À espera que a luz altere: uma conversa com Linh Tran.
O grande vencedor da edição de 2023 do festival Slamdance, “Waiting for the Light to Change” é um filme sobre impasses, esperas, e introspecções. Cinco jovens decidem passar uma semana de retiro numa casa à beira de um lago, lá, para além das trivialidades do seu quotidiano, tentam lidar com as suas memórias e sentimentos reprimidos. Por detrás deste delicado filme encontramos Linh Tran, realizadora e argumentista, que aventura-se numa longa-metragem após trabalhos curtos de teor pessoal (como é o caso de “Dinner” [ver aqui]), nomeadamente focando na figura paternal.
Vietnamita, radicada nos EUA, Linh Tran falou com o Cinematograficamente Falando … sobre a sua mais recente obra e a sua relação com o cinema, propriamente dito.
É sabido que o seu trabalho é bastante pessoal, já antes da longa-metragem [“Waiting for the Light to Change”], as suas curtas exploravam as questões das memórias familiares na tenra idade, e como elas metamorfoseiam o seu carácter. Serve do cinema como uma espécie de confissão? Talvez pela tendência do tema, existe no seu trabalho uma tentativa de ligar ao seu pai?
Penso que para mim, o cinema serve como um meio de atribuir um sentido ao mundo que me rodeia e com isso dando a possibilidade de conhecer a mim próprio. Ainda sou bastante jovem e ainda estou a tentar descobrir quem realmente sou e onde estou neste mundo. Embora os meus trabalhos sejam pessoais, as histórias geralmente assumem contornos fictícios, visto que estar demasiado próximo de uma história torna-se, por vezes, numa coisa assustadora e uma vez que as minhas histórias são bastante imediatas, sinto que pôr a minha vida a nu em frente da câmara pode ser prejudicial para o meu trabalho. O que nelas é pessoal são as personagens, normalmente sentem-se como eu me sinto, ou algumas delas assemelham-se a pessoas que se cruzaram na minha vida. Eu não diria que o cinema serve como uma confissão, talvez mais como uma introspecção.
O meu pai faleceu quando eu tinha 18 anos e estava longe de casa, e no meu trabalho mais recente examinei as minhas memórias com ele, mas isso é uma longa história para um outro dia.
Sobre “Waiting for the Light to Change”, em que momento sentiu-se preparada para avançar no formato de longa-metragem?
Antes de "Waiting for the Light to Change", nunca tinha estado no território da longa-metragem, por isso definitivamente não sabia no que me estava a meter. As circunstâncias eram especiais, uma vez que o filme foi feito como parte de uma iniciativa chamada Indie Studio na Universidade DePaul, onde encontrava-me a trabalhar para o meu AMF. Não pensei que estivesse pronta para fazer uma longa-metragem, mas largar tal oportunidade seria uma tolice, especialmente porque o orçamento do filme era suficientemente pequeno. Eu teria muito mais medo de fazer, digamos, um filme de um milhão de dólares. Mas muita produção cinematográfica funciona desta maneira, no risco, por isso, simplesmente saí e aproveitei esta oportunidade e percebi tudo ao longo do caminho.
Em “Waiting for the Light to Change” todas as personagens parecem estar reféns de eventos passados, são seres jovens com o futuro à sua frente, mas inquietos quanto a estes, preferindo-se refugiar em memórias. Existe no seu filme um retrato da juventude atual, uma juventude cada vez mais receosa dos dias que seguem?
Para ser honesta, só posso falar por mim, foi o que senti na altura em relação ao futuro, como um jovem de 25, 26 anos de idade. Sei que alguns dos meus amigos sentem o mesmo. Mas agora que vi o público ligar-se ao filme e relacionar-se com estas personagens, acho que não sou a única jovem a sentir-se dessa forma.
O filme parece também lidar com a questão da nostalgia, porque estas personagens tendem a ter uma percepção ilusória dos seus próprios passados. O cinema norte-americano atual encontra-se preso a esse tributo, seja em modo afetivo, seja, obviamente em modo industrial. Como lida com a nostalgia e como vê o retrato da nostalgia no cinema de hoje?
Uau, essa é uma grande questão! E a minha resposta sincera é que nunca pensei realmente em nostalgia. Só me senti nostálgica, e se sou completamente verdadeira, por vezes deixo-me levar por esse sentimento de nostalgia. Algumas pessoas não apreciam isso, e eu respeito. Mas ouço-vos falar do cinema americano a satisfazer esse sentimento ou esse conceito. Acho que é um resultado desta era digital? Sinceramente, não sei.
Quanto a novos projetos? O prémio em Slamdance serve como motivação para avançar rapidamente em novos projetos?
Com certeza, é sempre sobre o próximo projeto, não é? Tenho vindo a desenvolver um filme que é muito mais pessoal, e bastante próximo de mim. Mais uma vez, é um filme que explora outro tipo de relação feminina, uma entre irmãs. Esperemos que o prémio me ajude a consegui-lo.