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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Os críticos de cinema também vivem para amar!

Hugo Gomes, 05.02.22

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Lauro António morreu, li num post de Facebook”, foi desta forma que a informação me chegou, por via de um chat do complexo de redes sociais orientado por Mark Zuckerberg, o que nos faz pensar sobre a “vulgarização” de como e de que natureza informamos. Poucos minutos, saíam as primeiras notícias, entre elas a avançada pelo jornal Público – “Morreu o cineasta Lauro António, uma vida dedicada ao cinema” – deixando para secundário, ou talvez escorraçado por entre os triunfos e atributos, a informação de ter sido crítico de cinema. Não negando o seu trabalho por detrás das câmaras (“Manhã Submersa” em 1980, ou “O Vestido Cor de Fogo” em 1986), foi o seu papel como divulgador e amante da tela que tornou possível a sua veia multifacetada, tendo como raiz a sua atividade de crítico (nunca esqueço, menciono, para também ninguém esquecer). Não fez do Cinema uma mera composição de estrelas, uma vénia ao mercado nem sequer a defesa de uma “fechada” ideologia cinéfila, o que sempre me fascinou em Lauro, ao longo destes anos e da sua relevância na nossa cultura cinematográfica, foi a sua inabalável humildade, como de uma singela “criança” na descoberta do cinema pela enésima vez se tratasse. A sua vontade de partilhar (a dita Casa das Imagens, espaço de descobertas e revisitações, é um dos seus acarinhados legados), ou da disponibilidade de surgir nos mais diferentes meios sem distinção (até em podcasts aceitou com agrado, do qual fiquei a saber que sentiu-se agradado com “Black Panther” da Marvel) para espalhar as suas paixões e experiências. Por isso saliento que, sim, morreu um programador, um realizador, um cinéfilo, mas acima de tudo isso, morreu um crítico, demonstrando que os críticos também são capazes de amar e de serem amados. Aos 79 anos, quem me dera conquistar um terço daquilo que Lauro conquistou, não peço mais que isso (ou será antes pedir demais?). Críticos, há muitos, mas Lauros Antónios só existiu um.