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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Dissecando Ney …

Hugo Gomes, 08.05.14

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Para um artista tão teatral e excêntrico como Ney Matogrosso, um documentário biográfico fiel aos cânones do modelo mainstream ou do restritamente televisivo soaria como algo deveras herege e ingrato. Como tal, a obra Joel Pizzini assume desde o primeiro sopro como um retrato expressionista e experimental do célebre cantor brasileiro, artista irreverente cujos seus espectáculos são célebres pelas suas performances interpretativas, da vistosa caracterização que se apresenta e pela sua música transversal e poética sempre em busca da sua própria entidade artística.

“Olho Nu” é um convite irrecusável ao refúgio do homem por detrás de Rosa de Hiroshima e da banda Secos & Molhados, uma proposta em que o espectador se sentirá bem-vindo e intrinsecamente ligado a um artista em constante cumplicidade com a câmara. Um misto de ensaio documental com as imagens de arquivo que estabelecem uma linha cronológica da jornada do artista, Pizzini aposta em recriar o documento mais próximo da aura e carácter de Ney Matogrosso, abraçando os seus devaneios e excentricidades a fim de concretizar um mosaico pessoal, ao mesmo tempo transvestido e ilusório da figura central.

Não existem aqui espaços para dilemas, questões, aprofundamentos temáticos, apenas o retrato de um homem que se fantasia no primitivo, com a Natureza, despindo-se perante preconceitos e pudores para conquistar o lugar vago no selvagem. É que na verdade esta pura brincadeira de artista, experiência sensorial, chega a seduzir o espectador, conforme seja a sua sexualidade ou até gosto musical.

Contudo, reconhece-se que nada disso funcionaria se Ney Matogrosso não fosse o artista completo que se reconhece aos mais diferentes níveis; o legado musical, as performance imparáveis e criativas que emanam o mais natural da alma brasileira, a história de bastidores e a busca pela perfeição como se um próprio objeto de arte se tratasse. Belo à sua maneira, distinto à sua vontade, “Olho Nu” é a confrontação entre duas entidades do mesmo ser – o passado que não volta atrás e ausente de arrependimentos e o presente, como um artista maduro e concreto..