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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Vida selvagem italiana ...

Hugo Gomes, 03.03.22

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Nem tudo o que brilha é ouro, nem tudo o que é corrosivo e italiano é Sorrentino.I Predatori” segue a tendência de filmes-mosaicos que têm surgido perante a sociopolítica italiana contemporânea, tentando abraçar uma suposta linguagem irreverente e modernista (isto se o cinema não estivesse, praticamente, todo “inventado”).

Pietro Castellitto, filho do ator e realizador Sergio Castelitto (“Non ti muovere”), coloca em prática essa demanda de descortinamento de quotidianos suburbanos através de um enredo retalhado e esquartejado em sketches tragicómicos. Desta forma, deparamos com um veio condutor nos seus aparentes objetivos, ao encontro de uma moral epifânica que possa interligar aquelas histórias soltas, absurdistas e caricatamente cruéis, indivíduos terríveis e de má índole cuja empatia é por si só um desafio. Contudo, nessa procura de redenção ao execrável e à imoralidade, é possível entender um gesto coennesco de Castellitto na sua partitura, seja na procura de resoluções felizes aqueles descaracterizados humanos, seja pela oferenda empática num dos mais questionáveis personagens deste “punhado”.

Há quem chame filme de karma, há quem veja obscenidade na sua isenção de moralidades impositoras, e sobretudo há quem aponte provocação gratuita (anedoticamente representado naquele “jantar de família”, com rappers improvisados e privilegiados que somam palavras vazias e meras causas existencialistas). Ora bem, Castellitto se esforça em deixar uma marca sua (sendo uma primeira longa-metragem é impossível indicar com precisão) e ao mesmo tempo consoladora do cinema tendencial italiano, com apostas breves a uma estética abjeta (veja-se o tênis de mesa enfeitado com símbolos de identidade italiana) e de diálogos metralhados como posts de Tweet, e de igual efemeridade.

Quanto às comparações de Paolo Sorrentino, o estilismo e espiritualismo com que invade as suas obras é absolutamente nula aqui, porque nem sempre o que grasna é automaticamente pato. 

 

”Achas que foram os Lumières que inventaram o Cinema?” 

“Quem diabos são eles?”