Em nome de Bay e do espírito santo ... yahoo!
Um quarto “Bad Boys” estava longe de integrar listas de sequelas mais desejadas, sendo que o terceiro filme - “Bad Boys For Life” - foi um dos últimos grandes êxitos [mais de 400 milhões de dólares em todo o mundo] antes do chamado e traumático lockdown de 2020. Portanto, da minha parte, ver Will Smith e Martin Lawrence, ‘velhotes’ a brincar aos buddies cops com testosterona em níveis máximos e em modo hiperativo e estilizado, é um regressar aos tempos de uma pandemia à porta e de uma Hollywood inapta em agir perante um iminente fecho dos cinemas. O aroma é idêntico, mas visto termos aqui a finalização da quadrilogia, e um pós-bofetada de Will Smith (o filme não deixa escapar esse zeitgeist como gag), embarcamos noutra tendência para lá da estante de “sequelas desnecessárias”, que é a deserdação, seja estilista ou formalizada, de franchises estabelecidos.
Resume-se a um sintoma da ultra-capitalização inserida em sagas em determinados atributos, espelhados como “marcas autorais” do seu conjunto, os distinguem dos demais. Esta Hollywood recusa a deixar franchises morrer e ao invés de declarar o seu óbito persiste em transferir o seu assinante, muitas vezes mimetização estéticas e narrativas dos anteriores, um “fenómeno” cada vez mais incessante. Vejamos; a Indiana Jones é cortado a sua rédea com Spielberg e sob novo senhorio reproduz o seu desgastado arco narrativo na desculpa de um “canto de cisne” apropriado, Star Wars, por sua vez, foi ‘roubado’ de George Lucas e entregue à disneyficação e normalização de uma franquia vista em tempos como eventos fulgurantes da cultura pop, Wes Craven deixou-nos de vez, e Kevin Williamson é recebido com um “pontapé no traseiro” e mesmo assim “Scream” prossegue na meta da meta linguagem e na escassez das suas ideias, enquanto isso, as notícias correm e pelos vistos teremos outro “Matrix”, mas desta vez sem as irmãs Wachowski.
Desde o seu muito demorado terceiro filme, “Bad Boys” emancipou-se de Michael Bay, só que nunca do seu frenesim barulhento; aliás, o espírito dele guia em todas as direções a acelerada batuta da dupla repetente Adil El Arbi e Bilall Fallah … nunca os abandonou… e até está lá fisicamente e em caricata vénia ao “legado” (basta procurar). Portanto, e noutro registo, é uma receita caseira oriunda da nossa querida avó que é executada por outras mãos: os ingredientes são os mesmos, o resultado é que não. E pior, soa-nos ultrapassado, regurgitado e rebelado contra o seu criador.
Enquanto os filmes de 1995 e 2003 correspondiam ao seu tempo e à progressão de Bay na sua devida “praia” (um mais contido, o outro dotado de hiperbólicos exageros), este “Bad Boys: Ride or Die” é deslocado e, em certa maneira, envelhecido, teimosamente envelhecido, negando essa mesma decrepitude na crença de uma jovial e fresca essência. Pode-se dizer que calhou um melhor argumento em relação ao anterior, e uma ação mais estilizada quanto ao seu estilismo de videojogo shoot’em up, mas tudo faz parte da promessa de um final mais digno ao franchise, não vá o box office trair o plano neste constante extração de Bay sem Bay ao volante.