Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Segundo Take: "Irina Palm" entre António Araújo e Hugo Gomes

Hugo Gomes, 21.07.22

294505690_564797401794760_2283283822827473833_n.jp

Convidado (novamente) por António Araújo e o seu podcast Segundo Take para uma conversa sobre cinefilia, escrita de cinema, o quase desconhecido "Irina Palm" com Marianne Faithfull e os 15 anos do Cinematograficamente Falando.
 
Para ver ou para ouvir
 

Na Palma de Irina

Hugo Gomes, 22.07.14

image-w1280.jpg

Vencedor de um prémio no Festival de Berlim em 2008, “Irina Palm” marca o regresso de Marianne Faithfull aos papéis principais - a atriz e cantautora marcou a Sétima Arte por ter sido possivelmente a primeira actriz a dizer “fuck” num filme, o na altura muito controverso "I'll Never Forget What is Name?” (Michael Winner, 1967), ao lado de Oliver Reed, Carol White e Orson Welles

Nesta obra de Sam Garbarski, desempenha Maggie, uma avó que por amor ao seu neto, doente e necessitando de um tratamento caríssimo, trabalha numa casa de alterne, não como prostituta, mas sim masturbando homens através de um glorious hole. A sua personagem que inicia a fita sendo conservador e dedicado irá transformar-se num ser mais flexível e sem tabus, ao mesmo tempo que se converte numa estrela no seu ramo, daí o nome artístico “Irina Palm”. No elenco podemos ainda contar com o carismático Miki Manojlovic, o ator de “Underground” (Emir Kusturica, 1995), como o falso-proxeneta da história.

Pelo resumo acima, julgamos estar perante uma premissa motivadora para uma comédia de costumes em jeitos burlescos, mas não, o que encontramos é um drama com todos os ingredientes regidos ao registo de realismo britânico. A curiosidade levou-nos aqui para encarregarmos com a desilusão do seu tom, porém, uma lição pode ser leccionada aqui, entre o cómico e o dramático há uma linha ténue que pode ser encilhada e trabalhada conforme a perspetiva. Talvez a ambição de trazer à luz a verdadeira definição de tragédia pessoal (trágico + comédia), ou os limites do humor e como estes devem ser refletidos na nossa sociedade. É possível encarar isto, só que “Irina Palm” é um filme moderato quanto à sua estética e na sua abordagem, o qual todas as reflexões assumem "muita areia para a sua camioneta”. 

Agora, o que podemos extrair na jornada de Maggie, talvez mais por sobrevivência do que demandas libertárias, é o quão conservadora a sociedade (principalmente a britânica) comporta perante o sexo e as possibilidades da sua exploração (em meios legais e de progressão de carreira, obviamente). No final das contas, o interesse do filme está na sua temática e o contacto das personagens para com esta (o desenvolvimento da personagem de Faithfull revela, longe do ativismo e da ideologia, mas a normalização para com aquele ambiente), dos que as suas respostas e questões.