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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Vira para lá isso ...

Hugo Gomes, 11.10.19

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Não querendo repetir excessivamente o alegado conselho de Manoel de Oliveira, aquele que João Botelho declara sempre que tem oportunidade - “Se não tens dinheiro para filmar a carroça, filma a roda, mas filma-a bem”. Tal dica divina poderia Luís Albuquerque ter em conta uma vez na vida, principalmente nessas suas andanças pelo cinema, que já nos “apimentou” com violentos atentados à “indústria” nacional (“Por Onde Escapam as Palavras”, uma ‘coisa’ que não se há de esquecer), agora, sob a aprovação do ICA, tenta converter-se ao épico histórico num desses factos mais virados a lendas, hoje aproveitados enquanto estandarte do nacionalismo primitivo: “Viriato”.

Como já devem ter percebido perante o discurso inicial, é uma ideia sem orçamento que o valha, e o pior é que Luís Albuquerque toma as piores decisões no que requer contornar tais limitações. Querem batalhas? Ele as dá! Querem romanos, centuriões e legiões? Também os dá! Querem sonoridades que emanam epicidades dignas de massivas produções de Hollywood? Os vossos desejos são ordens! Tudo isso, como era previsível, num embaraço, ora de recursos ou falta deles, que até um cego consegue ver e no qual não existe nenhuma personalidade na forma como filma. É o “teatro da aldeia” a entrar pela tela e a fazer-nos acreditar no que vemos. Nada contra a suspensão da credibilidade, mas quando o objeto está isento de alguma manifestação artística, o que resta é o amadorismo, com isso resume-se o que estamos perante. Outra conclusão não é viável.

Porém, há que pensar realmente, tendo em conta os dias que vivemos, com movimentos políticos extremistas e uns quantos populistas que exaltam simbolismos patrióticos, para que raio queriam um filme sobre o “Viriato”?

O silêncio seria de Ouro ...

Hugo Gomes, 26.05.17

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Queria dizer isto devagarinho, de forma a atenuar qualquer indício de hostilidade, mas não consigo, peço desculpas aos mais susceptíveis desde já… Bem, aqui vai. O filme “Por Onde Escapam as Palavras” faria melhor figura, se não deixasse escapar somente as palavras, mas sim se se deixasse escapar inteiramente de todos nós. Porque não precisávamos de ver isto.

Eis um lixo, visto do ponto vista criativo, artístico, sociológico e mercantil. Uma comédia involuntária que nos remete ao pior que o cinema português possui: a falta de ideias, e, pior, a falta de ideias de cinema. Não é por questões monetárias que a criatividade e a coerência têm de se ver descartadas. Pelo contrário, por vezes é sobre esse signo de apertos financeiros e outras limitações que nascem… eureka!… as ideias. Mas este projeto de Luís Albuquerque é uma omelete sem ovos, de um oportunismo que dói no que requer a citar o “terror islâmico” para nos oferecer um mau pastiche de auto-ajuda emocional.

O argumento, meus amigos, é ele próprio um verdadeiro atentado terrorista. Não acreditam? Vejamos a seguinte situação: um pai, cuja filha foi vítima de um ataque de fazer relembrar os trágicos episódios do Bataclan [Paris, 2015] persegue um dos autores do mesmo. Eis senão que o nosso heroi encontra o desprezível vilão barricado num antigo edifício, cercado pela competentíssima polícia. Tiros são trocados entre as duas parcelas, um violento duelo entre as autoridades e o perigoso terrorista ilustra o grande ecrã, enquanto a emoção aumenta no espectador pela incerteza do desfecho. “Sendo o nosso protagonista um mero e vulgar cidadão, como conseguirá ele entrar no edifício?”, pensamos sem aguentarmos tamanho suspense (peço ao leitor que avalie todas as opções possíveis, use a imaginação, para então seguir com a revelação). Ah, “bonita” revelação desta mente elucidada que é o nosso heroi! A personagem entra na dita batalha campal usando… as traseiras. Sim, simplesmente abrindo uma porta descoberta, sem quaisquer vestígios de seguranças! E isto é apenas um exemplo! Um!

Por onde Escapam as Palavras” é um palavroso e amador (só que sem amor algum para dar), que nos apresenta 90 minutos da pior espécie, desde um enredo cosido e mal escrito, uma estrutura académica (mas, vá lá, de um academismo de quem acabou de sair duma escola de cinema) até a um elenco ruinoso, onde cada ator é pior que o anterior. Sabemos que com a vinda do digital, qualquer um pode fazer cinema, mas fazê-lo não se aplica apenas vontade. Há que possuir o talento, a forma e a ideologia. Luís Albuquerque não possui nem uma coisa, nem nenhuma das outras, o que faz desta obra somente mais um “pecado fatal” neste nosso meio cinematográfico.

Peço desculpas aos leitores pelo meu tom agressivo, visto que não tem a culpa disto. É que, ao contrário do título do filme, as minhas palavras não somente escapam… têm mesmo um objectivo definido.