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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Isabelle Huppert é uma mulher a temer, e isso já sabíamos

Hugo Gomes, 10.04.19

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Poderá soar descontextualizado, mas vamos desenhar uma linha reta a unir esta "Greta", o mais recente filme de Neil Jordan, e o imensamente debatido “The Village”, de M. Night Shyamalan. O filme de 2004, semi-fracasso nas bilheteiras norte-americanas e completamente arrasado pela crítica local, apresentava-se como uma parábola a uma América pós-11 de setembro, inteirado numa paranoia e cultura de medo ao suposto perigo vindo do lado de fora da fronteira. Com isto era uma América desconfiada e que tudo fazia para manter os seus cidadãos numa imaginária redoma. Não é novidade que essa mesma cultura suscitou o país de hoje, que também teve algumas repercussões no resto do mundo.

Mas onde entra "Greta" nisto tudo? Certamente que entre os dois filmes surgiram outros exercícios de tais parábolas e representações fílmicas, mas "Greta" instala-se num cenário onde a dita cultura do medo encontra-se enraizada nos genes destes habitantes. Até porque este "thriller" parte de uma simples premissa: "castigo aos bons samaritanos". Frances McCullen (Chloë Grace Moretz) é essa ingenuidade em pessoa que, eventualmente, será atormentada pela prática do civilmente correto. A jovem, recém-chegada a Nova Iorque, depara-se com uma bolsa perdida numa das carruagens do metro que apanha diariamente. Apesar da desaprovação da amiga e colega de apartamento (Maika Monroe), Frances decide entregar a mala em mãos da pessoa que a perdeu, uma tal Greta Hideg (Isabelle Huppert).

Depois do ato generoso, Frances encara Greta como uma viúva solitária e portanto, está determinada a criar laços com a mulher, desconhecendo o seu passado e porque não… presente. O que vem a seguir é a citação de todo uma lista de características "stalker", com Huppert a realçar uma resumida personagem-fusão da sua carreira, nomeadamente, buscando as variações estabelecidas pelas suas presenças nas obras de Michael Haneke (“La Pianiste”, “Happy End”), Paul Verhoeven (“Elle”) e Hal Hartley (“Amateur). Escusado será afirmar que é ela, mesmo sob um certo automatismo, o grande vetor de um filme que se irá barricar nos convencionais códigos dos contos-psicopatas ou dos "jumpscares" imensamente invocados no género. Nesse sentido, a viagem cinematográfica faz-se pelo menor esforço por parte de Neil Jordan e longe de imprevisibilidades que nos valha.

Contudo, voltando ao ponto inicial, essa cadeia do medo do "estrangeiro" e da “anormalidade” que perturba o nosso quotidiano, a bolsa encontrada e reavida vai contra os princípios implementados nos EUA pós-11/09, que dava (e continua a dar) enfoque à vigilância. "If you see something, say something" [“se vir alguma coisa, diga alguma coisa”], assim era o lema lançado pelo Departamento de Segurança Interna. Acrescentar a isso, a escolha da francesa Huppert como uma estrangeira antagonista, a "serpente" a desvirtuar as qualidades do "bom americano".

Porém, “The Village” era uma obra para refletirmos sobre tais elementos, enquanto que "Greta" é o inconsciente gerado por essas partituras.

Cinematograficamente Falando ... apresenta: Top Filmes de Lobisomens

Hugo Gomes, 11.10.14

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Licantropos, homens-lobos, “cadeirudos”… mas acima de tudo lobisomens, essas criaturas que há séculos preenchem o nosso imaginário e alimentam os nossos medos. Eles representam os nossos temores mais primitivos: a metamorfose animalesca, as maldições, a dupla de garras e dentes, a regressão do Homem ao animal que existe dentro de si. Praticamente todas as culturas têm uma história com este conceito, um relato universal que encontrou no Cinema a sua plataforma de difusão, entre bestas peludas e transformações extraordinárias, instintos sanguinários ou o romanesco nas suas amarras. Lobisomens e os seus filmes, em Cinematograficamente Falando... sujeitos a um top (leia-se em entrelinhas, um guia essencial).

 

#10) Le Pact Des Loups (Christophe Gans, 2001)

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Filme francês que relata os ataques de uma besta lupiforme que aterroriza uma aldeia no século XVIII. Uma irmandade decide erradicar o monstro, lançando-se numa missão perigosa. Esta mega-produção gaulesa tornou-se historicamente numa das estreias francesas em terras do Tio Sam, além de ter angariado sucesso (e culto) em outros países. Apesar das péssimas críticas recebidas na altura, “Le Pacte des Loups” resulta numa fita visualmente e tematicamente irrequieta, cruzando elementos de terror, thriller, drama e até mesmo variações de wuxia, uma esquizofrenia identitária que lhe atribui um certo toque de graça. Com Vincent Cassel, Marc Dacascos e Monica Bellucci nos papeis principais.

 

#09) Legend of the Werewolf (Freddie Francis, 1975)

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Hammer Studios, considerado um dos mais poríferos estúdios especializados em terror entre os anos 50 e 70, esteve envolvido na ressurreição da lenda do Homem-Lobo, assim como em outros “monstros universais” do cinema. Peter Cushing é a estrela desta variação da licantropia. A história centra-se numa criança que, após a morte dos seus pais, é criada por lobos. Mais tarde, é integrado num circo ambulante, até fugir para Paris na fase adulta. Lá apaixona-se por uma prostituta, e é então que as matanças começam.

 

#08) Dog Soldiers (Neil Marshall, 2002)

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Durante um exercício militar nas florestas britânicas, um pelotão de soldados é confrontado com uma alcateia de corpulentos lobos com um instinto assassino de primeira classe. Após várias mortes, muito sangue e perseguições, descobrem que estas bestas caninas são, na verdade, soldados convertidos. Do realizador de “Doomsday” e “The Descent”, surge um filme de ação e terror com tudo no lugar certo, onde um grupo de lobisomens se revela como verdadeiros animais sedentos de sangue.

 

#07) Bad Moon (Eric Red, 1996)

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Eric Red, o argumentista dos célebres “Near Dark” (Kathryn Bigelow, 1987) e “The Hitcher” (Robert Harmon, 1986), decidiu realizar o seu próprio filme de terror, desta vez com lobisomens. Embora o orçamento disponibilizado tenha sido bastante reduzido, isso não impediu Red de usar toda a sua criatividade para nos trazer uma das obras mais sangrentas do género nos anos 90. Um caso curioso no universo licantropo.

 

#06) Wolf (Mike Nichols, 1994)

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Jack Nicholson é mordido por um lobo e, como consequência, transforma-se numa besta sedenta de sangue durante as noites de Lua Cheia. Realizado pelo aclamado cineasta de “The Graduate” e de “Closer”, esta é uma versão moderna do clássico mito do lobisomem. Para além de Nicholson, cujas suas idiossincrasias o primam enquanto personagem em constante conflito animalesco, podemos contar ainda com a presença magnética de Michelle Pfeiffer, como o trágico interesse romântico.

 

#05) Werewolf Of London (Stuart Walker, 1935)

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O primeiro filme de lobisomens com o cunho da Universal Pictures, que apesar de ser um marco nesse universo, revelou-se num fiasco de bilheteira, não conquistando de imediato o público ao longo dos anos (sendo que a versão de 1941 com Lon Chaney Jr. assumiria o título do genuíno filme de licantropia por décadas). Talvez seja o filme mais esquecido desta lista. Henry Hull foi o ator escolhido para vestir a pele (ou pêlo) da trágica personagem, e o suco de uma rara flor tibetana - mariphasa - é a única coisa que pode pôr fim à sua maldição.

 

#04) Ladyhawke (Richard Donner, 1985)

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Trata-se da variação menos ortodoxa de lobisomens nesta lista. Na verdade, é um romance impossível entre duas figuras trágicas e amaldiçoadas. Michelle Pfeiffer (no auge da sua beleza) interpreta uma mulher que, durante o dia, se transforma num falcão, enquanto à noite assume a sua forma humana. Em contraste, Rutger Hauer interpreta um cavaleiro que é humano de dia e um lobo à noite. Ambos estão apaixonados, mas destinados a um desencontro constante. “Ladyhawke”, um romance do fantástico popularizado na sua década, e que hoje encontra uma tímida luz de revisionismo.

 

#03) The Wolf Man (George Waggner, 1941)

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Lon Chaney Jr. foi o ator que celebrizou a imagem do lobisomem tal como a conhecemos hoje. Após o fracasso de “Werewolf of London”, a Universal decidiu refazer o legado, completando assim a sua galeria de monstros, que já incluía “Frankenstein” (James Whale, 1931), “Dracula” (Tod Browning, 1931) e “The Mummy” (Karl Freund, 1932). Esta é considerada a melhor interpretação de Lon Chaney Jr., que rapidamente redefiniu a imagem generalizada do Homem-Lobo como uma besta bípede, peluda, com traços humanos e dentes afiados como os de um lobo. Uma fita essencial para qualquer fã destas criaturas.

 

#02) The Company of Wolves (Neil Jordan, 1984)

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Uma reinvenção da fábula do Capuchinho Vermelho, dos irmãos Grimm, no qual Neil Jordan a transforma numa parábola sobre histórias de lobisomens e outras licantropias. Com um certo apetite erótico, “The Company of Wolves” é um exercício apuradamente técnico e cenográfico. O filme venceu quatro prémios na edição do Fantasporto de 1985, incluindo Melhor Filme, Prémio do Público e Prémio da Crítica. Dez anos mais tarde, Neil Jordan aventuraria-se na senda dos vampiros na adaptação do bestseller de Anne Rice, “Interview with the Vampire”, com Tom Cruise e Brad Pitt.

 

#01) “An American Werewolf in London” (John Landis, 1981)

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Um cruzamento entre comédia e terror à moda de John Landis (curiosamente, com apenas 31 anos), “An American Werewolf in London” é uma fita de lobisomens que exigiu um excelente trabalho técnico em efeitos especiais práticos. O resultado é uma das melhores (se não a melhor) representações de uma metamorfose em grande tela. Inteligente e inovadora, esta obra tornou-se um modelo a seguir no género dos licantropos, e infelizmente uma pesada comparação para os seus eventuais sucessores. Devido ao sucesso do filme, Michael Jackson contratou Landis para trabalhar no videoclipe de Thriller, e aí a história foi novamente feita.

 

Menções Honrosas

The Howling (Joe Dante, 1981)

Underworld (Len Wiseman, 2003)

Ginger Snaps (John Fawcett, 2000)

The Beast Must Die (Paul Annett, 1974)

Frankenstein Meets the Wolf Man (Roy William Neill, 1943)

Howling III: The Marsupials (Philippe Mora, 1987)

 

Pequena porção, temperamento do tamanho do mundo

Hugo Gomes, 30.04.14

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Com Denzel Washington em "Heart Condition" (James D. Parriott, 1990)

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Na altura um fracasso financeiro e de crítica, hoje constantemente reavaliado: "The Cotton Club" (Francis Ford Coppola, 1984)

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Ao lado de Rhona Mitra no pós-apocalíptico "Doomsday" (Neil Marshall, 2008)

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Na distopia delirante de Terry Gilliam (Brazil, 1985)

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Foi o célebre personagem de videojogo Mário com John Leguizamo no colossal fiasco "Super Mario Bros." (Annabel Jankel & Rocky Morton, 1993)

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Como 'dono' de Jet Li em "Danny The Dog" / "Unleashed" (Louis Leterrier, 2005)

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Na Terra do Nunca com Dustin Hoffman num dos filmes menos relembrados da carreira de Steven Spielberg (Hook, 1991)

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Definitivamente o seu papel mais citado, "Who Framed Roger Rabbit?" (Robert Zemeckis, 1988)

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A sua colaboração com o realizador Neil Jordan e com a atriz Cathy Tyson em "Mona Lisa" (1986)

 

Bob Hoskins (1942 - 2014)