o testamento seja lido num produto tão esquecível como este.

Pixar com memória de peixe

Hugo Gomes, 22.06.16

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Atenção à navegação, “Inside Out” foi só faísca, a originalidade já não mora na Pixar e a prova está nesta sequela / spin-off de um dos maiores êxitos do estúdio. Muitos são aqueles que emocionaram com Nemo, o pequeno peixe-palhaço que perdeu-se do seu progenitor e cujo reencontro tornou-se no leitmotiv de uma demanda pelo fundo marinho, mas mais foram os que realmente “derreteram” com Dory, o cirurgião azul com problemas de memória que funcionou numa das mais divertidas personagens secundárias do reino da animação.

Acompanhado pela voz da mundialmente conhecida apresentadora Ellen DeGeneres, Dory tornou-se numa trademark a não perder de vista, que facilmente poderia ser rentabilizado numa nova aventura animada com um leve sabor estival. Em “Finding Dory” seguimos a mesma fórmula de “Finding Nemo”, ou seja, um início que nos leva ao passado trágico da personagem e uma procura pelos entes queridos que resulta em mais uma interminável viagem pelos cantos e recantos do Oceano.

Mas como não poderia faltar, visto que a fórmula tem que ser repetida, o Homem está presente como uma manifestação antagónica, uma mensagem ecológica com evidentes inspirações do polémico documentário de 2013 – “Black Fish” (de Gabriela Cowperthwaite) – o qual adverte ao espectador o perigo do cativeiro para algumas espécies marinhas e a hipocrisia das ditas instituições marinhas (com alusão à Sea World) que proclamam reabilitar os seus provisórios “habitantes”.

Claro que toda esta temática é uma “faca de dois gumes” que nunca é, de maneira alguma, debatida numa animação provida de claros fins morais. Novamente a família como o vetor de toda a demanda e a ingenuidade de uma educação ecológica de igual adjetivo. Obviamente que todo este teor é servido por um grafismo de “arrasar”, nunca a água teve de forma tão realista representada numa animação CGI, e um humor ligeiro anexado a algumas personagens construídas de forma inteligente. E sim, como não poderia faltar de enumerar, a aparição do primeiro casal homossexual numa produção animada da Disney, nem que seja por instantes, o que não deixa de ser uma pequena proeza.

Porém, não deixa ser desconcertante um filme, mesmo tendo como objetivo o público mais infantil e as famílias, apostar numa credibilidade, quer visual, quer comportamental, quer no argumento e no fim possuir uma ou outra “gafe” que nos faz pensar se os envolvidos pesquisaram alguma “coisa” sobre a condição de um peixe. Por fim, fica o conselho, não deixe as vossas crianças sozinhas perto de um aquário depois de assistirem a este filme, porventura poderão fazer o que acharem mais “correto”.

Os Melhores Filmes de 2015, segundo o Cinematograficamente Falando ...

Hugo Gomes, 27.12.15

Para dizer a verdade 2015 foi um ano produtivo em termos cinematográficos, o qual deparamos com futuros clássicos do cinema mundial e novos olhares que nos fazem acreditar na força desta Sétima Arte. Cinematograficamente Falando …, elabora as 10 melhores obras cinematográficas de 2015, um conjunto de talentos a ser descobertos, viagens vertiginosas, animações deslumbradas que revelam os nossos seres mais íntimos, e cinema que homenageia o próprio conceito de cinema.

 

10) Inside Out

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"No final, são poucos aqueles que não deixam ser dominados pela Alegria e ao mesmo tempo pela Tristeza. Um sorriso estampado nas nossas faces, consolidando com a triste beleza da derrota. A nossa derrota para com o tempo, onde as nossas preciosas memórias se desvanecem no horizonte longínquo da nossa mente. Como é tão raro encontrar um animação que nos faça sentir ... simplesmente mortais."

 

09) Whiplash

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"Resultado, em sintonia com o esforço tremendo de Mille Teller, temos um dos finais mais impares do cinema norte-americano recente, evidenciado um embate físico e psicológico entre dois actores de gerações completamente diferentes. Segundo algumas fontes, Whiplash esteve prestes a nunca sair do papel, mas quando saiu foi consagrado os prémios de Júri e de Público do Festival de Sundance e de momento encontra-se nomeado aos Óscares, nomeadamente a de Melhor Filme. Uma prova que obviamente o barulho causado pelo filme de Damien Chazelle fez-se ouvir."

 

08) João Bérnard da Costa: Outros Amarão as Coisas que eu Amei

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"Essa constante auto-analise, uma narrativa intercalada entre a linguagem própria do cinema (Ordet, de Carl Theodor Dreyer, o seu "favorito" Johnny Guitar, de Nicholas Ray, e até mesmo a mentira prolongada da cinematografia de Lubitsch) e os seus escritos lidos pelo seu filho, funciona como uma das pinceladas que contribuem para este esplendoroso retrato, o retrato de Bénard da Costa, o seu intimo hino de amor ao cinema partilhado por todos. Até porque, tal como indica o título - Outros Amarão as Coisas que eu Amei - Costa não está, nem esteve sozinho. Esta relação com o Cinema permanece intacta, cada vez mais amada, mesmo que as memórias tendem em tornar-se mais distantes, mas com imagens projetadas em tela, que tudo torna-se numa razão de existência. Do Cinema com Amor!"

 

07) Gett

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"A caricatura encontra-se de certa forma presente na descrição do tribunal, nas testemunhas que entretanto surgem em "palco", aludindo a críticas sociais, e no próprio processo ritualizado da simples facultação do divórcio. Visto como um herdeiro de 12 Angry Men, de Sidney Lumet, Gett ainda nos presenteia com um certo tom vintage. Este é um filme do qual será difícil nos divorciar."

 

06) Sicario

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"Para sermos exatos, este Sicario é tudo um pouco, um obra fabulista, um ensaio de realidade fincada, com toques variáveis de descrição dessa mesma realidade cinematográfica, um panfleto sem ser evidentemente um, ou um olhar sem julgamentos a um panorama conhecedor, contudo, mirado sob um receio pessimista (tal como é verificado no seu sublime e subliminar final, transcrevendo uma catarse aos sonhos de paz mundial que teimamos a prometer e a acreditar)."

 

05) Mad Max: Fury Road

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"Se formos descrever este Mad Max numa simplicidade quase massacrante, poderemos insinuar, e com convicção, que todo o filme é uma ida e volta, um autêntico "freak show" que não irá deixar defraudados quem tem como único propósito a diversão. Esteticamente é um novo Mad Max, porém, o modelo continua a ser o antigo."

 

04) A Most Violent Year

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"A juntar a este conto de o "Bom Ladrão", J.C. Chandor é dinâmico na sua planificação, encarando este trabalho como os pioneiros do género. Apesar de muita coisa ter acontecido de 1981 a 2014, em termos cinematográficos e de linguagem fílmica, A Most Violent Year não deve ser menosprezado. É um espectáculo violento, intenso e convicto como poucos. Façam o favor de prestar atenção neste realizador e no seu respetivo elenco." 

 

03) Birdman (The Unexpected Virtue of Ignorance)

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"Iñarritu reinventa-se, expõe-nos um filme inclassificável, um tipo de cinema de molda para cada espectador ao invés do contrário (o final é a indicação disso mesmo). O vencedor do Óscar de Melhor Filme de 2015 é uma atípica obra-prima do cinema moderno, uma parábola narrativa interdita a todos aqueles que preferem limitar à sua própria “sabedoria”. Vivemos numa sociedade de ignorantes e de hipócritas, guiados por egos injustificáveis e uma cultura desvalorizada."

 

02) The Tale of Princess Kaguya

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"Aliás é arte aquilo que corretamente devemos apelidar este The Tale of the Princess Kaguya, um festim de "paladares" para o olhar que arremata a lenda e a emancipa, adquirindo forma e vida própria em tela. Tocante, viciante, a história interminável, a fantasia possível pela animação, que por sua vez possível pela visão deste mestre. Um adeus terno, Isao Takahata deixará imensas saudades, e se vai."

 

01) As Mil e uma Noites

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"Desaparecido, enquanto corpo, porque a alma de autor encontra-se nas mais tenras veias deste Mil e uma Noites, a maior epopeia cinematográfica do cinema português."

 

Menções honrosas: Kreuzweg, Ex Machina, 45 Years, Clouds of Sils Maria, It Follows, Phoenix

"Inside Out": mas quem traduziu para “Divertida-Mente”?

Hugo Gomes, 22.06.15

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Não se deixem iludir pelo grafismo e o conceito em si. “Inside Out” está longe de ser mais um título direcionado para o público mais jovem. O seu alvo principal é outro, os graúdos e mesmo aqueles que estão a viver a pele de pais. Um coming-to-age pleno, o novo produto da Pixar remete-nos ao interior da mente de uma pré-adolescente desafiada pelas constantes mudanças que só a vida proporciona. No “quartel general” intrínseco a essa mesma jovem, Riley, encontramos um sistema computorizado onde cinco emoções prevalecem no comando (Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Repulsa), representados por “bonecos” arquétipos providos de personalidades correspondentes ao gene emocional.

Tendo em conta que as personagens principais são caracterizadas como emoções humanas, é evidente que este “Inside Out” aposta num conteúdo mais emocional e, nesse sentido, Peter Docter (o mesmo realizador de “Up”) cria um verdadeiro comboio de sentimentos onde sobretudo apresenta uma compaixão e empatia pelas suas personagens e pelo espectador.

Sim, a Pixar consegue regressar à sua velha forma, à aposta em conceitos irreverentes moldados em fórmulas clássicas e conservadoras que a animação familiar possui no cinema. É que depois das constantes “quedas” desde “Brave – Indomável”, o estúdio do “candeeiro saltitante” proporciona novamente personagens cativantes rodeadas por um elaborado humor slapstick, alternado com insinuações ou referências mais adultas (existe uma subtil sugestão sexual de Riley tendo em conta o género de personagens que “comandam” a sua mente).

A fantasia livre que se encontra dentro da mente de Riley pode variar entre o fértil e a pura preguiça disfarçada (este desequilíbrio foi também um dos problemas do anterior “Up”), mas no conjunto resulta como um prolongado simbolismo do cérebro humano. Mas voltando ao ponto inicial, é nas emoções que “Inside Out” revela-se poderoso, um choque nada contido que poderá causar no espectador as mais variadas sensações.

No final, são poucos aqueles que não deixam ser dominados pela Alegria e ao mesmo tempo pela Tristeza. Um sorriso estampado nas nossas faces, consolidando com a triste beleza da derrota. A nossa derrota para com o tempo, onde as nossas preciosas memórias se desvanecem no horizonte longínquo da nossa mente. Como é tão raro encontrar uma animação vinda de um grande estúdio como este a fazer-nos sentir … simplesmente mortais.