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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

A "Coisa" de Jordan Peele ...

Hugo Gomes, 18.08.22

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Nope (Jordan Peele, 2022)

Ao terceiro filme e com o sucesso garantido nos dois anteriores (seja de crítica, público e do culto entretanto gerado), Jordan Peele adquiriu um cognome de “mestre do terror”, automaticamente contestado pelo próprio, que respondeu com John Carpenter como o merecido detentor do título. Nesta instância, tornou-se fácil a comparação de ambos os cineastas nas diferentes resenhas, principalmente quanto à mistela de elementos (o western no coração de tudo) em função de um terror aparentemente descomprometido (no caso de Peele o tal júbilo opera sempre em concordância com as suas preocupações sociais). 

Contudo, deparei-me com “Nope”, um exercício em terreno da ficção científica (ou será antes uma distopia americana à imagem do que tem construído até então), numa linhagem à lá Spielberg, trazendo o certo minimalismo e transfusões hitchcockianas dos primeiros filmes desse realizador (refiro a “Duel” e obviamente a“Jaws”). E não é por menos que muitos dos “catchphrases” envoltos do marketing deste filme “vendem” a ideia de uma criação de fobia cinematográfica (““Nope” faz dos céus, aquilo que “Jaws” fez com as praias” é o que tem-se banalizado por aí). Porém, é cedo para cair nessas “armadilhas mediáticas”, não negando com isto a aproximação desses dois mundos. E é em equivalências spielbergeanas que entra o terceiro e mais próximo “parentesco” de Peele - M. Night Shyamalan (dos últimos cineastas que levava o lendário Bénard da Costa a deslocar-se para uma sala de cinema mais próxima) . 

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Nope (Jordan Peele, 2022)

E sabendo que no Cinema nada se cria, tudo é reformulado e apropriado através de uma cadeia de influências atrás de influências, é em Shyamalan no qual deparávamos, em tempos, com o genuíno Spielberg perdido, principalmente nessa tendência de criar ameaças minimalistas, conduzindo as suas personagens a uma aliança cívica em "detê-las". Não é por menos que “Signs” (2022) e “Nope” ressoam pertencer ao mesmo universo, estabelecendo esse "heroísmo" - a “americana” jornada do herói - em que um viúvo agricultor (Mel Gibson) instalou como derradeira parte da sua existência (assim como Henry Fonda assumiu a luta entre classes nas “The Grapes of Wrath” de John Ford) na óptica de Shyamalan, partilhada para com um criador de cavalos (Daniel Kaluuya) na mão de Peele

Mas não é só essa inerência que nos faz sonhar com um herdeiro “shyamaliano”, o realizador demonstra com “Nope” abordagens ainda mais vincadas com o imediato através de uma planificação em concordância com a natureza do olhar. Se Shyamalan utilizou tal artifício na sequência do comboio em “Unbreakable” (2000) - com a câmara a responder aos chamamentos de duas personagens a bordo [Bruce Willis e Leslie Stefanson] e assim induzindo um travelling que mimetizava a posição de uma “terceira figura” [Samantha Savino], ou nas inúmeras passagens no seu último “Old” (2021), cujo tempo relativo era acompanhado por um jogo de “fora-de-campo” - Peele no “flashback” de Gordy reproduz essa aliança do olhar com o travelling aí executado. 

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O efeito ping-pong reproduzido pela câmara na sequência de "Unbreakable" (M. Night Shyamalan, 2000)

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O travelling desfeito e a revelação da perspetiva em "Unbreakable" (M. Night Shyamalan, 2000)

Embora a convergência, existe uma característica bem reconhecível em Shyamalan que Peele não partilha aqui. Sim, esse mesmo … o “twist”, a reviravolta em bom português … nesse aspecto deixa-se levar pelo mistério, pela não-resolução e como tal, reforça o seu tom respeitavelmente minimalista. O resto, o espectador poderá fazer as somas como trabalho de casa. Só que não é longínqua essa perda do “explicadinho”, recordo que Peele condenou a narrativa da sua metáfora em “Us” (2019) ao criar uma lógica com o seu “twist final”, o “ganchinho” desnecessário sabendo que o mistério prevalece em condições mais saudáveis (já em “Get Out”, o “twist” nunca é totalmente consolidado, visto que desde o início do filme o espectador tem a percepção de que o aparente é somente isso, aparência).

Como tal, “Nope” funciona como esse exercício de terror, simples, direto e sem “espertices” para mais do que o dado, apenas o orbitar da sua proposta é que somos fomentados com um universo em construção (mais do que apenas pistas para resolver o enigma). E como não poderia deixar de ser, o realizador deixa a sua própria marca, respeitando, e muito, nos propósitos do género do terror - abordagens a problemas sociais formuladas em alegorias - e talvez seja isso que as comparações com o Carpenter são trazidas “à baila”. Aqui, em “Nope”, é o discurso de uma desconstrução social envolto na génese do cinema: "Did you know that the very first assembly of photographs to create a motion picture was a two-second clip of a Black man on a horse?". 

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Horse in Motion (Eadweard Muybridge, 1878)

Eadweard Muybridge e o “Horse in Motion” [1878 - conjunto de fotografias que projetadas em sequência demonstravam um cavalo em movimento], o berço da própria “imagem em movimento” são à luz de Peele desvendadas a um espectador que as esqueceu (é para isto que deve ser utilizado o dito “cinema popular”!). Embora o seu uso revele um ativismo de punho encerrado às declarações do Cinema enquanto “arte parida por brancos”, sem o encarar com a imunidade crítica (conhecemos o nome do cavalo, Sallie Gardner, só que desconhecemos a do jóquei negro imortalizado para posteridade, eis o slogan captado). 

Nessa prol (e para a prole), Jordan Peele ostenta a sua natureza, fertiliza o hype envolto à sua figura, solidificando como o artesão do terror (rasuro, sustituto por “cinema de género”). Curioso que a atenção que tem conquistado, filme após filme, advenha dos temas que invoca, mas felizmente, as sabe trabalhar como material simbólico, criando as tais e referidas metáforas, distopias, ou simplesmente americanos. “Nope” é parte desse hectare, como bem refere o seu protagonista: “What's a bad miracle?”.

Jordan Peele do outro lado do espelho

Hugo Gomes, 21.03.19

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Tal como no anterior “Get Out”, “Us" é um filme sobre o medo incutido na sociedade que vivemos atualmente. As claras alusões aos eventos mediáticos no nosso tempo parecem ser acolhidos num produto que desesperadamente tenta ser série B, mas a confiança de Jordan Peele após o sucesso da sua primeira longa-metragem leva-nos a um objeto dependente da indústria onde se insere.

Prometiam ser umas férias em família num paraíso qualquer, mas torna-se automaticamente num pesadelo com a chegada de um estranho grupo que lhes invade a casa. Por mais estranho que pareça, estes invasores são versões sádicas deles próprios, sujeitos que se autoproclamam como “Nós“ (“Us”). As evidências são claras, Peele cede ao seu intelecto cinéfilo que recita todo um contingente de obras à mão. Nada contra às referências, mas ao incuti-las como brindes perante a inaptidão de um enredo que se desenrola nos jumpscares “limpinhos” e nos plot twists (sendo que o ‘final” já se adivinhava a léguas e não faz qualquer sentido para a narrativa).

Encontramos “Funny Games” salteados por aqui, um Romero e os treinos básicos para o seu “Twilight Zone”, a estrear brevemente na TV. “Us” é, fora esses exercícios contidos, um filme que se pavoneia perante a sua “astúcia” ou a carência desta, no preciso momento em que se explica totalmente não dando ao espectador a vontade de interpretar as próprias imagens, como havia sucedido com “Get Out”. Claramente que apontamos aqui, neste díptico, um renascimento do cinema de terror negro, que anteriormente era visto como negligenciado e marginalizado na nossa indústria. Tendo como impulso a era do blackexplotation nos 70, que curiosamente garantiu-nos versões negras de Frankenstein ou Drácula (ou Blackula), a personagem do negro no cinema de terror ganhou sobretudo legitimidade com o protagonismo em “The Night of Living Dead”, de George A. Romero, isto após anos e anos de secundarização. Contudo, essas personagens raramente vingaram numa indústria dominada maioritariamente por brancos, sendo que as escassas invocações no cinema de género nunca concretizaram o sucesso comercial [(re)descubram “Tales from the Hood”, de Rusty Cundieff, de 1995].

Jordan Peele, em conjunto com o produtor em ascensão Jason Blum, conseguiu tal feito com “Get Out” e “Us” segue o mesmo caminho. Mas as boas intenções não fazem filmes e esta segunda obra, mais pretensiosa que a anterior, apenas quer ser o mesmo filme que tanto critica: um objeto fácil, quer na planificação, quer nos elementos inseridos, ou no medo de sujar as mãos, que vinga apenas pela dualidade de Lupita Nyong’o (o seu melhor papel) e pelo eterno conflito de Peele em tornar-se um autor de género, nem que para isso replique, como é possível ver aqui, alguns gestos de Hitchcock.

A matemática de Jordan Peele resulta em génio?

Hugo Gomes, 19.03.19

54525216_10213542574495605_4279517542722043904_o.jJordan Peele banha-se no sucesso de Get Out e joga-se de cabeça a uma mescla de referências e jump scares fáceis. Aliás, é isso mesmo, Us é um filme fácil em todo o seu registo. Um Funny Games com cruzamentos de Twilight Zone e Crazies de Romero. Uma equação que parece apetitosa? Olha que não. De tudo isto, ao menos, viva a Lupita Nyong'o.

 

 

Os Melhores Filmes de 2017, segundo o Cinematograficamente Falando ...

Hugo Gomes, 03.01.18

Assim seguimos para a já habitual lista de 10 melhores do ano. Começo por referir que fora no geral um ano difícil de Cinema, onde a criatividade escassa e as ideias parecem cansados. Contudo, mesmo assim algumas obras destacaram nesta tremenda época de desilusões. Desde super-heróis adultos até derradeiros adeus a estrelas, passando por poetas motoristas e o sucumbir de gigantes monarcas. E já agora, o cinema português está de parabéns.

 

10) Lucky

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“Mesmo que Stanton aposte no “realismo” que acabara de definir (“realism is a thing”), e nas verdades entre indivíduos que nunca corresponde uma verdade absoluta, este cantinho transforma-se o seu Éden, prevalecendo memórias e garantido o merecedor descanso eterno. Isto acontece porque o sentido alterou com o contexto, a celebração aos vivos é agora uma dedicada canção para os mortos.”

 

09) A Fábrica do Nada

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“As Máquinas não podem parar, e o Cinema deve acompanhar todo esse processo de auto-sustentabilidade. A Fábrica do Nada, a quarta longa-metragem de Pedro Pinho, é esse conceito simultâneo de fazer cinema e falar de política, um retrato de um activismo em pleno passo de reflexão.”

 

08) Verão Danado

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“A verdade é que o cinema tem ido cada vez mais ao encontro dos mais jovens e, com isso rejuvenescido. E esse rejuvenescimento não é um fator que deva ser ignorado, nem sequer desprezado. Verão Danado exibe os dotes dessa tremenda juventude… até Nuno Melo, quando surge, cobiça esse tão inexistente elixir. Ó tempo, porque não voltas atrás?”

 

07) Logan

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A partir daqui, os filmes de super-heróis possuem o mais derradeiro desafio … ressuscitar após a cerimónia fúnebre cometida por Logan, assinada pelo nosso “tarefeiro” predileto, James Mangold. Hugh Jackman calça as garras pela última vez (assim ele promete) para se entregar de total alma a esta desconstrução, ao intimismo que remonta um classicismo cinematográfico bem ao estilo americano. A morte, essa, é apenas o dedo médio a uma das maldições do subgénero: a modelização a ser absorvida na linha de montagem.

 

06) Get Out

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“É fácil cair no erro de considerar Get Out em mais um arquétipo do "bate e foge" como tem sido claro no cinema deste género. Felizmente, os marcos do género aqui incutidos são um embuste, um disfarce para que Peele consiga difundir a sua mensagem através da sua "voz". Voz essa perturbada com o crescente temor sociopolítico que abraça os EUA pela discussão na "praça pública" de temas que se consideravam "enterrados" há anos. Sim, Get Out é um filme sobre o medo. E é também nesse medo que encontramos o ponto de ebulição e o lançamento de farpas às mob flash politicamente corretas que - à sua maneira - são culpadas pela crescente vaga de populismo e de idealismos do arco-da-velha.”

 

05) La Mort de Louis XIV

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Um objeto violento sobre a morte enquanto estado transgressivo. La Mort de Louis XIV é um filme sobretudo sobre o tempo, essa espera eterna pela queda de um gigante monarca, e o desconhecido que o atenta, a si, e aos seus entes e servos. Depois de três experimentações que resultaram em “híbridos” indigestos da linguagem dos atores, Albert Serra resolve apostar na sua primeira grande Obra (até que enfim um estilo encontrado), neste caso servente de um titã do cinema francês (Jean-Pierre Léaud) a mercê de novos “golpes”.

 

04) Paterson

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“Mas é nessa poesia que recorta os dias de Paterson, assim como a sua mente, uma ode às vozes estampadas nas palavras de muitos, e com especial atenção a obra de William Castle William até porque Paterson (cidade) é um signo da sua própria poesia, mesmo que não queira cair em citações de trechos do seu trabalho. Porque, parecendo que não, o filme de Jim Jarmusch já transborda, por si, essas palavras soltas, unidas numa precisa e bela onomatopeia. Como o filme, achamos que não há melhor maneira de terminar aqui do que citar, por uma última vez a personagem misteriosa: "Sometimes an empty page presents more possibilities".”

 

03) 120 Battements par Minute

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“Fora géneros e orientações, 120 BPM é um filme sobre a celebração da vida e o quanto queremos residir nesse “bailado”. Até a morte, maioritariamente induzida como assombração, revela-se uma celebração quando surge, anunciando a chegada de uma nova etapa. Se a vida é na realidade uma compostura de etapas, daquelas que nos comprometem com novos desafios, objetivos e porque não, amores,120 BPM usufrui desta metamorfose cíclica de forma a estruturar uma narrativa aberta, sem a recolha de moralismos-objetivos, mas o de simular a vida em mudança através do seu ritmo desalinhado.”

 

02) The Tribe

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Um filme-choque. É essa a verdade da sua natureza. Mas por vezes a provocação integra a experiência do cinema e porque não pensar que esta nasceu através da arte de provocar como o comboio filmado que assustou uma multidão na projeção de 1896. Enquanto isso, somos deslumbrados com uma lavagem ousada e politicamente incorreta de um filme ucraniano sobre a repreensão social, sobre as sociedades mantidas e vividas no silêncio que encontram na violência a sua liberta forma de expressão. É cliché dizer isto, mas ... é um soco no estômago.

 

01) Aquarius

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Aquarius é tudo num só, menos um "filme" no seu sentido mais simplista. É uma força de expressão filmada em estado de fúria, mas cuja cólera é registada com sapiência. Ao mesmo tempo é uma "mensagem numa garrafa", uma obra para perdurar para futuras gerações, assim como a cómoda que acompanhou todo uma árvore geracional de Clara. Um retrato subliminar do estado brasileiro que por sua vez conserva a riqueza da cultura de Recife e imortaliza Sónia Braga como a maior das divas do Brasil. Será muito cedo para falar em obra-prima? Muito bem, arrisco em declará-lo como tal. Que venha então a primeira pedra.”

 

Menções honrosas – The Little Men, São Jorge, Ma Vie de Courgette, Silence, War of the Planet of the Apes

Foge quando ainda há tempo!

Hugo Gomes, 03.05.17

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Questões raciais num EUA ideologicamente repreensivo que parece ter encontrado lugar nos discursos de Trump. É cliché afirmar isso, mas é sob esse carvão que “Get Out” se tornou num entusiasmante exercício de série B, um misto entre a correria pela sobrevivência de enésimos filmes de terror e das conspirações à la “The Stepford Wives” (“Mulheres Perfeitas”).

Dirigido por Jordan Peele, “Get Out” repesca o medo da discriminação e da supremacia branca, porém, a reviravolta suscita outras encruzilhadas que parecem fazer frente ao nosso dia a dia. Existe um ponto de identidade e como essa identidade é definida sobre as convenções da sociedade atual; o porquê de regermos os estereótipos étnicos e raciais; e a persistência na ignorância que nos levam a um beco sem saída. Será o racismo parte integrante da nossa condição enquanto ser humano de consciências morais, ou simplesmente um apelo primitivo ao que desconhecemos individualmente?

Para Chris (Daniel Kaluuya) seria simplesmente um fim-de-semana normal na casa dos pais da sua namorada (branca). Contudo, alarmado, o nosso protagonista questiona se ela advertiu ou não os progenitores quanto à cor da sua pele. “O meu pai teria votado em Obama pela terceira vez se pudesse. Ele não é racista“. Foi esta resposta que deixou seguro Chris. Só que tudo não passou de um engodo. A chegada a este “paraíso maioritariamente branco“, uma comunidade onde os negros parecem comportar-se de maneira bizarra, é atribulada e rodeada de suspeição e Chris sente-se uma presa de algo que não consegue explicar.

É fácil cair no erro de considerar “Get Out” em mais um arquétipo do “bate e foge” como tem sido claro no cinema deste género. Felizmente, os marcos do género aqui incutidos são um embuste, um disfarce para que Peele consiga difundir a sua mensagem através da sua “voz”. Voz essa perturbada com o crescente temor sociopolítico que abraça os EUA pela discussão na “praça pública” de temas que se consideravam “enterrados” há anos. Sim, "Get Out" é um filme sobre o medo. E é também nesse medo que encontramos o ponto de ebulição e o lançamento de farpas às mob flash politicamente corretas que –  à sua maneira – são culpadas pela crescente vaga de populismo e de idealismos do arco-da-velha.

Inquietante, suspenso pela sua metáfora que dissipa na atmosférica “wannabe” do clássico enredo do terror corriqueiro, o filme, sob a produção de Jason Blum (o produtor que tem vindo a renovar o cinema de terror com sensações low cost como “The Conjuring”, “Sinister” e “Paranormal Activity”), revela-se um dos seus trabalhos mais metódicos e socialmente relevantes.  

Depois disto, há que referir o óbvio, Daniel Kaluuya dá uma força à fita e Lil Rel Howery é um comic relief tipificado a servir de gelo para um ambiente a ferver. Com isto, “Get Out” é livremente perturbador.

A série B como denunciador social ... recomenda-se!

Hugo Gomes, 20.04.17

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Questões raciais num EUA ideologicamente repreensivo que parece ter encontrado lugar nos discursos de Trump. É cliché, mas sob esse carvão pelo qual Get Out se torna num entusiasmante exercício de Série B, com uma clara mensagem que condensa esse ponto de ebulição e ainda lança farpas à mob flash politicamente correcta que se mantêm hoje em vigor.