Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Tom Sizemore (1961-2023), um bravo secundário americano

Hugo Gomes, 04.03.23

Tom Sizemore True Romance.JPG

True Romance (Tony Scott, 1993)

M8DBLST_EC001.webp

Blue Steel (Kathryn Bigelow, 1990)

Strange-Days-Tom-Sizemore.webp

Strange Days (Kathryn Bigelow, 1995)

MV5BYzBlNWQyYzgtZmRiYS00MWVhLWEwYmEtMmE0NjA2NDhhZT

Natural Born Killers (Oliver Stone, 1994)

MV5BMzFmYmFmYTItNTBiZS00NzIyLTgyMzItMTFiYzAyNzJhZT

Red Planet (Antony Hoffman, 2000)

DHS-_Michael_29_in_Heat_29.webp

Heat (Michael Mann, 1995)

Tom-Sizemore.webp

Saving Private Ryan (Steven Spielberg, 1998)

Fronteiras de sangue

Hugo Gomes, 09.12.15

cartel-land.webp

Nós sabemos o mal que isto faz a vocês. Mas somos pobres“, justifica um membro de um cartel de drogas a Matthew Heineman nos primeiros momentos deste “Cartel Land” (“Terra de Cartéis”). Esta tentativa de “branquear” os atos que praticam poderá levar nestes precisos segundos a inúmeros espectadores a torcer pelo seu lado, como se a pobreza fosse automaticamente sinónimo de sobrevivência, e esta como uma via amoral para visíveis soluções. Mas Heineman, que atua aqui como operador de câmara (cuja coragem será mais tarde evidenciada) e realizador, não se encontra interessado em esboçar lados imbatíveis, ou construir desde a raiz um documentário de propaganda maniqueísta, ao invés disso aposta numa longa “batata quente”, narrando acontecimentos paralelos nas fronteiras do México, cujo único propósito é a luta aos carteis. Sim, a desses homens que inicialmente proclamavam a sua pobreza como inibidor de culpa.

Cartel Land” funciona ainda como uma espécie de cinema de guerrilha, cuja verdadeira rebelião encontra-se no seu protagonista, Heineman, que tenta revelar factos que muitos apenas conhecem da romantização cinematográfica. Mas mesmo filmando o real, o nosso realizador não deixa de ser poético visualmente. Um desses exemplos é nos momentos que sucedem o primeiro encontro com os traficantes, aqui sob as imagens da fronteira intercaladas com um discurso obviamente maniqueista, mas citado com uma emoção credível por um vigilante americano decidido a combater e patrulhar os carteis com as suas próprias armas. A linguagem determina o Bem e o Mal segundo este “vingador”, mas “Cartel Land” faz destas palavras não as suas, partido logo para outra ação: a sul do México, mais precisamente na região de Michoacán, onde um grupo de populares formam uma força de autodefesa para também eles expulsarem este “cancro”.

Heineman consegue nas mais variadas histórias glorificá-las e ao mesmo tempo humilhá-las, perante a ambiguidade desta luta, funcionando assim também como uma crítica política ácida, envergada somente pela citação dos seus atores. Para além disso, o realizador tem o dom de depositar nesses momentos uma carga dramática dignamente cinematográfica, essa mesma ênfase que porventura funcionará como um manipulador emocional e um embelezamento da violência por si retratada. “Cartel Land" é assim um documentário sem medo da aproximação, e obviamente sem receio do grafismo e do explícito; é uma realidade injetada no ecrã com o realizador presente nas situações-limite.

Contudo, o único grande defeito deste documentário é que em momento algum tenta transcender as suas fronteiras, ou seja, as acusações politicas permanecem bem internas, neste caso, dentro do território mexicano, sem nunca apontar o dedo noutra direção. Uma direção que, por exemplo, “Sicario”, o filme de Denis Villeneuve sobre o narcotráfico, seguiu pujantemente.

Em nota de curiosidade, Kathryn Bigelow, a realizadora de o oscarizado “The Hurt Locker” e “Zero Dark Thirty”, encontra-se creditada na produção executiva, sendo facilmente identificável neste “Cartel Land” os atributos que a fascinaram.