Vira para lá isso ...
Não querendo repetir excessivamente o alegado conselho de Manoel de Oliveira, aquele que João Botelho declara sempre que tem oportunidade - “Se não tens dinheiro para filmar a carroça, filma a roda, mas filma-a bem”. Tal dica divina poderia Luís Albuquerque ter em conta uma vez na vida, principalmente nessas suas andanças pelo cinema, que já nos “apimentou” com violentos atentados à “indústria” nacional (“Por Onde Escapam as Palavras”, uma ‘coisa’ que não se há de esquecer), agora, sob a aprovação do ICA, tenta converter-se ao épico histórico num desses factos mais virados a lendas, hoje aproveitados enquanto estandarte do nacionalismo primitivo: “Viriato”.
Como já devem ter percebido perante o discurso inicial, é uma ideia sem orçamento que o valha, e o pior é que Luís Albuquerque toma as piores decisões no que requer contornar tais limitações. Querem batalhas? Ele as dá! Querem romanos, centuriões e legiões? Também os dá! Querem sonoridades que emanam epicidades dignas de massivas produções de Hollywood? Os vossos desejos são ordens! Tudo isso, como era previsível, num embaraço, ora de recursos ou falta deles, que até um cego consegue ver e no qual não existe nenhuma personalidade na forma como filma. É o “teatro da aldeia” a entrar pela tela e a fazer-nos acreditar no que vemos. Nada contra a suspensão da credibilidade, mas quando o objeto está isento de alguma manifestação artística, o que resta é o amadorismo, com isso resume-se o que estamos perante. Outra conclusão não é viável.
Porém, há que pensar realmente, tendo em conta os dias que vivemos, com movimentos políticos extremistas e uns quantos populistas que exaltam simbolismos patrióticos, para que raio queriam um filme sobre o “Viriato”?