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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

O “espectador primeiro”

Hugo Gomes, 07.09.22

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Marguerite Duras na rodagem de “Le Camion” (1977)

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Jean-Luc Godard na rodagem de “Sauve qui peut (la vie)” (1980)

Jean- Luc Godard: Penso que os espectadores são mais autênticos que os … Quanto a mim, nunca me apoiaram, no entanto, eles me deixaram que me apoiasse. Eles só me acolhem bem quando faço o esforço de ir até eles, de outra forma, deixam-me cair …

Marguerite Duras: Mas concordas que há camadas irredutíveis?

JLG: Sim.

MD: Pensava que éramos da mesma opinião. Aquilo a que chamo o “espectador primeiro”, foi sobre isso que escrevi umas coisas esta manhã: o mais infantil, o mais insignificante no cinema, esse, permanece na sua zona, é autista, procura as violências da infância, o medo da infância, e nada podemos fazer para o demover. Portanto , parece-me que há alguma ingenuidade em acreditar que podemos escrever para muita gente. Às vezes acontece, pode acontecer, mas são acidentes do público.

- Conversa datada de 1979 transcrita no livro “Diálogos: Marguerite Duras - Jean-Luc Godard” (tradução de António Gregório e Joana Jacinto, SR Teste Edições)

... e o Titanic afunda-se!

Hugo Gomes, 28.08.22

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India Song (Marguerite Duras, 1975)

Eu faço pleonasmos constantemente. Acredito que quando digo “o Titanic afunda-se” e o Titanic afunda-se, é muito mais intenso do que não dizer nada. Em “India Song”, a dada altura, disse “há gritos de remadores pelo Ganges”, os chamamentos de barco para barco, de pescador para pescador, e eu digo-o, digo que são os pescadores do Ganges, os ruídos de Calcutá. Enquanto os ouvimos. Depois de os termos ouvido, de preferência , imediatamente a seguir. E isso, sinto-o muito violentamente. Decuplica o som. Mas não há nada mais oposto ao escrito que a palavra magistral. A palavra da lei. Por exemplo, repara, o que eu oporia mais ao escrito, mais do que a imagem, é a palavra política. A palavra do poder.

- Marguerite Duras para Jean-Luc Godard, conversa datada de 1979 transcrita no livro “Diálogos: Marguerite Duras - Jean-Luc Godard” (tradução de António Gregório e Joana Jacinto, SR Teste Edições)