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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Hellboy!!! ... não é o filme que pedimos, muito menos o que merecíamos

Hugo Gomes, 11.04.19

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"Tão cedo!!", diríamos todos nós em uníssono perante mais um "reboot" feito por Hollywood. O que acontece é que este não era à partida o “Hellboy” que pretendemos ver nas salas de cinema, mas ... de momento é aquilo que temos e é um facto que devemos temer aquilo que nos dão.

Criado em 1991 por Mike Mignola, "Hellboy" é um dos símbolos máximos da editora Dark Horse, uma BD que se converteu num respeitado culto, o qual foi impulsionado pela adaptação de 2004 de Guillermo Del Toro. Num ano em que o cinema de super-heróis se demarcava a passos triunfantes da série B em que estava aprisionado nos anos 90, a personagem de Mignola ganhou vida com Ron Perlman, que atribuiu, acima de tudo, feições humanizadas ao "monstro". Apesar de não ter brilhado nas bilheteiras, a obra atingiu um certo estatuto durante a sua "digressão" pelo "home video", o que motivou uns quantos "spin-offs" animados e uma sequela, "The Golden Army", também assinada por Del Toro. Que, por azar, estreou pouco depois de “The Dark Knight”, de Christopher Nolan, filme como se sabe, valorizado pela interpretação do recentemente falecido Heath Ledger como Joker, causou um alvoroço e tanto nas bilheteiras de todo o Mundo.

O díptico apenas conseguiu arrecadar uma modesta quantia de 260 milhões de dólares totais e globais, que pouco deram para os gastos das respectivas produções (se contarmos com os valores de marketing). E tendo em conta o insucesso do último tomo da saga, mesmo com aberturas para sequela (os fãs salivava por ela), o estúdio tardou a financiar um terceiro filme. Entretanto, Del Toro partiu para a jornada da Terra Média (foi cotado como realizador de “The Hobbit”, tarefa que acabou por ser devolvida a Peter Jackson após a sua desistência) e sucessivamente para “Pacific Rim”, “Crimson Peak” e o premiado The Shape of Water (vencedor do Leão de Ouro de Veneza, assim como o Óscar de Melhor Filme). Pelo meio, a história perdeu-se, o projeto de um terceiro filme caiu e a produtora Lionsgate partiu para a aventura com novo maestro e orquestra.

O agora conductor é Neil Marshall, anteriormente realizador de culto, com filmes como “Dog Soldiers” (2002), “The Descent” (2005) e o subvalorizado “Doomsday” (2008), atualmente convertido a tarefeiro da HBO com alguns episódios de “Game of Thrones”, que transporta a imaginação de Mike Mignola para um frenesim tecnológico. E o principal membro da sua orquestra é David Harbour, que tendo o sucesso da série da Netflix “Stranger Things” no currículo, encarna o "filho do Diabo" com a convicção necessária, mesmo não possuindo o dito humanismo demarcado por Perlman (graças ao desenvolvimento conseguido por Del Toro). De facto, assume-se como o melhor deste "reboot", expondo um sarcasmo garantido que, de certo jeito, reflete-se como autoparódia de toda a produção.

O resto? Mesmo com as recontagens existentes nos trabalhos de Del Toro, este novo “Hellboy” carece, não de alma, mas de carnalidade. Possivelmente culpa dos gastos em CGI em prol de uma orgia completa de artificiais criaturas e “rios” de sangue, ao contrário do trabalho delicado nos efeitos práticos dos anteriores. Mas a pior descostura é a condução narrativa: mesmo sentindo um esforço hercúleo de tentar encontrar uma focada luz nos trambolhões que o conceito oferece, é uma verdadeira indulgência. As personagens secundarizadas estão lá como marcos posicionais da intriga (a promessa representada por Sasha Lane, vista em “American Honey”, é desaproveitada, com um boneco como desculpa de personagem) e as questões inerentes do protagonista, para as quais foram precisos dois filmes para desenvolver, são orientadas como das mais leves afrontas.

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Mas o que interessa isso? Prevemos que tenha sido esta a pergunta retórica colocada pelos envolvidos do projeto, visto que “Hellboy” apresenta uma tremenda imaturidade no tratamento do seu material, que é um obstáculo para a superação do seu maior desafio:  manter os olhos do espectador do século XXI, rodeado de distrações e com uma concentração frágil, "colados" ao grande ecrã. Para isso, sacrificam-se impasses nas ideologias que se pretendem abordar para efeitos de solidificar a personagem principal, a atmosfera torna-se numa futilidade e a narrativa é despachada e completamente virada para uma ostentação a nível visual.

Ao referir a sua estética, deparamo-nos com um verdadeiro embaraço: desde os efeitos visuais até à condução das sequências de ação, tudo é regido numa linguagem dita de videojogo. Isso adivinha-se a léguas após o prólogo, que, como o costume, coloca o espectador no contexto narrativo do “macguffin” (o "objeto" ou a "missão" que o filme desenvolverá como fio condutor), onde presenciamos o feiticeiro Merlin (Brian Gleeson) a rebaixar o seu capuz, num movimento acompanhado com “slow motion”. Questionamos o porquê daquele inserido efeito, para entendermos que é essa a verdadeira essência do filme - nada disto faz sentido algum na arte de contar uma história. Arte que aqui, reforçamos, escasseia.

Se Guillermo Del Toro tentou, através das suas forças, retirar Hellboy das sombras, Neil Marshall as devolve ... e isso não é bom sinal!

Cinematograficamente Falando ... apresenta: Top Filmes de Lobisomens

Hugo Gomes, 11.10.14

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Licantropos, homens-lobos, “cadeirudos”… mas acima de tudo lobisomens, essas criaturas que há séculos preenchem o nosso imaginário e alimentam os nossos medos. Eles representam os nossos temores mais primitivos: a metamorfose animalesca, as maldições, a dupla de garras e dentes, a regressão do Homem ao animal que existe dentro de si. Praticamente todas as culturas têm uma história com este conceito, um relato universal que encontrou no Cinema a sua plataforma de difusão, entre bestas peludas e transformações extraordinárias, instintos sanguinários ou o romanesco nas suas amarras. Lobisomens e os seus filmes, em Cinematograficamente Falando... sujeitos a um top (leia-se em entrelinhas, um guia essencial).

 

#10) Le Pact Des Loups (Christophe Gans, 2001)

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Filme francês que relata os ataques de uma besta lupiforme que aterroriza uma aldeia no século XVIII. Uma irmandade decide erradicar o monstro, lançando-se numa missão perigosa. Esta mega-produção gaulesa tornou-se historicamente numa das estreias francesas em terras do Tio Sam, além de ter angariado sucesso (e culto) em outros países. Apesar das péssimas críticas recebidas na altura, “Le Pacte des Loups” resulta numa fita visualmente e tematicamente irrequieta, cruzando elementos de terror, thriller, drama e até mesmo variações de wuxia, uma esquizofrenia identitária que lhe atribui um certo toque de graça. Com Vincent Cassel, Marc Dacascos e Monica Bellucci nos papeis principais.

 

#09) Legend of the Werewolf (Freddie Francis, 1975)

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Hammer Studios, considerado um dos mais poríferos estúdios especializados em terror entre os anos 50 e 70, esteve envolvido na ressurreição da lenda do Homem-Lobo, assim como em outros “monstros universais” do cinema. Peter Cushing é a estrela desta variação da licantropia. A história centra-se numa criança que, após a morte dos seus pais, é criada por lobos. Mais tarde, é integrado num circo ambulante, até fugir para Paris na fase adulta. Lá apaixona-se por uma prostituta, e é então que as matanças começam.

 

#08) Dog Soldiers (Neil Marshall, 2002)

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Durante um exercício militar nas florestas britânicas, um pelotão de soldados é confrontado com uma alcateia de corpulentos lobos com um instinto assassino de primeira classe. Após várias mortes, muito sangue e perseguições, descobrem que estas bestas caninas são, na verdade, soldados convertidos. Do realizador de “Doomsday” e “The Descent”, surge um filme de ação e terror com tudo no lugar certo, onde um grupo de lobisomens se revela como verdadeiros animais sedentos de sangue.

 

#07) Bad Moon (Eric Red, 1996)

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Eric Red, o argumentista dos célebres “Near Dark” (Kathryn Bigelow, 1987) e “The Hitcher” (Robert Harmon, 1986), decidiu realizar o seu próprio filme de terror, desta vez com lobisomens. Embora o orçamento disponibilizado tenha sido bastante reduzido, isso não impediu Red de usar toda a sua criatividade para nos trazer uma das obras mais sangrentas do género nos anos 90. Um caso curioso no universo licantropo.

 

#06) Wolf (Mike Nichols, 1994)

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Jack Nicholson é mordido por um lobo e, como consequência, transforma-se numa besta sedenta de sangue durante as noites de Lua Cheia. Realizado pelo aclamado cineasta de “The Graduate” e de “Closer”, esta é uma versão moderna do clássico mito do lobisomem. Para além de Nicholson, cujas suas idiossincrasias o primam enquanto personagem em constante conflito animalesco, podemos contar ainda com a presença magnética de Michelle Pfeiffer, como o trágico interesse romântico.

 

#05) Werewolf Of London (Stuart Walker, 1935)

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O primeiro filme de lobisomens com o cunho da Universal Pictures, que apesar de ser um marco nesse universo, revelou-se num fiasco de bilheteira, não conquistando de imediato o público ao longo dos anos (sendo que a versão de 1941 com Lon Chaney Jr. assumiria o título do genuíno filme de licantropia por décadas). Talvez seja o filme mais esquecido desta lista. Henry Hull foi o ator escolhido para vestir a pele (ou pêlo) da trágica personagem, e o suco de uma rara flor tibetana - mariphasa - é a única coisa que pode pôr fim à sua maldição.

 

#04) Ladyhawke (Richard Donner, 1985)

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Trata-se da variação menos ortodoxa de lobisomens nesta lista. Na verdade, é um romance impossível entre duas figuras trágicas e amaldiçoadas. Michelle Pfeiffer (no auge da sua beleza) interpreta uma mulher que, durante o dia, se transforma num falcão, enquanto à noite assume a sua forma humana. Em contraste, Rutger Hauer interpreta um cavaleiro que é humano de dia e um lobo à noite. Ambos estão apaixonados, mas destinados a um desencontro constante. “Ladyhawke”, um romance do fantástico popularizado na sua década, e que hoje encontra uma tímida luz de revisionismo.

 

#03) The Wolf Man (George Waggner, 1941)

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Lon Chaney Jr. foi o ator que celebrizou a imagem do lobisomem tal como a conhecemos hoje. Após o fracasso de “Werewolf of London”, a Universal decidiu refazer o legado, completando assim a sua galeria de monstros, que já incluía “Frankenstein” (James Whale, 1931), “Dracula” (Tod Browning, 1931) e “The Mummy” (Karl Freund, 1932). Esta é considerada a melhor interpretação de Lon Chaney Jr., que rapidamente redefiniu a imagem generalizada do Homem-Lobo como uma besta bípede, peluda, com traços humanos e dentes afiados como os de um lobo. Uma fita essencial para qualquer fã destas criaturas.

 

#02) The Company of Wolves (Neil Jordan, 1984)

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Uma reinvenção da fábula do Capuchinho Vermelho, dos irmãos Grimm, no qual Neil Jordan a transforma numa parábola sobre histórias de lobisomens e outras licantropias. Com um certo apetite erótico, “The Company of Wolves” é um exercício apuradamente técnico e cenográfico. O filme venceu quatro prémios na edição do Fantasporto de 1985, incluindo Melhor Filme, Prémio do Público e Prémio da Crítica. Dez anos mais tarde, Neil Jordan aventuraria-se na senda dos vampiros na adaptação do bestseller de Anne Rice, “Interview with the Vampire”, com Tom Cruise e Brad Pitt.

 

#01) “An American Werewolf in London” (John Landis, 1981)

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Um cruzamento entre comédia e terror à moda de John Landis (curiosamente, com apenas 31 anos), “An American Werewolf in London” é uma fita de lobisomens que exigiu um excelente trabalho técnico em efeitos especiais práticos. O resultado é uma das melhores (se não a melhor) representações de uma metamorfose em grande tela. Inteligente e inovadora, esta obra tornou-se um modelo a seguir no género dos licantropos, e infelizmente uma pesada comparação para os seus eventuais sucessores. Devido ao sucesso do filme, Michael Jackson contratou Landis para trabalhar no videoclipe de Thriller, e aí a história foi novamente feita.

 

Menções Honrosas

The Howling (Joe Dante, 1981)

Underworld (Len Wiseman, 2003)

Ginger Snaps (John Fawcett, 2000)

The Beast Must Die (Paul Annett, 1974)

Frankenstein Meets the Wolf Man (Roy William Neill, 1943)

Howling III: The Marsupials (Philippe Mora, 1987)

 

Pequena porção, temperamento do tamanho do mundo

Hugo Gomes, 30.04.14

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Com Denzel Washington em "Heart Condition" (James D. Parriott, 1990)

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Na altura um fracasso financeiro e de crítica, hoje constantemente reavaliado: "The Cotton Club" (Francis Ford Coppola, 1984)

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Ao lado de Rhona Mitra no pós-apocalíptico "Doomsday" (Neil Marshall, 2008)

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Na distopia delirante de Terry Gilliam (Brazil, 1985)

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Foi o célebre personagem de videojogo Mário com John Leguizamo no colossal fiasco "Super Mario Bros." (Annabel Jankel & Rocky Morton, 1993)

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Como 'dono' de Jet Li em "Danny The Dog" / "Unleashed" (Louis Leterrier, 2005)

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Na Terra do Nunca com Dustin Hoffman num dos filmes menos relembrados da carreira de Steven Spielberg (Hook, 1991)

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Definitivamente o seu papel mais citado, "Who Framed Roger Rabbit?" (Robert Zemeckis, 1988)

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A sua colaboração com o realizador Neil Jordan e com a atriz Cathy Tyson em "Mona Lisa" (1986)

 

Bob Hoskins (1942 - 2014)