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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Capitão América e a Guerra Televisiva

Hugo Gomes, 22.09.24

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‘Apanhado’ num desses canais por cabo, e deixado no ar como “música de fundo”, dou por mim maravilhado ao rever partes e partes de “Captain America: Civil War” no pequeno ecrã enquanto desfrutava de uma ceia, ou melhor, de um jantar a horas indecentes. E nesse vislumbre, deslumbrei-me com a seguinte ideia, há muito decretada, mas comprovada: tudo aquilo que via não se distinguia em nada dos enésimos seriados policiais ou de salvamento que transbordam as grelhas destes mesmos canais. A planificação, muito fechada, a sonoridade tão desinspirada, e até aqueles momentos explicativos do “plot”, com inúmeras reações do recetor da conversa, e além disso, a ação que perdeu a sua grandiosidade (ou se calhar nunca a teve), são características que não fazem avançar o filme do seu propósito de seriado. Recordo Nuno Markl numa das suas intervenções, sempre apaziguadoras e cheias de cultura pop, a defender este universo cinematográfico como “é a minha novela!”. Agora, dou-lhe razão: estes filmes não foram concebidos para o grande ecrã, mas sim para uso doméstico. Ou melhor, Martin Scorsese estava certo e simplesmente tudo aquilo não é Cinema. Até fui para a cama “contente”, recordando na altura da sua estreia o quão fui “massacrado” pelos geeks insaciáveis e proclamadores disto ser cinema “moderno”(?): sempre fora sofrível televisão, sabia-o desde o início. Isso e a Disney não dar a mínima para ambiguidades. A sua “política” (as aspas são importantes para a diferenciação) envelheceu muito mal!

Lição Nº [inserir algoritmo]: “boas ideias” não resultam (automaticamente) em “bons filmes”

Hugo Gomes, 23.08.16

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Esta é a história de Lucas Mateus (Ivo Canelas), um músico de carreira falhada que entra em depressão após descobrir que a sua namorada o traía com o seu melhor amigo, Pedro (João Tempera), que ao contrário do protagonista é um músico com uma carreira bem sucedida. Com as desilusões que se vão acumulando na sua vida, Lucas desesperadamente entra num ciclo vicioso de “carrologia”, uma arte de engate em que consiste “estudar” o conteúdo dos carrinhos de supermercado. É durante essa “caça a mulheres” que Lucas encontra, que conhece uma estranha rapariga, cuja principal particularidade é de viver dentro de um fato de dinossauro cor-de-rosa.

Na teoria, “Refrigerantes e Canções de Amor” soa como uma variação de criatividade “Sundance style”, mas o pior é quando chegamos realmente à prática, e aí sim, é onde “a dinossaura torce o rabo”. Escrito pelo humorista Nuno Markl, esta é uma comédia de ideias, porém, mal executadas em derivação de um malabarismo de tons, de uma realização ausente de frescura, por um overacting conformado por muitas das suas estrelas e por um timing incorretamente aplicado. 

Devo dizer que esta obra tem de tudo para funcionar como um case study, exibido em qualquer aula de preparação para estudantes de cinema nos termos do que se “deve ou não fazer”. Verdadeiramente triste que isso aconteça, até porque no leme deste projeto está o veterano Luís Galvão Teles, que ainda este ano presenteou-nos com a louvada tentativa de “Gelo”, um filme de ficção científica que não envergonha ninguém. Infelizmente é na sua direção que encontramos a “faca de dois gumes” deste “Refrigerantes e Canções de Amor”, se por um lado a realização de Galvão Teles afasta-nos da usual linguagem televisiva que empesta as produções comerciais (*cof*O Pátio das Cantigas *cof*), é nele que encontramos o desleixo total, confirmado no patético clímax, onde não existe qualquer noção espacial e até temporal.

Sim, meus caros, “Refrigerantes e Canções de Amor” é um produto falhado, sem amor nem carinho, despachado e dilacerado precocemente. Algo bom nisto tudo é Victoria Guerra, que mesmo deixada à sua mercê no interior de um fato de dinossauro rosa, consegue graciosamente contagiar-nos com o seu talento. Aliás é nela que encontramos o termo de requisitada interpretação, onde os gestos e a voz valem mais que muitas expressões faciais.