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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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"Thor: Ragnarok": desconstruindo a perpétua fórmula

Hugo Gomes, 28.10.17

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Não vamos aqui “histericamente” proclamar que este “Ragnarok” é o Filme da Marvel por excelência, como muita da imprensa norte-americana interessada em seguir como insiders os estúdios da Marvel / Disney considera em cada produção lançada, mas poderemos garantir que este era o filme que precisávamos (não totalmente) neste universo cinematográfico.

Era fácil superar os dois standalones anteriores, tendo em conta que “The Dark World” representou tamanha pedra na qualidade narrativa e produtiva destes episódios-fílmicos. Em “Ragnarok”, o neozelandês Taika Waititi (“What We Do in the Shadows”, da série “Flight of the Conchords”) percebeu a tempo que a personagem-título necessitava de um “refresh”, de uma atualização (digamos assim), trazendo com isso consequências e implicações. Primeiro, a autoparódia que preenche o protagonista, tornando-o adaptável para uma variedade estilística. Sim, “Thor 3” é dos poucos que aposta numa divergência de estilo (anteriormente este título era de “Guardians of the Galaxy”), nem que seja pelos cenários deliciosamente coloridos ou da música techno 80 de fazer chorar David Hasselhoff, tudo isto em enquadramento com o nosso “herói”, que subliminarmente é movido por vingança, sentimento primitivo raro neste universo colorido da Disney.

Porém, se ficamos minimamente satisfeitos com este upgrade, por este precioso momento de causa-efeito, e as inconsequências disfarçadas por alguma preocupações de insurreição, “Ragnarok” é para todos os termos uma produção gloriosamente engendrada no seu A a B em linguagem argumentativa, pelo lufa-lufa narrativo e pelas constantes personagens unidimensionais (Cate Blanchett e Tessa Thompson são exemplos disso) que apenas vingam por alguns pormenores irreverentes.

A cobardia da Marvel ao longo de 9 anos é compensada com “passos-coxos” avante, oferece-nos um entretenimento visual com uma noção satírica invejável … ou Jeff Goldblum como o merecedor imperador de uma nação. Já esperávamos isto por muito tempo (não me refiro apenas à iconoclastia de Goldblum), mas aos “ventos de mudança” que entraram no estúdio mais sobrevalorizado dos dias de hoje.

He's a friend from work!"

Novamente à "batatada" pelo Planeta

Hugo Gomes, 23.06.16

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Passemos então para a desforra! Foi um dos maiores êxitos dos anos 90 e uma sequela disto já soava uma miragem, mas é então que surge entre nós aquele que poderá ser o grande regresso de Roland Emmerich aos blockbusters de Verão, isto depois de ter falhado com abordagens mais pessoais em “Stonewall” e “Anonymous”, e no ataque à Casa Branca com Channing Tatum (o público preferiu o muy bronco “Olympus has Fallen”). Estamos obviamente a falar de “Independence Day" (“O Dia da Independência”), título inesperadamente patriótico para a obra de um realizador alemão, mas como os yankees tem por hábito pronunciar – “cheesy” – o suficiente para entreter nas horas vagas. 

Contudo, o trabalho do crítico não é o de aconselhar quais filmes a ver ou a não ver, nem sequer avaliá-los consoante o grau de entretenimento, nesse sentido a palavra divertido é relativo, mas sim lançar o debate e idealizar o filme em questão. Sob esse signo poderemos dizer que o segundo “Dia da Independência” é uma “trapalhice” pegada, que mesmo assim conserva o de lúdico e ingénuo tem este tipo de blockbusters (longe dos tempos da seriedade hoje envolvida nas produções “kind of likeChristopher Nolan). Agora insinuar que é um bom filme desde que se “desligue o cérebro”, é nada mais que uma desculpa esfarrapada de quase querer “vender a mãe”, mas isso são outras guerras, passemos então à guerra transposta pelo filme.

Como sabem, 20 anos se passaram desde a destruidora “visita” dos alienígena na Terra (sim, a sequência da Casa Branca reduzida a cinzas pode muito bem considerado um déjà vu), sendo que o Mundo é agora um espaço simbiótico, onde todos os povos dos quatros cantos do Globo vivem numa total utopia harmónica (ora quanta inocência!). A tecnologia deu um valente “pulo”, como tal, foram concebido postos de vigia intergalácticos (vá os extraterrestres “visitar” novamente o planeta), armas laser (inspiradas no armamento alienígena) e Jeff Goldblum novamente como o cientista que ninguém quer acreditar mas que deveriam apesar de tudo. 

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E pronto, dá-se o segundo round desta invasão que já persegue o Cinema quando este dava os primeiros passos, as criaturas “from outer space” chegam à Terra com promessas de destruição elevado a dez e Roland Emmerich ostenta novamente os seus apetites apocalípticos, e para sermos sinceros, não existe pessoa indicada para destruir a Terra que ele. Contudo, todo este espetáculo é deveras corriqueiro, previsível e extremamente anorético no que requer a construir personagens, conflitos e relações, aliás o primeiro ponto é dividido entre “retornados” e estereótipos, nada mais que isso. É tudo um jogo de referências, réplicas e “brincadeiras” de CGI sob uma conduta implacável de apresentar muito em tão pouco. 

Mas o pior é mesmo a saturação dos efeitos visuais, neste momento a destruição tecnológica apresentada em “Independence Day: Resurgence” leva-nos a temer o pior – como espetador, este tipo de truques são cada vez mais difíceis de surpreender – um mau sinal tendo em conta que as primeiras imagem de uma nave alienígena a reduzir a Casa Branca a “cacos” em 1996 causou uma tamanha euforia no público. A culpa, talvez, não seja da produção de Emmerich, mas do facilitismo (e o lufa-lufa) como também da preguiça em reduzir-se todo a meras imagens CGI que as produções deste género têm cedido. Agora como anexo a este problema exaustivo, basta verificar a quantidade de produções que apresentam imagens de destruição de qualquer tipo de cenário (não andará uma pessoa farta!). 

Eis o enésimo atentado à Terra por Emmerich, que apenas ganha com a sua valente ironia autorreferencial (por pouco não destruiu novamente a tão famosa habitação presidencial), e o facto de ser um blockbuster que tem a perfeita noção daquilo que é, e não mais um “bigger than life” que a Marvel e companhia parece submeter-mos. Para terminar fica a frase do ano, proclamada pelo nosso velho Goldblum, que refere aos ditos E.Ts: “Eles adoram monumentos”.