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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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20 Anos de Doclisboa: a Galeria Digital

Hugo Gomes, 08.10.22

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Para comemorar os seus 20 anos, o Doclisboa preparou-nos uma Galeria Digital de videos de 20 segundos, com contribuições de autores e artistas como Valérie Massadian, Avi Mograbi, Edgar Pêra, Teresa Villaverde, Regina Guimarães, Renata Sancho, João Pedro Rodrigues, James Benning, Pedro Florêncio, Karen Akerman, João Mário Grilo, Jorge Pelicano, entre outros.

Para visitar aqui.

Um sonho de menino num filme de um homem concretizado

Hugo Gomes, 24.07.19

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Identificamos dois olhares distintos em “Tony”, o mais recente documentário de Jorge Pelicano:

O primeiro é o "best hits" do popular cantor Tony Carreira, que gera tanto paixão como ódios declarados (aqui graças às acusações de plágio pelo qual as suas músicas são assombradas). Se a admiração persiste em traçar o seu trajeto de zero a estrela, um cantor de bailaricos que, porventura, conseguiu encher os mais prestigiados palcos do país, Pelicano concentra-se em instalar-se no centro da régua de qualquer julgamento.

Aí partimos para o segundo olhar, a entrada e reflexão de um universo envolto desta figura - a dos fãs – o epicentro de um movimento de culto em santificação ao seu ídolo, uma vez que a relação entre as devotas(os) para com o músico pouco ou nada diferem de uma sessão religiosa. É um choque que tem tanto de anedótico (para quem não se encontra interiorizado neste seguidismo) como de analista para uma “portugalidade” formalizada. Há um estudo sobre um fenómeno, e é nesse sentido que "Tony" ganha valor, por vezes servindo-se para o seu modelo de ensaio intimista de alguém que trata a fama por “tu”.

Como documento, Jorge Pelicano consegue ir mais além da mera veneração ou retalhos biográficos como manda qualquer reportagem VH1. É um documentário com os seus acabamentos, com a dignidade para com a sua figura e, paralelamente, ao intelecto do espectador. Seria possível existir algo dentro do que esta cultura propícia às massas desmesuradas atingir um requinte enquanto formato documental? Sim, e isso evidencia a audácia e sagacidade com que Pelicano abordou outras temáticas, algumas de importância etnográfica (“Ainda há Pastores?”, "Pára-me de Repente o meu Pensamento”) ou simplesmente o emocional como espelho da nossa sociedade (“Antes que o Porno nos Separe”). Para agora, encostado ao vulto de brilhantina, guitarra na mão, camisa branca e Carreira no nome e coração, olhar mais além dessa aura e vivência.

"Tony" é um ser inserido e estudado no próprio universo, este intacto e palpável em prol do documentário convencional, mas longe da (des)formalização televisiva com a qual embatemos vezes sem conta num canal generalista qualquer.