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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Robôs alienígenas são o que unem Michael Bay e Orson Welles!

Hugo Gomes, 06.06.23

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A caminho do visionamento de imprensa do novo “Transformers”, deparo-me com a onda de críticas “yankees” a preencher o meu feed virtual devido ao levantamento do embargo, entre elas, uma da Variety que ostentava o título - “A Less Bombastic, More Relatable Sequel” (“Menos bombástico e mais relacionável sequela”, isto em tradução literal). Dou por mim a pensar, possivelmente consolado de que não será um Michael Bay show que verei nas próximas horas. 

Já isso tinha sido firmado com o antecessor reboot Bumblebee”, a essência de ser mais Spielberg do que o realizador assinante dos cinco anteriores filmes. Porém, como havia referido nessa estreia, e novamente sentindo, o paradoxo de Bay, com ou sem. Ora se sem Bay relaxamos as vistas, despedimos da montagem freneticamente hiperativa (e ocasionalmente indecifrável), do humor brejeiro e crises hormonais de adolescente tardio que minam o seu dito universo, para além do lenço branco a tiques e toques do mesmo, por outro, somos "bombardeados" com o mais genérico e o puramente despersonalizado espéctaculo à moda de Hollywood. Com que ficamos então? Pela mera parvoíce estética, ou a homogeneização de um “produto produzido em massa para massas”? 

Este “Transformers: Rise of the Beasts” é o filme, baseado na popular linha de brinquedos da Hasbro, que tende em desviar das minas e armadilhas deixadas pelo legado do anterior contramestre. Exibe um desenvolvimento (nem que seja sugestões de) nas suas personagens humanas e apresenta um vilão intimidante para acelerar o clímax (deixemos os antagónicos «sacos de pancada» fáceis), só que tais encargos são meras rotinas, oleadas operações que insuflam um sensação de dever cumprido perante ao que se pensa ser exigência dos espectadores. Vacuidades tecnológicas, desconsiderações narrativas, ação salta-pocinhas (Machu Picchu torna-se desta vez o cenário de armagedão improvisado) e o CGI que após uns primeiros passos cautelosos assume imperatividade no último ato. Por um momento ou outro, fica-se o desejo de retornar aos antepassados (ao “bayhem” propriamente dito), mas tal regressão é automaticamente deixada pela sobriedade da produção, para não delirarmos mais uma vez. 

Ponto curioso, o grande vilão deste episódio - “Unicron” - surgiu pela primeira vez em 1986 na longa-metragem animada dirigida por Nelson Shin, vocalizado pelo, nada mais nada menos que Orson Welles, na altura desesperado e endividado. Conta o criador e argumentista Ron Friedman que a colaboração com o homem por detrás de “Citizen Kane” foi caótica. Welles encontrava-se rendido aos vícios da sua “má vida”. Um momento de trivialidades para uma crónica de um filme que é mais que trivial.

E agora ... um gesto autoral de Michael Bay!

Hugo Gomes, 13.12.19

79588192_10215398664936706_4134856099230646272_o.jUm conselho: contar até 3 e respirar, porque Michael Bay chegou e sem rédeas algumas, para além disso, com um guião desgraçado para nos obrigar a questionar sobre as nossas próprias vidas. Assim temos “6 Underground”, onde experienciamos um exemplo de autor na sua estética que se vê aflito (ou não) em procurar uma maturidade artística. Infelizmente, por entre explosões e os seus acostumados (nem por isso menos cansativos) maneirismos, somos “torturados” por uma espécie de purgatório de anarquia cinematográfica. Ainda a recuperar ...

"Bumblebee": a versão light do devaneio de Michael Bay

Hugo Gomes, 20.12.18

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Entramos aqui de porta escancarada num pleno paradoxo. Se por um lado, este “Bumblebee” será para muitos dos adeptos da saga (e não adeptos) o “mais filme” dos sete (saliento com isto a comodidade da narrativa de três arcos e dos reconhecidos elementos que formam, por exemplo, os êxitos crowd pleaser), é também o menos personalizado. É que, para o bem ou para o mal, os tiques visuais e a megalomania de Michael Bay atribuíam a este franchise uma “casa à sua marca autoral”. Mesmo com o sufoco narrativo, perversamente esmagado num sexto filme, havia uma liberdade que se sentia nesta jornada cinematográfica dos famosos produtos da Hasbro.

É certo que de Bay existe uma presença tóxica que por si só afastou “The Last Knight” do habitual target de audiências (605 milhões não é nada em comparação com a entrada na casa dos mil milhões de dólares dos capítulos anteriores). Com “Bumblebee”, focando sobretudo na origem do carocha que sempre se pontuou como um dos favoritos dos fãs, Travis Knight (vindo das animações stop-motion da Laika) prescreve um filme anacrónico da cultura-pop dos anos 80 (moda nostálgicas … check), sob a vencedora pasta de “family-friendly” como os norte-americanos gostam de apelidar. Ou seja, povoando um território mais familiar, mais contido (até mesmo as sequências de ação são mais elegantes e perceptíveis), este spin-off/prequela de “Transformers” é uma fórmula vencedora no que requer a citar os atributos desejados do público mainstream.

Convém salientar que a sobriedade de Knight no storytelling concentra aqui a sua melhor qualidade/ambição, extraindo da loucura à lá Bay estas personagens e insemina-las em fertilidades “spielbergueanas” (Steven Spielberg mantêm o seu cargo como produtor). Porém, como entretenimento, "Bumblebee" abdica da espetacularidade em nome da arte de contar uma história para as massas. Infelizmente, é com isso que se converte em “mais um filme”.

Profundamente despersonalizado e anónimo, Travis Knight (mesmo tendo entregando a preciosidade de “Kubo and the Two Strings”) é um jogador fiel às suas regras e Michael Bay um desalmado que mina os seus filmes de devaneios catastroficamente artísticos (goste-se ou não, há que reconhecer que Bay é um autor destes novos tempos) que pouco quer saber desses mesmos regulamentos da indústria. No final, só um ficará para a posteridade. As nossas apostas estão nos “trambolhos” narrativos de Michael Bay