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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

A vovó dinamite!

Hugo Gomes, 12.03.25

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Segundo o próprio realizador, “Thelma” nasceu de uma experiência pessoal e da possibilidade desse episódio seguir o seu “natural” percurso. Josh Margolin recebeu uma chamada aflita da sua avó, acreditando que ele teria sido preso por um acidente qualquer e que um advogado a havia contactado para que pagasse uma fiança de 10 mil dólares. Teria de enviar o dinheiro para a morada facultada pelo alegado advogado.

Esta evidente burla, felizmente, não se concretizou, o neto conseguiu impedir que a avó fosse enganada, mas, apesar do final feliz, uma alternativa ficou-lhe a “marinar” na mente. E se o dinheiro tivesse sido enviado? Dessa imaginação nasceu um arquétipo de filme de ação protagonizado por uma nonagenária - ninguém menos que June Squibb (uma cara familiar, e prestigiada, do cinema de Alexander Payne). “Thelma” joga com essa linguagem visual e com as limitações fisicas e cognitivas da sua heroína, sem nunca condescende-la ou reduzi-la a mero alvo de chacota, emanando uma terna paródia do género que pretende mimetizar e igualmente homenagear.

Nisto há dois momentos-chaves, a revelação, com a Thelma de Squibb impressionada com a genica de Tom Cruise, numa das “Mission: Impossible” em transmissão televisiva: “Tom Cruise é como os gatos, cai sempre de pé”. A partir daí, a estrelaem formato Ethan Hunt, mesmo que invisível e ausente, vira grilo-falante da consciência da sénior nesta jornada pela possibilidade de reaver o dinheiro burlado. E perto da finalização, com a protagonista deslumbrada pelas árvores aparentemente moribundas, que, contra todas as expectativas, permanecem de pé: uma ode à resiliência. Esta sequência é paralelizada com imagens reais da verdadeira Thelma Post e a sua entusiástica observação ao resistente arvoredo.

E este projeto não seria possível - muito menos em coligar estas duas sequências - sem June Squibb, e a sua demonstração de “destreza” física possível e brincalhona para com as suas fragilidades ao longo do filme. É uma espécie de tributo à “avó verdadeira”, sem lamechices fáceis, mas com júbilo próprio e isento de festividades circenses. Um “feel good” sem desprender massa cinzenta, e enquanto é também ele uma última mirada a Richard Roundtree (o nosso “Shaft”), nem que na prolongada caça às réstias de holofote deixados pela passagem de Squibb na sua “frenética correria”.