Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

O terror sorridente para a nova geração ...

Hugo Gomes, 16.10.24

amile.jpg

Esta tendência de querer adivinhar o futuro é um risco que muitos ousam cometer, e muito mais no que requer em … eureka! … deparar com uma estética para anos posteriores. Desta feita, olhamos para a indústria alicerçada neste “Smile 2”, a sequela mais musculada do êxito (não inesperado devido ao marketing investido) de 2022 sob a assinatura de um estreante Parker Finn, que apenas havia induzido o conceito terrorífico e amaldiçoado em curtas enfiadas de rajada nos becos e cantos do Youtube

É verdade que, entre a disputa aquela disputa de gostos, quem colocou o “polegar para cima” na prequela não o baixará nesta continuação, o oposto será dificílimo até porque “Smile 2” não se atreve em descobrir a fórmula do fogo grego, é “mais e melhor” o seguimento do equação sequelite em Hollywood (e não só). Porém, é ao ver a construção dos seus jumpscares e a forma como estão conduzidos, que constatamos um condicionamento à linguagem contemporânea destas gerações (dependentes)ligadas às redes-sociais enquanto extensão dos seus mundos. 

Havia referido em 2023, o australiano “Talk to Me”, objeto de dois ex-youtubers e de hype envolvido pela A24, que não fora de todo explorado ou pensado pelos cinéfilos mais velhos, muitos deles ‘colados’ ao terror como algo estagnado e imutável, porém, é na reação triunfada entre os mais “novos”, que Hollywood descobriu um tratamento para futuras projeções. Nessa obra, um grupo de jovens se reúnem, tal como numa bandeja de ouija, invocando e aceitando serem possuídos por espíritos temporariamente na intenção da adrenalina e da experimentação de novas sensações, sempre presente as câmaras dos smartphones para depois serem lançados à viralidade da ‘world wide web’. Paralelamente, qualquer um de nós, ligados a essas mesmas redes, poderá certificar a panóplia de vídeos curtos, ora seguindo nas chamadas trends, ora de marcação de presença (mais o “estou aqui” do que “o que estou a ver”), e claro, o forjamento de sobrenaturalidade como ela própria uma experiência de sustos (igualmente “jumpscares”) avulso. 

O viral é um ponto crucial aqui, aliás prioridade, uma espécie de placebo à monotonia e ao fatalismo ora cada vez mais precoce destas gerações, os ditos fantasmas ou criaturas demoníacas entraram neste mundo como parte dele, e o abraço é mútuo, e de poucas estranhezas. No fundo é a revisitação da vertigem atrativa gerada pela ideia da “dark web”, daquele submundo informático sem vigilância que, histórias muitas e partilhadas entre grupos e chats, incluindo bizarrias, ilicitudes e até mesmo creepypasta, as tais maldições virulentas, alimentavam a nossa curiosidade, mórbida, “forçando-nos” a esse encontro, nem que seja imaginativo. 

Screen-Shot-2024-06-18-at-9.02.40-AM-e171871589861

Em “Smile 2”, à luz do anterior, a maldição necessita sempre de uma audiência para se propagar. De riso rasgado e o macabro (nesta continuação a violência está em alta) a ser exercido, olhamos para o percurso autodestrutivo de uma estrela pop em modo comeback após um acidente rodoviário e uns quantos assuntos não-resolvidos com álcool e estupefacientes como um negado canto de cisne, e após a “maldição” instalar são os variados jumpscares, a bitola do terror de estúdio, a comandar o filme que entra em vértices delirantes ocasionalmente. Mas é nesses sustos programados que contemplamos um revisitar das tendências e dos encantos fantasmagóricos da nova geração, a começar pelo doppelganger em modo uncanny valley que ainda propaga nos reels e tik-toks destas andanças, tentando com isso criar um mito urbano credível. Depois, a dependência desses novos ecrãs, não só na vida (o smartphone é a primeira ‘coisa’ a ser arrancada do bolso, por exemplo) como fuel para a narrativa ou do eventuais plot twists

Smile 2” cheira a esta nova geração, detém o sabor a essa ansiosa passividade (mesmo que a protagonista, uma Naomi Scott acima do pedido, se confronta, a certa altura, contra esse estado de espírito). Agora, se isso faz dele um bom ou mau filme seguindo a lógica da crítica de cinema binária, dependerá, aí está, do “gosto” ditatorial do crítico. O que mais interessa depois da experiência deste filme é entender que há uma indústria atenta e dedicada a aproximar-se do paladar destes novos fregueses, mimetizando essa estética de rede social e traduzir esses seus sustos fabricados para grande ecrã. Será que estamos a evidenciar o terror do futuro?

Sorri, estás a ser "amaldiçoado"

Hugo Gomes, 29.09.22

Smile-movie-film-horror-2022-Caitlin-Stasey-traile

smileblog-1655906305346.jpg

Ri, e o mundo rirá contigo. Chora, e o mundo chorará contigo”. Oldboy (Chan-wook Park, 2003)

Poderia ser motivo para sorrir, mas não o é, até porque em matéria de maldições, creepypasta e correntes, os japoneses demonstraram fazer tal com “uma perna às costas”, enquanto os americanos debatem pela credibilidade da sua sobrenaturalidade, prescrevendo a direito com a ideia, sem perceber que a linha reta leva-os a pisar nas mais variadas minas. Nem o “Minas e Armadilhas” resolveria a situação, “Smile” é terror industrial, bafiento na sua concepção (e nunca persistido), um embrulho amaldiçoada para nos apresentar os mesmos “rodriguinhos”, as mesmas personagens e obviamente as mesmas situações, que nos faz questionar se anos e anos de terror auto-referenciar conscientizou alguma coisa.

Dirigido por Parker Finn, esta sua primeira longa-metragem e grande aposta da Paramount Pictures para o competitivo mercado do cinema de terror (e 2022 tem-se revelado bem forte nessas forças), é uma consolidação aos seus anteriores e curtos trabalhos (“The Hidebehind” e “Laura Hasn’t Slept”, nesta última resgata a atriz Caitlin Stasey, o qual possui papel-chave na longa’), um sintoma de uma "tendência", estabelecendo a curta-metragem numa espécie de pitch para futuros projetos (aconteceu o mesmo com  Andy Muschietti [“Mama”] ou até David F. Sandberg [“Lights Out”], para referir dois casos neste universo de terror). 

Portanto, “Smile” prefere a extensão, confundindo isso com a densidade dramática das personagens (ou melhor, personagem, a de Sosie Bacon), acidentalmente inseridas num atormentado vórtice, onde o exercício de terror é limitado a uma só sequência (a mais próxima da dita curta), de sorrisinho amarelo prossegue para o amontoado de “jumpscares”, previstos e revistos, e acolhe o CGI como convidado de honra para o clímax (mais uma vez, o terror a pretender a artificialidade do que o textural - que saudades dos anos 80).

No fundo é toda uma experiência que não nos deixa sorridente, apesar de Parker Finn ter “olho” para transições e continuidades, sabe-nos a pouco perante o terror aqui adereçado (aviso à navegação, será tematicamente comparado a “It Follows”, de David Robert Mitchell, porém sem a sua evidente alusão a doenças venéreas).