Rajadas de 1996 com saudade ...
Um dos grandes sucessos de 1996 - com a tutela de Steven Spielberg e um pós de prilimpimpim de Michael Crichton - “Twister”, disaster movie com uma essência de “monstro da semana”, provou em si ser uma espécie de “filho perdido” de um formato blockbuster hoje em desuso. Dirigido por Jan de Bont (a sua melhor obra desde “Speed”, o resto foi catástrofes atrás de catástrofes, e refiro ao sentido qualitativo do que temático), o filme explorava um epifenómeno americano; de tornados a um bando de “caçadores” por aquelas planícies tão típicas, com Helen Hunt e Bill Paxton a funcionar como “star couple” e um elenco secundário que ia desde Todd Field (sim, o que viria a ser o realizador de “Tar") e um Philip Seymour Hoffman a provar como o mais delirante dos extras. Nada contra, apenas um suspiro de saudade após recordar esse êxito de tela e de home vídeo (aquela espera interminável que dava uma segunda vida aos filmes).
Vinte e oito anos depois, com Hollywood sem saber o que fazer - nós respondíamos ao dilema mas os investidores apenas dançam à vontade dos espectadores e dos números arrecadados na primeira semana de estreia - elaboraram aquilo que é um "três em um" (sequela / remake / produto de legado), de forma a conseguir uns milhões com o auxílio do saudosismo. “Twisters”, acrescenta-se o “S” no plural, é uma produção do nosso tempo com todas as malhas que acarreta-o, de igual maneira que o filme de Jan de Bont (aqui apenas como produtor) é do seu, a saudade é apenas um efeito, mas não fiquemos ingénuos perante o medo das acusações de “velho do Restelo”, até porque este novo projeto nos “corredores” propícios a tornados e das categorizações que alimentam um culto pequenino, é, ao contrário do primeiro, um estapafúrdio, de CGI mais evidente e com tendências a asserto políticos e ativismo climático (mesmo que tal não seja dito com “todos os dentes”).
Isto torna “Twisters” em algo nada especial no panorama atual, mesmo jogando no seguro e dos actos aristotélicos do tão batido conceito de “storytelling”. Até o elenco é pouco inspirado e expressivo, uma possivelmente nulidade se não fosse o Glenn Powell e o “power” estrelar emanado, o qual muitos dos meus colegas têm defendido sob a lógica do carisma perdida da Hollywood clássica. Talvez sim, o ator detenha essa personalidade transbordante da tela que parece faltar a muitos dos seus colegas nesta Hollywood contemporânea, e salienta-se, o seu lado gingão e folião que o converte num “novo namorado da América”, ventoso o suficiente para “abanar” a dita protagonista, esta interpretada por Daisy Edgar-Jones (“Fresh”), que tal como a Helen Hunt da versão de Jan de Bont, são mulheres de “mangas arregaçadas” e com bagagem trágica. Só que no caso da personagem Edgar-Jones a uma cedência quase cega a esse lado negro que a impede de emancipar-se, enquanto que Hunt (apelido perfeito!) “caça” esses ventos destruidores da mesma forma que o seu luto, com entusiasmo e sem compromissos-reféns.
“Twisters” é sopro fraco aos alicerces do entretenimento hollywoodesco de hoje, produção adinheirado sem consequências nem agressividade para se estabelecer algo mais do que um futuro clássico do Canal Hollywood. E … espera aí!! Lee Isaac Chung?! O realizador do “Minari” assina isto?! Esperávamos mais de ti, rapaz!