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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Um "McCastro", se faz favor!

Hugo Gomes, 11.07.20

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O exímio piloto cubano, Juan Pablo Roque (aqui interpretado pelo brasileiro Wagner Moura), “deserta” da sua pátria (Cuba) através de um arriscado e elaborado plano que consiste em nadar do território cubano até à baía de Guantánamo (território norte-americano) para ser automaticamente detido pelas autoridades na sua chegada. Já no interior da prisão, Roque desvenda as suas intenções e os motivos que o levaram a exilar do regime de Fidel Castro. Nesse momento um dos guardas leva-lhe comida, McDonalds como se pode verificar nas embalagens típicas. Retirando cuidadosamente o hambúrguer da sua caixa de cartão, e após uma primeira e saboreada dentada, Roque dirige-se, com um sorriso de satisfação nos lábios, aos militares que o interrogam: “Anos a fio a comer ‘McCastro’, McDonalds parece-nos uma iguaria.”

Possivelmente é com essa mesma sensação, não prolongada durante anos, mas por alguns meses, que retidos no nosso confinamento e à mercê das propostas televisivas e de streaming, assistir a um “Wasp Network”, produção despersonalizada de Olivier Assayas, numa sala de cinema nos soa a tão raro pitéu. Mas não nos deixamos ser enganados pelo nosso “amarcord” em relação aos cinemas, o que vemos nesta grande tela é uma mistela histórica embrulhado num tecido adaptável a qualquer ecrã. Assim, artificiosamente parece ter sido construído, não por ser uma fruta da indústria virtualizada da Netflix, mas por esta nova “major” encontrar nele qualidades para apostar na sua distribuição e automaticamente retalho para o seu catálogo.

Pois bem, esquecendo por momentos todo este prato alternativo da nossa dieta cinematográfica, Olivier Assayas perde-se por amores pela história real da Rede Vespa, uma operação de espionagem levada a cabo pela Cuba de Fidel para travar os ataques terroristas no seu território promovidos pelos EUA. O enredo, esse, ostenta potencialidade nem que seja em formatos documentais ou seriados, ao invés disso temos uma metragem de duas horas e uns trocos. A única solução narrativa a administrar aqui é a mera esquematização de factos, caras e eventos, contada e despachada sem enfoque nem luzes de manifestação cinematográfica. E é triste Assayas condensar em tão enlatado produto, principalmente visto que o conhecemos em andanças mais capazes como “Clouds of Sils Maria” e “Summer Hours”, visto ter reunido novamente com o ator venezuelano Edgar Ramirez, basta verificar a sua capacidade de historieta num filme como “Carlos” (o filme e a minissérie).

Talvez o problema para o realizador seja a sua própria falta de ambição. Um amontoado de material que se encavalita um nos outros, ao invés de colidir numa só lente, numa só vivência e num só percurso, como Assayas tem feito até então. Além do mais, “Wasp Network” é tão frouxo (já pouco me restam palavras para a falta de personalidade) que nem sabe que partido tomar nesta intensa espionagem e contra-espionagem (a imparcialidade é um gesto inexistente e despersonalizado). Um autêntico “McCastro”!

Em Cuba, sê cubano ... ou qualquer outra coisa!

Hugo Gomes, 07.07.20

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A Netflix decidiu distribuir o mais recente (por enquanto) filme de Olivier Assayas, mas é como estivesse o produzido. Porque tal, como muitos produtos assinalados com “N” escarlate, chegou-nos um objeto anónimo, economizado até às costuras e despachado visualmente como fosse propício a todos os ecrãs.

Vindo do mesmo homem que nos trouxe Carlos, e posteriormente filmes como Clouds of Sils Maria, Summer Hours e (porque não) Personal Shopper, esperávamos mais do que uma mistela de factos históricos sem tomar partido algum (a imparcialidade é um gesto inexistente e despersonalizado) em prolongada espionagem para consigo próprio. Wasp Network soaria melhor em formato documental … pelo menos

Para Kristen Stewart, a minha "personal shopper"!

Hugo Gomes, 16.05.16

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Obrigado Kristen Stewart por teres mudado o rumo da tua carreira. Depois do incrível ensiao de metodologias performativas que fora "Clouds Sils Maria", estás a demonstrar que és uma actriz e tanto! Receio estares a virar uma das minhas preferidas. Sim, "Personal Shopper", thriller algures entre assombração e a engenhosa auto-descoberta, é capaz de ser melhor que 90% da treta de filmes de terror que nos vendem nas salas de cinema. Aliás, ser vaiado pelos mesmos críticos que atribuem cinco estrelas aos Capitães Américas desta vida, é um tremendo elogio.