Trio de Odemira (XI)
Jean-Luc Godard, Jean-Paul Belmondo e Anna Karina durante a rodagem de "Pierrot Le Fou" (1965) / Foto.: Corbis
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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
Jean-Luc Godard, Jean-Paul Belmondo e Anna Karina durante a rodagem de "Pierrot Le Fou" (1965) / Foto.: Corbis
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"- Pourquoi t’as l’air triste?"
"- Parce que tu me parles avec des mots, et moi je te regarde avec des sentiments."
Aos leitores menos dados ao francês (eu incluído, só que a bela fonética trazida por este diálogo o tornou memorável) a tradução fica-se pelo: “Porque estás triste? Porque falas-me para mim através de palavras enquanto eu te olho com sentimentos.” Cena icónica do igualmente “Pierrot le Fou” (Jean-Luc Godard, 1965), o “Pedro, O Louco” em bom português, onde Jean-Paul Belmondo perante a inquietude de Anna Karina lhe questiona sobre o seu estado. O resultado é um apontamento do quão verborreico é o anterior “À Bout de Souffle” / “O Acossado” (Godard, 1960), o homem eternamente cansado, que passou de embrião policial a clown de prestígio no cinema francês.
Havia qualquer coisa nele, um misto de brilho popular e em parte vulgar com um certo classicismo de mancha. Belmondo, em todo o caso, não pertencia à França, nem mesmo à vaga que se tornou símbolo prematuro, era uma figura desajeitada e totalmente inspirada nos galãs hollywoodescos. Godard reconheceu e muito esse seu jeito, tornando-o num “fura-vidas” com ambições de vidas maiores que a sua e gesto a mimetizar os seus heróis feitos, como Humphrey Bogart, por exemplo. Mas cedo ele soube separar-se … quer dizer tentar … da Nouvelle que o envolveu, e apostando numa aproximação ao grande e diversificado público francês, foi investigador, malandro a incurável romântico, de velho ressabiado a doido varrido, homem-criança ou mulherengo tardio, tudo isto num só corpo, num só gesto, num só paleio.
E é com tristeza que chegamos a este ponto de consolidada derrota: se há uns anos os sentimentos desvaneceram (nunca esquecerei aquela face triste de uma envelhecida Anna Karina perante as mesmas imagens que vos falo, exibidas no Grand Lumiêre Theater, em Cannes de 2018), desta feita foram as palavras que emudeceram. Belmondo já não mora mais aqui, entre os comuns dos mortais, mas continua a abundar numa tradição, a do cinema francês, e para todas as classes. No final, imaginando aquele plano derradeiro de “O Acossado”, com o ator estendido no asfalto, observado como um raro espécimen se tratasse. Na altura, a queda de um homem que tatuava em si um legado cinematográfico faz-de-conta, simbolizando com isto o fim de uma era, ora dourada, ora acorrentada ao seu próprio fascínio industrial, para dar início a uma fase de desconstrução e de um novo cinema a surgir hiperativamente entre pulsações.
Neste momento, aquele mesmo corpo caído, derrotado e traído, é uma metáfora distante que adquire um novo significado, menos tido a manifestos estéticos ou formais, e mais próximo ao seu velcro – o Magnífico Jean-Paul Belmondo.
Esta é a minha homenagem.
Jean-Paul Belmondo (1933 - 2021)
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Hoje, dia de São Pedro, recordo alguns 10 Pedro(s) célebres do Cinema. E para vocês, qual "Pedro" destacaria na lista?
Peter Sellers, ator de “Dr. Strangelove” e da saga “The Pink Panther”
"Pierrot, Le Fou" (Pedro, O Louco), filme de Jean-Luc Godard com Jean-Paul Belmondo e Anna Karina
Peter Lorre, ator de "M", "Casablanca" e "The Man Who Knew Much"
Peter O'Toole, ator de "Lawrence of the Arabia" e "Venus"
Peter Weller, ator de "Robocop" e "Naked Lunch"
Pedro Almodovar, cineasta de "Pain and Glory", "All About My Mother" e "Women on the Verge of a Nervous Breakdown"
Pedro Costa, realizador de "Vitalina Varela" e "Quarto da Vanda"
Peter Cushing, ator de "Star Wars" e vários títulos da Hammer
Peter Weir, realizador de "The Mosquito Coast", "Truman Show" e "Picnic at Hanging Rock"
Peter Bogdanovich, realizador de "The Last Picture Show" e "Paper Moon", um dos responsáveis pela conclusão de "The Other Side of the Wind", de Orson Welles
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Michel Poiccard (À Bout de Souffle, 1960) assim como a “oitava maravilha do Mundo” King Kong são “criaturas” fora do seu habitat natural que deambulavam numa selva de asfalto em busca de uma salvação possível, sob a conveniência de salvaguardar o seu projectivo romance. Ambos foram traídos pelo que mais amavam, consequentemente fuzilados à queima-roupa, sendo o alcatrão, o seu improvisado túmulo. A multidão cerca-os de igual forma nos dois casos.
Os diálogos finais e últimos atos pouco diferem, mas cujas divergências poderiam ser trocadas que mesmo assim preservariam o exacto simbolismo. Enquanto que na leva de Poiccard facilmente ouvir-se-ia “It was beauty killed the beast”, e no caso do símio “Qu'est-ce que c'est, "dégueulasse"?”.
Mas a cerimónia fúnebre está longe da convergência. Num deparamos com a morte da besta, enquanto que o outro é a morte do cinema clássico e a longa vida para o cinema moderno.
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À Bout de Souffle / Breathless (Jean-Luc Godard, 1960)
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