Assalto à Sala Verde
De “Blue Ruin” para o “Green Room”, Jeremy Saulnier persiste no seu percurso por esta América profunda e nada recomendável. Uma faceta negra de um país egocêntrico que tem nos últimos tempos a revelar-se numa ameaça que qualquer “outra coisa”, sim, refiro à ascensão de Trump na política que tem, por fim, dado voz a esta faixa social.
Ambos os capítulos têm em comum a sua violência, quer gráfica, e a intrinsecamente “acarraçada” nas suas personagens. Em “Blue Ruin”, a situação tendia em subliminarmente criar um episódio de caráter violento, enquanto que em “Green Room”, sob uma profunda fotografia verde que automaticamente transportadora para atmosferas mais sombrias dignas dos filmes de terror, concretiza-se como um exercício dessa mesma vertente, o ato da explosão versus a procrastinação paciente. Mas que exercício é esse? “Green Room” é definitivamente mais um filme de cerco, personagens encurraladas que a todo o custo tentam sair do seu imposto (ou acidental) enclausuramento, porém, sob a ameaça de monstros. Contudo, estes monstros são mais reais do que aquilo que se pensa … por outras palavras … temos neonazis do outro lado da porta, à espera para nos desmembrar.
Saulnier brinca aos “wannabes” de John Carpenter, replica “Assault on Precinct 13” e prolonga-se para os pontos definidos do subgénero. A corrida contra o tempo faz-se por essa violência tremenda, nem que para isso transforme homens em maniqueismos automáticos ao serviço de uma agenda de correta política contra esta América Proibida. Se o leitor automaticamente, perante estas palavras, recordou o famoso filme de Tony Kaye [“American History X”] onde Edward Norton é uma figura respeitada de um movimento neonazi, não é por menos, a nova obra de Saulnier interliga-se moralmente a esse dito produto mainstream. É demasiado “moralista” em relação às ideologias básicas das suas personagens, tornando-se na mais pura evidência de que o cinema norte-americano somente precisa de uma suástica tatuada no ombro para personificar / representar o puro mal. Patrick Stewart é em todo o caso, o vilão perfeito para se odiar, mas novamente, um embrião de “América Proibida” em força, a traição do líder perante a força ideológica do movimento que lidera.
Contudo, há que prezar algumas tendências bem aprumadas deste “Green Room”, a urgência de descartar abomináveis criaturas fantásticas para se emergir numa crítica social, por vezes tão totalitarista que os seus mesmos antagonistas. Violência com violência se paga, a enésima catarse da sua animalidade interior, quer com nazis ou não. Enfim, não é a sétima maravilha que se fala por aí.