Burlões e diabos à tona
Que consequência terá a legitimação “o Diabo obrigou-me a fazê-lo” na defesa de um assassino num sistema jurídico? A questão pertinente é colocada durante os créditos finais deste terceiro “The Conjuring” com as imagens reais de uma entrevista com os verdadeiros Ed e Lorraine Warren sobre as eventuais “portas abertas” que poderia suscitar o mediático caso de Arne Cheyenne Johnson, o jovem que, em 1981, alegou ter sido possuído por entidades demoníacos que o levaram a cometer um brutal homicídio.
Qualquer debate sobre esta reflexão no campo da justiça norte-americana é inexistente no filme, tanto mais que a saga sempre teve a “audácia” de branquear a ambiguidade do trabalho dos investigadores (muitos casos mediáticos comprovaram-se como farsas, como o do poltergeist de Enfield, ocorrido entre 1977 a 1979, que inspirou o segundo filme) e limita-se a um simples punhado de sustos. Ou, pelo menos, é o que nos prometem: sem James Wan na direção e com Michael Chaves, vindo da “The Curse of La Llorona” (também pertencente a este universo), a saga “Conjuring” parece estar a perder gás. A substituição de um realizador nota-se a léguas e já não existe aquele trabalho para com os espaços e o cálculo dos “jumpscares” como parte de um teatrinho de horrores com que Wan sempre nos brindara.
O que sobra? A mera condução formatada, aproximando a saga ao que sempre foi e que muitos têm negado ao recitar a chamada "política dos autores”: um genérico “filme de terror de estúdio”. Para além da previsibilidade, o mecanismo de sustos perdeu elegância, apoiando-se em montagens rápidas e amontoadas umas nas outras sem qualquer dicção, uma situação agravada patologicamente pelo estapafúrdio clímax (já tão habitual neste tipo de produções).
De resto, são as historietas dos costumes e de costureiras. Vera Farmiga e Patrick Wilson, os ditos Warren, são os únicos pontos de interesse nesta intriga (pudera, tiveram dois filmes de avanço para a construção das personagens). As sobras são meros adereços, bonecos e atalhos para as atrações fatais dos "sustos" com que bem estamos familiarizados. Depois disto, há que brandar aos céus e pedir a todos os “santinhos” que se encerre de uma vez o capítulo dos Warrens, investigadores do paranormal beato para alguns, burlões para outros.